PHVOX – Análises geopolíticas e Formação
Anderson C. Sandes

A arte de criticar obras: aprenda com Machado de Assis

Machado de Assis publicou, em 1865, um texto chamado O Ideal do Crítico, no Diário do Rio de Janeiro [baixe o texto aqui]. Em tal texto Machado ensina as grandes virtudes que um crítico deve ter, a fim de ajudar na renovação das letras nacionais, consolidar e corrigir os bons artistas e animar os iniciados nas artes poéticas. O que um crítico deve evitar, segundo Machado:

O PHVox depende dos assinantes, ouça o áudio abaixo. Conheça os benefícios, Assine!

http://phvox.com.br/wp-content/uploads/2023/05/O-PHVox-Precisa-de-Voce.mp3

— A camaradagem e a adulação, que privilegiam os mais próximos e gera injustiça.

Isso podemos ver bem descrito na obra do Honoré de Balzac, Ilusões Perdidas, onde críticos literários sabem que podem alavancar a carreira de um escritor, ou destruí-la. Por isso, muitos têm escritores bajuladores em seu entorno, para ganhar seus favores. Dessas injustiças surgem grandes porcarias literárias, aclamadas pelos críticos, editores e imprensa, fruto de fingimento, de mentira, de engano, como já comentava Arthur Schopenhauer em “Sobre a leitura e os livros”, na obra A Arte de Escrever [leia aqui a minha resenha da obra]:

“Nove décimos de toda a nossa literatura atual não têm nenhum outro objetivo a não ser tirar alguns trocados do bolso do público: para isso, o autor, o editor e o crítico literário compactuam.”

— O ódio e o favoritismo por escolas literárias e estilos, que tornam a crítica parcial.

Todos temos nossas correntes de pensamento, teológicas, políticas e literárias de preferência, mas precisamos suspender tais favoritismo para sermos justos em nossas críticas.

— A incoerência e influências externas, como modismos, que tornam o crítico contraditório, fazendo com que perca a autoridade.

É preciso coerência e consistência nas análises. Sabemos que é normal mudarmos de opiniões — e até mesmo os gostos — ao longo do tempo, mas que isso não seja levado por meros modismos.

Resumo das virtudes necessárias para o crítico ideal:

Sinceridade e convicção, ainda que isso dificulte a sua carreira, o crítico deve ser sempre honesto consigo mesmo, sem esperar por sorrisos alheios.

Independência e imparcialidade: o crítico precisa ser livre da própria vaidade e da vaidade dos outros, não permitindo levar-se por suas paixões.

Tolerância e urbanidade (cordialidade): a tolerância corrige e encaminha a consciência do crítico, que deve ser cordial em suas palavras, para que dirija e influencie da melhor forma. “[…] o crítico deve ser delicado por excelência”, diz Machado.

Perseverança e competência: saber a matéria em que fala, procurar o espírito mais profundo das obras, aprofundar-se nas mesmas com honestidade.

Machado finaliza o seu texto na confiança de que, com a renovação da crítica, haveria renovação na arte: “Se esta reforma, que eu sonho, sem esperanças de uma realização próxima, viesse mudar a situação atual das coisas, que talentos novos! que novos escritos! que estímulos! que ambições! A arte tomaria novos aspectos aos olhos dos estreantes […]”

De forma bela, Machado parece se importar muito com o ânimo e o estímulo aos iniciados nas artes poéticas, bem como no estabelecimento de boas obras. Ao sabermos julgar bem as obras, ainda que não de modo profissional, podemos contribuir para uma reforma — quiçá renovação — da literatura de nossos tempos.

Pode lhe interessar

O feminismo totalitário converteu-se numa ameaça para as mulheres

Jose Carlos Sepulveda da Fonseca
20 de abril de 2021

Por que um mandado de prisão foi emitido contra Vladimir Putin

Danielly Jesus
17 de março de 2023

Pequeno gigante

Anderson C. Sandes
6 de julho de 2023
Sair da versão mobile