Os marqueteiros dizem que quem quer ser ouvido precisa falar o que o público quer ouvir; precisa, por isso, achar o seu nicho, onde suas ideias encontrarão guarida, onde elas serão bem recebidas. Quem busca reconhecimento, portanto, não deve pretender ser original, pois o aplauso nada mais é do que uma reação quase instintiva do aplaudidor ao reconhecer suas próprias ideias na fala do orador.
Opiniões não são aconselháveis, a não ser que elas repliquem a opinião pública. Afinal, as pessoas não suportam escutar aquilo com o que não concordam e levantam-se ardorosamente contra as ideias que estão fora de seu campo de aceitação.
Isso porque as pessoas estão satisfeitas com os resultados que elas, como massa, alcançaram. Afinal, aprenderam a manipular os elementos da civilização com destreza, mesmo não entendendo nada do processo histórico que a formou. São técnicos, são peritos, muitas vezes competentes, mas completamente ignorantes dos princípios que sustentam essa mesma civilização.
Elas também estão satisfeitas consigo mesmas. Olham para o mundo ao seu redor e sua prosperidade e tecnologia e acreditam, sinceramente, que isso tudo é mérito seu. Admiram o ambiente que as cerca, vêem nele o reflexo de sua própria capacidade e louvam a si mesmas, camuflando esse louvor com elogios ao seu próprio tempo, implicitamente, ao condenarem o passado como ultrapassado.
De fato, as pessoas admiram aquilo com que se identificam. Por isso, são incapazes de transcender-se; incapazes de gostar de algo que esteja fora do seu círculo de interesses.
Aqueles que ousam ultrapassar as fronteiras desse mundo auto-lisonjeiro são tidos por excêntricos. Quem não pensa sob as mesmas categorias da mente comum, manifestando os mesmos interesses e expressando pensamentos que se encaixam no imaginário vulgar é visto como um alienígena.
É assim que a massa se transforma em dirigente cultural: impondo, por meio da força do mercado, o que deve ou não ser publicado. Além disso, ela também determina a forma como o autor deve se comunicar com a audiência. Desse modo, “o escritor, ao começar a escrever sobre um tema que estudou profundamente, deve pensar que o leitor médio, que nunca estudou o assunto, se o vier a ler, não será com o fim de aprender alguma coisa com ele, mas sim, ao contrário, para condenar o autor, quando as ideias deste não coincidirem com as vulgaridades que tal leitor tem na cabeça” (ORTEGA).
A cultura, então, estagna-se, pois, sendo autofágica, não permite que ideias que ousam ultrapassar os limites habitualmente estabelecidos surjam. Assim, o papel principal do pensador, que é arriscar-se em campos perigosos, fica interditado.
Identificar o que as pessoas querem ouvir e moldar o discurso para obter sua aprovação tornou-se a única atividade distinguível entre a classe dita intelectual. O resultado desse movimento circular é amaldiçoar a inteligência àquilo que ocorre a tudo o que não evolui, a tudo o que se mantém estagnado: a corrosão.