O filme “A sombra de Stalin” está conquistando corações e fomentando debates acerca de Holodomor e o genocídio feito por Stalin, em nome de uma suposta revolução. Quando o roteiro do filme foi apresentado a diretora polonesa Agnieszka Holland, ela não se empolgou muito com a ideia pois, segundo Holland, “os crimes nazistas foram reconhecidos como crimes contra a humanidade, mas os de Stálin acabaram esquecidos e perdoados”.
Após uma intensa reflexão, ela decidiu dirigir o filme, pois se deu conta que é mais uma ferramenta para esclarecer como foi ‘injusta e perigosa’ as decisões do chamado partidão: “Injusta para as vítimas que estão até hoje anônimas e sem voz” e,
“Deixar de contar essa história seria perigoso porque, quando não aprendemos a lição, os erros podem se repetir.” Mas os erros que estão na mira da roteirista e da diretora não são os do ditador soviético, e, sim, os de Walter Duranty, então correspondente do jornal The New York Times e “rei dos expatriados” em Moscou. – Folha de SP.
E Holland não está errada quanto aos crimes do comunismo serem perdoados. Embora essa ideologia nefasta tenha matado mais que o nazismo, segundo o site “Senso Incomum”, os usuários responsáveis por manter a Wikipédia não gostam do fato de que regimes comunistas assassinaram mais de 100 milhões de pessoas e, portanto, querem excluir o artigo “Assassinatos em massa sob regimes comunistas” da plataforma. O grupo acusa o texto de apresentar um ponto de vista “anticomunista” tendencioso. Isso é reescrever história e vilipendiar os cadáveres produzidos pelo comunismo.
Gareth Jones se viu entre a cruz e a espada quando o descredibilizaram ao narrar tudo o que presenciou Ucrânia. O responsável pelo assassinato de reputação de Gareth? O jornal The New York Times.
O jornalista, mesmo achincalhado pela sociedade, decidiu revelar a sua verdade ao mundo: “Se eu escrever a história, milhões de vidas podem ser salvas”. Em partes, ele estava certo. Nos deu um registro exato da podridão que presenciou. Mas isso custou a sua vida.
Tudo começou em 1933, quando Gareth Jones, de 27 anos, viajou à União Soviética com a esperança de conseguir uma entrevista com Stalin. Ele defendia aliança com Stalin para derrubar Hitler. Segundo Jones, Stalin “opera milagres”.
Jones tinha em seu currículo, entrevista com Hitler, Goebbels e outras personalidades da Segunda Guerra Mundial, mas nutria por Stalin uma admiração sui generis que na qual se desfaz no decorrer da trama.
Ao chegar em Moscou, Jones se encontra com Walter Duranty, um jornalista conhecido, ganhador do prêmio Pullitzer, correspondente do The New York Times em Moscou e renomado no Kremlin que percebe as intenções de Jones – de se aprofundar na história do ‘grão de ouro’ de Stalin – e alerta o jornalista que seu colega, Paul Klebb foi morto em circunstâncias estranhas, após questionar os números divulgados pelo Regime e mostrar interesse especial pela Ucrânia.
Instigado, Jones resolve ir clandestinamente para Ucrânia, para conhecer o sistema de produção agrícola tão enaltecido por Stalin. Porém, no caminho do trem, Jones percebe que há algo de muito errado, quando passageiros oferecem roupas e ajuda em trocas de migalhas.
Ao chegar na Ucrânia, Jones tentou se juntar aos demais e carregar os caminhões com os grãos e, é descoberto, quando questiona para onde vão os grãos roubados da região.
Em meio a corpos caídos no meio da rua e meio fio, mortos dentro de casas, Jones inicia uma luta pela sobrevivência. Ele tenta registrar o maior número de fatos possíveis.
