Cativo entre os tamoios se encontrava
O jovem jesuíta Padre Anchieta,
Enquanto alguma paz se negociava
Entre lusos e francos, numa treta
Travada em território brasileiro.
Sequiosos, os selvagens, de vendeta,
Tramavam contra o padre o tempo inteiro,
Agindo, atrozes e ameaçadores,
Pra arremessar-lhe a alma num braseiro.
Tentavam incutir-lhe mil pavores,
De morte e de tortura o ameaçando,
Enquanto ia o pobre padre as dores
Da fome e dos maus tratos vivenciando.
No entanto, resistia inabalável
O heroico jesuíta, mesmo quando
O fim lhe parecia inevitável.
Tramaram nova tática os gentios,
E, simulando um trato mais amável,
Tentaram corromper-lhe a fé e os brios.
Banquetes com cauim lhe ofereceram,
E belas virgens para compadrios,
Porém, nem mesmo assim arrefeceram
Sua fé, e então, pela primeira vez,
Seu misterioso Deus alguns temeram.
Diante de tamanha solidez
De fé, as penas foram-lhe abrandadas,
E o prisioneiro, pescador se fez:
Na mata, missas eram oficiadas,
Entre onças, cascavéis, sabiás e anus,
E as almas dos indígenas fisgadas
Aos poucos iam sendo pra Jesus.
Ainda mais espanto lhes causou,
Quando, inspirado por divina luz,
As areias da praia registrou
O santo jesuíta seis mil versos
À Mãe de Deus, que lhes apresentou
E em cuja caridade os pôs imersos,
Advindo dessas epopeias santas
Mais um sem-número de féis conversos.
A paz, enfim, chegou depois de tantas
Negociações, triunfando, gloriosos,
Os lusos sobre os francos sacripantas.
Nem lá nem cá, porém, mais poderosos
Saíram-se os soldados aguerridos
Que Anchieta, em seus trabalhos caridosos,
Tendo feito os tamoios convertidos!