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Como o TikTok é usado para recrutar menores para a guerrilha na Colômbia

As redes sociais são cada vez mais utilizadas por organizações ilegais na Colômbia, especialmente por grupos como o Estado-Maior Central (EMC), principal “dissidência” das FARC, para difundir propaganda e mensagens fraudulentas sobre o conflito.

Bogotá, 8 de outubro (EFE).- Vestidos com uniformes militares e pulseiras dos “dissidentes” das FARC, supostos membros dessa guerrilha aparecem em treinamentos no TikTok ou em funerais em áreas rurais da Colômbia , enquanto nos comentários de suas publicações números de telefone aparecem, abrindo uma nova e perigosa forma de recrutamento, segundo as autoridades policiais.

As redes sociais são cada vez mais utilizadas por organizações ilegais na Colômbia, especialmente por grupos como o Estado-Maior Central (EMC), a principal “dissidência” das FARC, para difundir propaganda e mensagens fraudulentas sobre o conflito.

Supostos integrantes dos Comandos de Fronteira, da Segunda Marquetália e do Exército de Libertação Nacional (ELN), entre outros, também publicam conteúdo.

Numa plataforma como o TikTok, em que o usuário ‘ensina’ ao algoritmo o conteúdo de seu interesse, é muito fácil fazer com que ele exiba publicações de supostos guerrilheiros, com mensagens pedindo desculpas aos grupos armados ou mesmo elogiando a produção de cocaína, com imagens explícitas do processo.

Tudo isso acompanhado por centenas de usuários que comentam seu interesse em ingressar nas fileiras da guerrilha ou do tráfico de drogas. “Como (sic) é que se vai trabalhar nisso?”, “Quero entrar”, “como seria (sic) aderir” ou “Quero ir como está (sic)” são as mais frequentes. .

A Polícia e a Provedoria de Justiça já alertaram para o perigo que estas campanhas online representam para o recrutamento forçado, especialmente de menores.

“O recrutamento de meninos, meninas e adolescentes constitui um crime de guerra e uma grave violação do Direito Internacional Humanitário, as redes sociais não podem tornar-se instrumentos para incentivar estas práticas”, denunciou em abril passado a conselheira presidencial para Direitos Humanos e DIH, Lourdes Castro García.

A Polícia emitiu um aviso sobre este tipo de recrutamento, indicando que já existem 101 menores capturados pelas redes.

Luxo e violência

Armas de longo alcance, produtos de luxo, caminhões de última geração ou maços de dinheiro e funerais pomposos são alguns dos elementos de que estes grupos se vangloriam para transmitir aos mais jovens uma mensagem distorcida dos “espólios de guerra”, ao mesmo tempo que glorificam a violência e vendem uma ideia de camaradagem e pertencimento que, no meio rural, deslumbra quem se sente sozinho ou sem futuro.

Uma parte significativa deste conteúdo de guerra vem dos departamentos de Cauca, Valle del Cauca, Nariño, Putumayo ou Huila, dependendo da localização partilhada pelos criadores, e onde a violência aumentou nos últimos meses.

“O ruído, a desinformação, a poluição beneficiam-nos”, afirma Mario Morales, diretor do Observatório de Mídia da Universidade Javeriana, que considera que o uso das redes sociais no conflito e nos processos de paz na Colômbia “tem sido particularmente decisivo, para melhor e para pior.”

Por um lado, “boa parte da informação específica sobre o conflito chegou através das redes”, o que permite uma maior divulgação, mas estas “são palco de ‘fake news’, de linguagem de ódio (…) o caldo de cultivo do ódio e da desinformação que gera esse ambiente de confusão para o cidadão comum”, afirma.

“Através das redes sociais fazem-se propaganda e ideologização” e, normalmente, os cidadãos dão-lhes uma credibilidade “que não sabemos se merecem”, continua Morales, que destaca que usam a “emocionalização” para se conectarem com quem está na rede social. outro lado.

Crimes e ilegalidade

As redes tornaram-se o cenário perfeito para a ilegalidade, uma vez que o controle pelas plataformas não é exaustivo e as autoridades ainda não tomaram medidas para além dos alertas emitidos. Embora muitos vídeos sejam excluídos pelo próprio TikTok por descumprimento de suas políticas, outros permanecem.

Além do recrutamento, utilizam as redes para ‘legitimar’ os seus métodos, por exemplo, o financiamento, “que os grupos insurgentes tiveram muito cuidado no passado”, mas agora mostram descaradamente o tráfico de drogas, analisa o especialista.

Também é comum encontrar neste tipo de publicações mensagens do Movimento Nacional de Mães e Mulheres pela Paz, que denuncia o recrutamento de menores e exige a sua libertação.

É o caso de Jhojan Alexis Ramírez, recrutado em 21 de agosto em Jamundí (Valle del Cauca), ou de Melanie Cuchimba, recrutada em La Plata (Huila) em 6 de setembro, depois que seu pai a deixou na escola.

“Deve haver vontade política por parte das autoridades” para “combater estas manifestações e não deixá-las como lógica do conflito”, diz Morales, algo que é difícil no contexto dos processos de negociação, uma vez que “a perspectiva de paz às vezes incapacita as intenções de conter esse tipo de coisa.”

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