Uma das principais estratégias do movimento revolucionário é a inversão hierárquica entre os campos das ideias e da realidade, seja esta inversão aplicada numa dimensão global ou mesmo mais localizada.
Como explica Alexandre Costa em sua importante obra Introdução à Nova Ordem Mundial (Vide Editorial, 2015, p. 92), as frentes revolucionárias concentram seus esforços em reposicionar as ideias (individuais e coletivas) acima da realidade. Assim, a ordem natural é invertida: a realidade, como base de sustentação para qualquer concepção de ideia, “perde” seu lugar hierárquico às ideias. Neste sentido, as ideias é que passam a ser o sustentáculo das “realidades”, embora todas ficcionais. O resultado desta troca é a criação de “múltiplas realidades”, a fim de atender diversificados gostos pessoais e desejos coletivos, jamais atingíveis numa ordem natural preservada.
As Ideias têm Consequências (Richard M. Weaver, É Realizações, 2016) é outro livro que apresenta cenário semelhante. Bruno Garschagen, que faz a Apresentação da obra (p. 7), amplia no leitor a percepção do horizonte destrutivo causado pela inversão hierárquica entre realidade e ideia. Ao descrever o cenário das ideias como fundamento para a criação de toda e qualquer “realidade”, esta passa a ser concebida segundo os sentidos, banindo qualquer construção do real a partir do intelecto. Assim é que os desejos, os sentidos, as emoções e as paixões, por exemplo, passam a ser os (des)norteadores a conduzir a humanidade na formação “da(s) realidade(s)”, aderente(s) a cada gosto pessoal ou coletivo.
Transportando estes conceitos para algo mais próximo do nosso cotidiano, quando o movimento pró-aborto considera uma vida em gestação como uma não-pessoa, um não sujeito de direitos, um não ser vivo, um amontoado de células, algo em potencial de existência, nada mais está que produzindo uma “realidade” paralela, que não condiz com A única realidade, que independe das ideias do homem e que é existente por si só, pois fundamentada na fonte de verdade superior. Arvorando-se na sua própria pequenez, o homem passa a ser seu próprio sacerdote (As Ideias têm Consequências, p. 14), detentor de uma falsa “verdade universal”.
Ainda mais grave é para a humanidade quando todos são forçados a aceitar esta nova “realidade paralela” (em muitos casos sendo criminalizados se assim não o fizerem!), o que nos leva à anarquia que ameaça o consenso mínimo dos valores morais humanos. De forma a evitar este cenário anárquico, qualquer ação que promova a pauta pró-morte, seja por quaisquer motivos e por mais proclamada que seja o pretenso direito, a liberdade ou a dignidade, não deve sequer ser ponderada. Pelo contrário: deve ser terminantemente rejeitada, pois falha na origem, ao falsificar a realidade concreta.
A anarquia causada por estas ideias revolucionárias – que dão origem a realismos imaginários psicóticos –, deve ser considerada como uma das principais fontes de erros, graves injustiças e incoerências praticados e disseminados na humanidade, principalmente nos últimos séculos.
Todo o esforço das ações pró-vida em salvar os bebês em gestação faz parte da defesa das bases fundantes da sociedade ocidental, como tentativa de reposicionar a ordem natural do progresso humano, onde as ideias (conhecimento, ciência etc.) estão fundadas na realidade objetiva.