Dos quase 200 diferentes países na face da terra, precisamente um possui um líder eleito que identifica-se como um conservador de estilo ocidental. O seu nome é Viktor Orban. Ele é o primeiro-ministro da Hungria.
A Hungria é um pequeno país no centro da Europa Central, não tem marinha, não tem armas nucleares, seu PIB é menor do que os estados de Nova Iorque.
Por isso, ninguém pensaria que líderes em Washington prestariam muita atenção à Hungria, mas prestam. Por rejeitar os princípios de neoliberalismo, Viktor Orban
enfureceu-os. Em que Victor Orban acredita? Apenas alguns anos atrás, as suas opiniões pareciam moderadas e convencionais.
Ele pensa que as famílias são mais importantes do que os bancos. Ele acredita que
países precisam de fronteiras. Por dizer estas coisas em voz alta, Orban foi atacado.
As ONGs de esquerda denunciaram ele como um fascista, um destruidor da democracia. Ainda no período de campanha de 2020, Joe Biden sugeriu que ele é um ditador totalitário.
Washington despreza tanto Viktor Orban, que muitos, incluindo neocons dentro e ao redor da Casa Branca e do Capitólio, estão apoiando anti-semitas declarados que estão concorrendo contra ele nas próximas eleições, programadas para o mês de abril de 2021 na Hungria.
Nós assistimos a tudo isto daqui dos Estados Unidos e nos perguntamos se o que ouvimos poderia ser verdade. Por isso, esta semana, viemos à Hungria para ver com nossos próprios olhos.
Sentamo-nos com Orban para algumas longas conversas. Dentro de momentos, vamos mostrar-lhe um pouco disso e, assim você poderá tomar a sua própria decisão sobre o tema, mas primeiro, vamos falar um pouco sobre a Hungria. Mesmo que compreenda que a mídia americana mente, é sempre desconcertante ver a extensão da sua desonestidade.
Já lemos muitas vezes como a Hungria é repressiva. A Freedom House, uma ONG em
Washington que é financiada quase exclusivamente pelo governo dos EUA descreve a Hungria como muito menos livre do que a África do Sul. Com menos liberdades. Isso não é apenas errado. É uma loucura. Na verdade, se você vive nos Estados Unidos da América, é amargo ver o contraste entre, digamos, Budapeste e a cidade de Nova Iorque.
Digamos que você viveu numa cidade grande americana e decidiu em voz alta
atacar publicamente as políticas de Joe Biden. As suas políticas sobre imigração ou COVID ou atletas transexuais. Se você continuou a falar assim, você provavelmente seria silenciado por aliados de Joe Biden no Vale do Silício (Big Tech’s). Se continuar, você pode muito bem ter de contratar guarda-costas armados. Isso é comum nos EUA, pergunte por aí. Mas não existe na Hungria. As oposições aqui não se preocupam se serão prejudicados por suas opiniões.
A propósito, o Primeiro-Ministro Orban anda regularmente sem segurança. Então, quem é mais livre? Em que país é mais provável perder o seu emprego por discordar das ortodoxias das classes dirigentes? A resposta é bem óbvia, embora se for um Americano, é doloroso para nós admitirmos.
Com isso, aqui está Viktor Orban. O seu sotaque é bastante espesso, mas o seu inglês é preciso. Vale a pena ouvir.
Tucker Carlson: Primeiro Ministro, muito obrigado. Em 2015 centenas de milhares de migrantes apareceram na sua fronteira sul. Eles apareceram em toda a Europa, se espalharam muito pela Alemanha. Enquanto o resto de União Europeia disse: ‘’bem-vindo, por favor venha. Nós podemos tratar disso. Nós somos suficientemente fortes’’. A Hungria está de pé sozinha ao dizer não. Porquê? Porquê tomou uma posição diferente sobre a migração de outros países europeus?
Viktor Orbán: Esse era o único comportamento razoável. Se alguém sem qualquer permissão do Estado húngaro atravessar a sua fronteira, você tem que defender o seu país e dizer ‘’pessoal pare’’ e se deseja vir pra cá há um procedimento legal que nós temos que fazer, mas não pode cruzar sem qualquer tipo de limitação, permissão ou qualquer contribuição e controle da Hungria. É perigoso, você tem que defender o seu povo contra qualquer perigo.
Tucker Carlson: E você acredita que têm o direito de fazer isso?
