PHVOX – Análises geopolíticas e Formação
Anderson C. Sandes

Crianças adultas e adultos criançolas

O maior poema do poeta romano Horário chama-se Arte Poética. Trata-se de uma obra recheada de conselhos sobre poesia e teatro, em formato de carta, dirigida aos irmãos Pisões. A partir do verso 153, o poeta aconselha que os personagens de uma obra tenham um caráter e comportamento adequados às suas respectivas idades.

Bem, parece que a vida não anda muito a imitar a arte, pelo menos não aos conselhos do velho Horácio: “Nunca se entrega um papel senil ao jovem, viril ao menino; sempre se cose o melhor caráter da idade adequada”. Para apimentar a reflexão, evoco o apóstolo Paulo: “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.” (1 Coríntios 13:11, Nova Versão Internacional)

O que restou para nós foram crianças educadas para serem conselheiras e censoras do pais e mais velhos, e adultos criançolas, adestrados a cultuarem uma juventude perene, pensando ainda como crianças, agindo como crianças, entretendo-se como meninos. A puerilidade é característica predominante nos adultos do século. A precocidade maligna — pois considero que exista uma virtuosa — é vício entre os de tenra idade.

“Irmãos, não sejais infantis em vossa maneira de pensar. Porém, quanto ao mal, sede como as crianças, contudo, adultos quanto ao entendimento.” (1 Coríntios 14:20, King James Atualizada). Percebam a inversão: temos crianças pervertidas quanto à malícia (sexualização, postura de indisciplina e rebeldia, detentoras das soluções para os problemas mais complexos e velhos do mundo, etc.) e adultos que insistem nos vícios e comportamentos infantis, fugindo de responsabilidades, buscando prazeres efêmeros, vestindo-se e falando como crianças, escapando de qualquer constância para um entendimento maduro.

Talvez não nos faça mal algum seguir o conselho do poeta e, como no passado, sermos adultos adultos e termos crianças crianças. É preciso manter certa harmonia em nossa natureza humana, para não acabarmos como uma vasta “terra do nunca”, governados e censurados por Peter Pans, auxiliados por fadinhas.

Não à toa que o salmo mais antigo de todos, atribuído a Moisés — ao tratar da evanescência do homem e fragilidade perante Deus — diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Salmos 90:12, Almeida Revista e Corrigida. Na Bíblia Católica é o Salmo 89). O conselho está dado, é antigo. Deve ser muito frustrante para um homem ou mulher nunca ter alcançado o máximo de suas capacidades na maior idade, enquanto há forças, vivendo ainda como frágeis rebentos.

Escrito em 15 de novembro de 2021

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