Em nossos tempos, é normal as pessoas sentirem-se culpadas por não conseguirem realizar aquilo a que se propõem. Elas sentem que podem conquistar mais, fazer mais, porém parece que, por mais que façam, nunca é suficiente. O sentimento mais constante é a frustração.
Essa sensação de incompletude, porém, não era familiar ao indivíduo dos tempos antigos. Como sua posição na sociedade era pretedeterminada e seu destino vinculado ao destino da coletividade, o cumprimento de sua função era suficiente para ele se sentir realizado. Não se esperava nada além disso.
Foi a Modernidade, com seu humanismo individualista, fazendo com que cada pessoa passasse a ser vista como um ser autônomo e responsável pelo seu próprio destino, que trouxe essa necessidade de auto-realização. Como a posição de cada uma, neste mundo, deixou de ser definida, passou a ser preciso encontrá-la, descobri-la, conquistá-la.
Nesse processo de busca de seu próprio caminho, os homens passaram a desenvolver todo tipo de métodos para o melhoramento pessoal. Proliferam-se, assim, desde o século XVI, as regras de etiqueta, os exercícios espirituais, as normas de comportamento e os programas diversos. Quando se deu conta, o indivíduo se viu sufocado pelas múltiplas exigências que a nova era lhe havia concedido.
Cercado por uma multidão de possibilidades, meios e exigências, o homem moderno passou a ter a companhia da sensação de insuficiência da sua vida. Como não há limites definidos para o seu progresso, nem fins determinados para a sua evolução, parece que nunca o que faz é o bastante.
Sendo assim, o homem moderno carrega um ininterrupto sentimento de que é uma perpétua possibilidade que jamais se realiza. Por mais que faça, sente que sempre é possível fazer mais; por mais que seja, sente que sempre é possível ser mais. Percebendo-se sempre abaixo de seu potencial, a infelicidade é o tom que caracteriza sua existência e a culpa sua companheira inseparável.
A culpa é, de fato, um sentimento moderno.