É importante destacar que a situação da Venezuela é considerada pela grande maioria da oposição brasileira como um caso de estudo crucial.
Recentemente, Gustavo Silva visitou o Brasil em representação do Comando com Venezuela para entregar aos representantes do Congresso o Relatório Técnico Eleitoral e os originais físicos das atas relacionadas às eleições de 28 de julho de 2024. Nessa eleição, Edmundo González Urrutia foi eleito com quase 70% dos votos.
O enviado de Caracas foi recebido por uma ampla gama de deputados e senadores de diferentes partidos, que lhe fizeram várias perguntas sobre o processo eleitoral, o resultado, os desafios técnicos enfrentados pelos venezuelanos naquele dia e a segurança de Maria Corina Machado.
É importante destacar que a situação da Venezuela é considerada pela grande maioria da oposição brasileira como um caso de estudo crucial. Nosso sistema eleitoral permite o voto impresso e sua contagem pública. No dia 28 de julho, os venezuelanos organizados no Comando com Venezuela se estruturaram de uma forma tão específica e inédita que conseguiram superar os obstáculos da tirania e obter 85% das atas. Essa ação cidadã resultou na validação indiscutível da vitória do candidato democrático frente ao regime tirânico, algo que agora é claro para as forças políticas democráticas da região.
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A partir disso, surgiram diversas propostas. Assim como na Colômbia, na Espanha e no Chile, as forças democráticas do Poder Legislativo brasileiro assumiram um papel ativo na defesa do Estado de Direito na Venezuela e do desejo dos venezuelanos de viver em liberdade e ordem. A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados realizará uma audiência pública para discutir o relatório técnico e as atas originais, que puderam ser revisadas pelos parlamentares. Espera-se que, nesse espaço, surjam iniciativas a serem enviadas ao Ministério das Relações Exteriores.
#ULTIMAHORA 🇧🇷🇻🇪Las actas de la victoria serán discutidas la semana que viene en audiencia pública de la Comisión de Relaciones Exteriores y de Defensa Nacional (CREDN) de la Cámara de Diputados de Brasil.
— Roderick Navarro (@RoderickNavarro) November 28, 2024
1. El anuncio lo hizo el presidente de la Comisión, el Diputado… pic.twitter.com/C9vxQ9Y0dz
Além disso, surgiu a ideia de que um grupo de senadores e deputados se reunisse com o presidente Lula da Silva para apresentar o relatório técnico e as atas originais. É curioso que essa proposta tenha sido feita pelo senador Flávio Bolsonaro, em uma coletiva de imprensa convocada pela senadora Tereza Cristina, junto com outros 17 senadores de diversos partidos.
Lembremos que tanto Lula quanto seu assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmaram publicamente que não conhecem essas atas da oposição. Se isso se concretizar e Lula reconhecer as atas, seria um ato de união política nacional comparável apenas à colaboração entre democratas e republicanos no Congresso dos Estados Unidos em torno da crise venezuelana. Finalmente, outras iniciativas podem surgir também pela Câmara do Senado. De fato, a visita de Gustavo Silva foi uma vitória para todos os venezuelanos, especialmente após atores alinhados ao discurso chavista terem iniciado uma campanha de difamação no Brasil contra a luta pela libertação do nosso país.
No entanto, no meio desses acontecimentos, há uma bomba-relógio. Desde março de 2024, vários venezuelanos estão asilados na embaixada da Argentina em Caracas: Pedro Urruchurtu, Magalli Meda, Humberto Villalobos, Claudia Macero, Omar González e Fernando Martínez. A tirania assediou os representantes do governo argentino até expulsá-los, o que levou o governo de Javier Milei a solicitar ao governo do Brasil que assumisse a proteção de sua embaixada em Caracas, assim como aconteceu em 2001, quando o Brasil protegeu a embaixada da Argentina em Lima, no Peru.
A ilegitimidade do resultado eleitoral a favor de Nicolás Maduro é tão evidente que nem o próprio Lula pode reconhecê-la. Esse fato provocou uma fratura nas relações entre o Brasil e a Venezuela, o que gerou consequências internas no Brasil. Por isso, Maduro intensificou suas ações de assédio contra os asilados na embaixada. No momento em que escrevo este artigo, já se passou uma semana desde que a polícia política destruiu as instalações elétricas do edifício da embaixada, e 48 horas desde que a empresa pública de fornecimento de água suspendeu o abastecimento ao edifício. Além disso, os arredores do edifício estão cercados pela polícia política, impedindo o fornecimento de água a essas pessoas. Em resumo, trata-se de um cerco vil.
A tirania se recusa a fornecer os salvo-condutos para que o governo do Brasil retire os asilados políticos. Essa ação desumana coloca em risco a vida dos venezuelanos ali refugiados. Se algo lhes acontecer, as consequências políticas para Lula serão extremamente complicadas, especialmente dado seu crescente nível de impopularidade, consequência do enfraquecimento da economia devido às políticas de seu governo.
A oposição no Congresso pode pressionar o Ministério das Relações Exteriores para que adote uma postura mais firme diante dessa situação e coloque o Brasil como mediador efetivo. A união de todas as forças políticas pela pacificação da Venezuela traria grandes benefícios para o Brasil, começando por frear o êxodo de mais de 500 venezuelanos que chegam diariamente pela fronteira de Pacaraima, em Roraima.
Mas o tempo corre. A cada hora que passa, é uma hora a mais de sede, sem luz nem alimentos na embaixada da Argentina em Caracas: a bomba-relógio entre o Brasil e a Venezuela.