Elogio à humildade é um poema simbolista sobre o efeito das dificuldades da vida em determinadas circunstâncias. Tais dificuldades estão representadas genericamente pelo termo “privação”. O poema é estruturado em estrofes de seis versos cada, constituindo uma sextilha, com padrão de rima ABCABC, de versos heterométricos, sem padrão métrico definido.
Elogio à humildade
Dai privação ao opulento
e haverá miséria,
ranger de dentes.
Cessará o riso a contento,
e a canção etérea
outrora correntes
Dai privação ao forte
e restará fraqueza,
vergonha sem par.
Será rota sua sorte,
e manca a destreza
em coro insultar
Dai privação ao de boa ventura
e sobejará ensejos
a passar de largo.
Findará então a fartura
e os seus desejos
lhe estarão a cargo
Dai, todavia, privação ao de humildade,
e qualquer anjo parado
mover-se-á em seu favor.
Nos céus não haverá entidade
andante ou alado
que não ouvirá ao clamor
O humilde é húmus, fecundo,
tem cheiro de morte
aos que de si padecem
Nele o viver é profundo,
pois é o suporte
às raízes que crescem