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É possível servir a Deus e ao comunismo?

No último dia 07 de fevereiro, o canal do PHVox, no Telegram, nos informava que uma investigação sobre documentos confidenciais das agências de segurança ocidentais mostrou que o Patriatca Kiril (nome civil: Vladimir Mikhailovich Gundyayev), da Igreja Ortodoxa Russa, era um espião da KGB, e que esse mesmo chefe ortodoxo russo trabalhou para o serviço secreto soviético da KGB em Genebra, Suíça, na década de 1970. Essa foi também uma ruidosa revelação de Le Matin Dimanche e Sonntagszeitung, dois jornais suíços que realizaram uma investigação aprofundada sobre documentos confidenciais de agências de segurança ocidentais, ligando aos serviços de espionagem soviéticos o atual Patriarca da Rússia, um “falcão” pró-governo russo na guerra da Ucrânia.

Os jornais suíços chegaram até a publicar uma foto do então jovem padre Vladimir Mikhailovich Gundyayev (atual Patriarca Kiril), aos 24 anos, enquanto esquiava, em plena Guerra Fria, nas montanhas da Suíça, em 1971. Naquela época ele havia obtido permissão para se mudar para Genebra para representar a Igreja Ortodoxa Russa no Conselho Mundial das Igrejas. Os relatórios guardados nos arquivos federais, estudados pelo jornal Sonntagszeitung, confirmam que o jovem sacerdote trabalhava para a KGB e tinha a função de fazer relatórios e transmitir tudo ao Kremlin. Segundo a repórter Franca Giansoldati, do jornal Il Messaggero, o teólogo alemão Gerhard Besier escreveu no seu livro a seguinte observação: “A KGB queria influenciar o Conselho Mundial de Igrejas nas décadas de 1970 e 1980 para que parasse de criticar as restrições à liberdade religiosa na União Soviética e, em vez disso, criticasse os Estados Unidos e seus aliados”. Além disso, o Sonntagszeitung ressalta que o sobrinho de Gundyaev é atualmente o sacerdote-chefe de uma igreja em um bairro de Genebra. Ele explicou ao Sonntagszeitung que seu tio provavelmente não era um agente, mas era colocado “sob estrita vigilância pela KGB”, fornecendo uma versão justificativa.

Em setembro do ano passado, a mesma jornalista Franca Giansoldati publicou, ainda no Il Messaggero, a opinião do Patriarca Kiril sobre os combates na Ucrânia: “Lutar contra ucranianos e morrer em batalha vos levará diretamente ao Paraíso”. O Patriarca voltava a campo com toda a sua autoridade moral sobre os fiéis ortodoxos russos para exortá-los a não temer a morte após a decisão do presidente Vladimir Putin de mobilizar tropas de reserva para lutar na Ucrânia. “Ide corajosamente para cumprir vosso dever militar. E lembrai-vos de que, se vós derdes a vida pelo vosso país, estareis com Deus em seu Reino, na glória e na vida eterna”. Tal como tinha feito no início da chamada “operação militar especial” quando interveio para dar a bênção às tropas que partiam para uma guerra “justa”, e “moralmente plausível” para conter o avanço do mal e das correntes “diabólicas” do Ocidente, mais uma vez Kirill falou em tons apocalípticos, encorajando os recrutas a morrerem por uma causa maior. O comportamento do Patriarca russo faz com que ele não sirva bem a Deus, posto que se comporta como um simples cúmplice das decisões de um comando comunista, indicando que, se necessário for, sacrificará até mesmo a verdade proclamada no Evangelho para legitimar ações do governo de seu país.

A fé tem tido um importante papel na conduta privada e na política interna e externa do Presidente russo, além de, em alguma medida, na identidade nacional. Rituais de súplica e aspersão de água benta ocorrem durante desfiles, juramentos de fidelidade, exercícios e manobras militares, lançamentos espaciais e nucleares. “Os pilotos de bombardeiros estratégicos consagram seus jatos antes das saídas para o combate, e os ícones são anexados aos mapas que levam para o cockpit. Templos móveis acompanham mísseis balísticos intercontinentais e submarinos com armas nucleares têm suas igrejas portáteis. Dentro das forças armadas russas, em particular das forças nucleares, o escopo e a frequência das atividades clericais que promovem o patriotismo, o moral e a confiabilidade humana tornaram os padres quase equivalentes aos oficiais da polícia da era soviética”. (ADAMSKY, Dmitry. Russian Nuclear Orthodoxy — religion, politics, and strategy. pp. 1 e 2).

Com todas essas informações, nota-se o quanto uma Igreja nacional, ou seja, uma Igreja associada a um grupo étnico ou Estado-nação em especial, perde sua autonomia e as suas características universais, como deveria ter uma Igreja cristã, e passa a servir a interesses ideológicos, que em muitos aspectos contrariam a própria essência da fé em questão, como quando se fala na visão marxista de mundo.

O que observamos hoje na Igreja Ortodoxa Russa parece já estar acontecendo, ainda que de maneira um pouco mais velada, na Igreja Católica Romana, ao menos entre determinados membros de sua hierarquia em algumas partes do globo, sobressaindo-se para conduzir o povo de Deus nessa direção, por exemplo, os acordos secretos do Vaticano com a China comunista e os pactos (no mais das vezes explícitos) entre cristãos e governos de linha marxista na América Latina. Quando um bispo católico, de uma antiga diocese de Minas Gerais, afirmou categoricamente no primeiro mês deste ano que “passadas as eleições (…) é hora de retomarmos a esperança de dias melhores, sem medo do comunismo (…), que está quase extinto”, pudemos perceber o quanto alguns de nossos pastores estão absurdamente desinformados — ou cooptados? — acerca da atuação do comunismo no mundo moderno, uma atuação que se transmutou e se mimetizou de maneira impressionante nas últimas seis décadas, mas sem deixar de lado o essencial do marxismo, a ponto de poder dissimular de maneira eficiente a sua malícia, e introduzir o veneno da discórdia e da revolução no seio da Igreja Católica. Definitivamente, o comunismo está muito longe da extinção. Estaríamos então nós, aqui no Brasil, próximos de testemunhar a implantação de uma Igreja nacional comunista?

Ora, o primeiro passo para a instauração uma Igreja nacional comunista é que assumam o poder indivíduos que conformem as ações do seu governo — estrategicamente chamado de “popular” — às categorias e à visão de mundo comunistas (enfraquecimento da propriedade privada, diminuição das liberdades do indivíduo em benefício do “bem-comum”, promoção das pautas identitárias — raça, sexo, situação social — em detrimento dos anseios e das crenças da maioria, implantação da análise social baseada nas categorias de “oprimido e opressor”, etc.). O segundo passo é cooptar lideranças cristãs — principalmente membros da hierarquia — para que esses convençam os demais fiéis de que o melhor a ser feito, pelo bem de todos, é pactuar com esses tais governos “populares”, considerando-os mais solícitos para com os pobres e as necessidades do povo em geral. O que ocorre é que, na maioria dos casos, quando governantes de linha comunista assumem o poder, grande parte das lideranças cristãs já foi cooptada há mais tempo. A partir daí, qualquer reação a essa “frente popular-cristã” é considerada fascista, retrógrada e promotora de ódio.

O que Jesus falou a respeito de Deus e do dinheiro, serve perfeitamente para avaliar a relação do fiel com Deus e com o comunismo: “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo” (Mt 6,24). Não se pode servir bem a Deus e, ao mesmo tempo, pactuar com o pensamento comunista!

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