O regime de Maduro não precisa de Lula. Ele mostrou que pode comprar grupos de esquerda no Brasil diante do declínio de sua liderança e do PT. Por outro lado, Lula precisa de Maduro por causa do que a Venezuela representa geoestrategicamente para o Foro de São Paulo e para os interesses da esquerda radical.
As relações do chavismo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) evoluíram ao longo destas duas décadas. É importante destacar que desde a tirania de Hugo Chávez a soberania territorial foi entregue a este grupo para a criação de células de extrema esquerda no país. Recentemente, Nicolás Maduro somou a isso a entrega de 10.000 hectares no estado de Bolívar, fronteiriço com o Brasil, em detrimento da agricultura familiar venezuelana e dos agricultores que sofrem as consequências devastadoras do chavismo. No contexto do roubo das eleições contra Edmundo González Urrutia em 28 de julho, onde o Itamaraty do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não reconheceu o resultado, esta ação do chavismo com o MST é uma provocação.
O MST esteve envolvido nas eleições de 28 de julho, assim como Celso Amorín, assessor especial da Presidência do Brasil para assuntos internacionais, mas o MST, sendo um grupo político que não tem as formalidades do Estado, fez um vídeo de Caracas em apoio a Maduro. Esta ação rendeu-lhe financiamento e território na Venezuela para o crescimento dos seus objetivos revolucionários, que representam um ataque à soberania da Venezuela e uma ofensa aos produtores agrícolas do país.
Em contrapartida, o MST tem criticado a posição do Itamaraty de não reconhecer os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Nesse sentido, o líder do MST, João Pedro Stédile, disse que a Venezuela não é uma ditadura e não está isolada com a “reeleição” de Maduro. O chavismo, ao fazer o MST dizer essas coisas e dar-lhe projeção internacional, pressiona Lula no Brasil num momento em que ele não atua para manter o MST em sua base de apoio. Lula precisa do Congresso para manter a estabilidade de seu governo e a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) conta atualmente com mais de 300 membros, entre deputados federais e senadores. A FPA rejeita o MST por ser hostil à agricultura no Brasil, destruindo suas propriedades, invadindo suas terras, causando estragos materiais e por promover um padrão político que desestimula o desenvolvimento, promove a insegurança e a miséria nas áreas rurais. O chavismo sabe disso.
Além dessa pressão sobre o MST, o procurador-geral da Venezuela, o chavista Tarek William Saab, afirmou em programa de opinião que Lula era porta-voz da CIA assim como o presidente do Chile, Gabriel Boric. Saab disse ainda que “Lula não é a mesma pessoa que saiu da prisão, não é o mesmo em nada, nem fisicamente nem na forma como se expressa”. Depois de 48 horas se expressando desta forma ofensiva, o chavismo afirmou em comunicado através do Itamaraty que esta não era a opinião do Executivo nacional, mas sim a opinião pessoal do promotor, que Saab posteriormente confirmou em seu relato sem retratar também o que foi dito contra Boric. Em 48 horas, esta declaração causou estragos na mídia nacional brasileira, destacando a posição fraca de Lula contra Maduro depois de 28 de julho e uma política externa do governo federal que também envergonha os brasileiros de esquerda e de centro.
Apesar de tudo isso, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, havia afirmado no último fim de semana que o governo pretende gastar até 450 milhões de reais na compra de terras por meio do programa Terra da Gente, lançado em abril, como mecanismo do governo para desencorajar a invasão da propriedade privada promovida pelo MST. Conseguirá o governo brasileiro resistir às manobras do chavismo para pressioná-lo?
O regime de Maduro não precisa de Lula. Ele mostrou que pode comprar grupos de esquerda no Brasil diante do declínio de sua liderança e do PT. Por outro lado, Lula precisa de Maduro pelo que a Venezuela representa geoestrategicamente para o Foro de São Paulo e pelos interesses dos radicais, antissemitas e do tráfico de drogas que restam na região.
Será que a direita brasileira, não porque se preocupe com o futuro dos venezuelanos, conseguirá pelo menos aproveitar esta situação até 2026?