Quando percebeu a decadência que Stalin transformou a Ucrânia e, se dá conta que terá que racionar cada grão de comida que ele trouxe, um grupo de crianças aparece e proclama um poema:
“Stalin sentado em seu trono, tocando violino. Ele olha para baixo e franze a testa para nosso país que doa pão. Ó violino, feito de noz e arco de arruda. Quando ele dá as ordens, nós escutamos em todo o país e, tão forte ele tocou, tão forte ele tocou, tão forte ele tocou, que arrebentou as cordas. Muitos morreram, poucos sobreviveram. A fome e o frio estão na nossa casa, sem nada para comer, sem lugar para dormir. E o nosso vizinho, enlouqueceu e comeu os próprios filhos”.
Quando estava registrando o momento, as crianças roubaram a sua bolsa, que continha seus alimentos.
Com isso, Jones teve que apelar para os sobreviventes da região e, ao ser convidado por algumas crianças para jantar, ele descobre que está se alimentando da carne do irmão mais velho delas.
Jones experenciou o canibalismo, violência extrema e censura absoluta para que ninguém soubesse o que de fato, estava acontecendo no país falido pelo socialismo.
O Regime localiza Jones e leva de volta a Moscou. Em meio a chantagem, o regime soviético, diz que os engenheiros – presos da mesma forma que Jones – somente retornarão com vida ao seu país, se Jones mentir e dizer que as fazendas coletivas são supereficientes, que o regime de Stalin é um sucesso e não há fome ou desespero no modelo adotado.
Quando voltou para o Reino Unido, Jones convoca uma coletiva e conta a chantagem que o Kremlin fez a ele: “Os seis cidadãos britânicos que creio serem inocentes estão sendo usados como peça de barganha por Moscou. Se nós, no Ocidente, nos rendermos a esta chantagem, estaremos potencialmente permitindo uma catástrofe sem precedentes. A União Soviética não é o ‘paraíso dos trabalhadores’ que foi prometido. Não é o ‘grande experimento’ que vocês leem nos jornais. Stalin não tem nenhuma nova conquista impressionante, a menos que considerem matar milhões de pessoas inocentes, uma conquista. Não se enganem. Se o deixarmos ficar impune por essa fome causada de propósito haverá outros como ele. Muito obrigado”.
O The New York Times foi um dos primeiros jornais a se colocar contra Jones e ‘desmentir’ a história dele, pouco se importando com a fome que assolava o país oriental.
Por causa da coragem de Jones, uma crise diplomática explodiu entre o Oriente e o Ocidente. O jornalista era assessor internacional de David Lloyd George, ministro das Relações Internacionais de Roosevelt.
Em troca dos engenheiros que estavam sendo usados como moeda por Moscou, a Casa Branca reconheceu a União Soviética. O responsável pela negociação foi Duranty. O presidente era Franklin Delano Roosevelt.
Por fim, Jones conseguiu publicar a sua história, mas em agosto de 1935, enquanto fazia reportagens na Mongólia, Gareth foi sequestrado por bandidos. O guia que estava com ele era ligado a Polícia Secreta Soviética. Ele foi assassinato.
Já Duranty morreu aos 73 anos e, mesmo escondendo todo o massacre que Stalin cometeu, ele nunca perdeu o prêmio Pullitzer.
Uma curiosidade:
Andrei Romanovich Chikatilo (Lablotschnaia, RSS da Ucrânia, 16 de outubro de 1936 – Rostov do Don, Rússia, 14 de fevereiro de 1994) foi um assassino em série soviético, de origem ucraniana, conhecido como Açougueiro de Rostov, O Estripador Vermelho e O Estripador de Rostov. Se tornou notório por confessar o assassinato de 53 pessoas entre 1978 e 1990.
Chikatilo teve que comer seu irmão mais velho quando criança. Ele foi assassinado e servido pelo vizinho durante a fome imposta por Stalin.
“Conhecerás a verdade e a verdade vos libertará.”
Meu Deus! E como ainda tem gente que não acredita que isso aconteceu????