Viktor Orbán: Claro, os argumentos vêm de Deus, da natureza, porque esse é o nosso país, esta é a nossa população, esta é a nossa história, esta é a nossa linguagem, por isso temos de fazer isso. Claro que se alguém estiver em apuros e não há ninguém mais próximo para ajudar do que os húngaros, você precisa ajudar, mas não se pode aceitar simplesmente que alguém diga: “Está bem, este é um bom país, eu gostaria de viver aqui porque é uma vida mais agradável”. Vir para a Hungria não é um direito humano. Porque é a nossa terra, é uma nação, é uma comunidade, famílias, história, tradição, língua.’’
Tucker Carlson: O que acabou de dizer (o que eu acho que vai ser óbvio para muitos dos nossos telespectadores) foi muito ofensivo para muitos dos países da Europa Ocidental e para os seus líderes.
Viktor Orbán: Porque muitos países europeus decidiram abrir um novo capítulo da sua própria história como nação. Chamam-lhe de nova sociedade, que é uma sociedade pós-cristã, pós-nacional. Eles acreditam firmemente que se comunidades diferentes, mesmo que em grande número de, digamos, comunidades muçulmanas e o habitante original, digamos, comunidades cristãs, são misturadas, o resultado disto será bom.
Não há resposta se vai ser bom ou ruim, mas penso que é muito arriscado e a chance de ser muito ruim é grande. Cada nação tem o direito de correr este risco ou de rejeitar este risco. Nós, a Hungria, decidimos não tomarmos esse risco de misturar a nossa sociedade. Esta é a razão pela qual eles atacam a Hungria de forma tão dura e essa é a razão pela qual a minha reputação pessoal é tão ruim. Sabe, eu sou tratado como as ovelhas negras da União Europeia pessoalmente, a Hungria também às vezes é, infelizmente.
Tucker Carlson: Faz seis anos desde que a Alemanha, desde que Angela Merkel tomou a decisão de deixar centenas de migrantes entrar em seu país. Milhões, basicamente. Milhões de pessoas que não falam alemão, na sua maioria muçulmana. Quais foram os efeitos na Alemanha?
Viktor Orbán: Bom… a diplomacia exige algum comportamento (Tucker Carlson ri alto da expressão de Órban), mas foi decisão deles, eles correram o risco e agora têm o que eles mereceram. Isto é a vida. Eu não gostaria de usar quaisquer categorias para descrever qual foi o resultado de sua decisão. Só insisto nisso: Nós húngaros temos o direito de fazer a nossa própria escolha.
Tucker Carlson: Você primeiro tornou-se famoso no final dos anos 80 como estudante, como um dos líderes contra a ocupação soviética na Hungria e foi herói para muitos nos Estados Unidos, e na época durante a guerra fria que prestamos atenção especial à Hungria; acho que o governo dos EUA estava do seu lado, você estava do lado do governo dos EUA. Agora, trinta anos mais tarde, Joe Biden enquanto candidato à presidência no ano passado no ABC News descreveu-o como um desqualificando e um bandido totalitário, nas palavras dele: ‘’Veja o que está acontecendo em vários lugares, desde a Bielorrússia até Polónia e Hungria, a ascensão de regimes totalitaristas no mundo e como estes presidentes apoiam bandidos no mundo’. É desconcertante para você ver essa mudança e como você responde a essa caracterização?
Viktor Orbán: Então, primeiro de tudo, a reação desse tipo de opinião aqui na Hungria não é muito educada, mas você pensa, ‘’quem é esse cara para dizer isso? ’ Então dizemos, está bem, ele é o presidente dos Estados Unidos da América, por isso devemos levá-lo a sério. Mas, de qualquer forma, alguém que não fala a nossa língua e tem um conhecimento muito limitado sobre Hungria, mesmo nas recentes décadas da nossa vida, não nos compreende para ter uma opinião como essa é um insulto pessoal para todos os húngaros. Mas porque ele é o presidente dos Estados Unidos, temos que ser muito modestos, temos que ser muito respeitosos e temos que fazer muitas coisas para esclarecer que o que ele está falando é antes de tudo, uma mentira. Tentamos fazer isso numa forma educada porque respeitamos os americanos.
Respeitamos a Democracia americana, a cultura americana. Portanto, não gostaríamos de destruir a nossa relação porque a relação bilateral com os americanos é muito boa. Nós estamos cooperando bem no campo da defesa. Como aliados na OTAN, a cooperação econômica é excelente. Vocês são grandes investidores aqui.
O comércio está indo muito bem, seus empresários estão encontrando muitas possibilidades aqui. Portanto, tudo está bem. Exceto a política dos liberais que estão no governo em Washington. Esse é o problema. Portanto, temos de gerir isso porque a relação america-hungria é boa. Mesmo que os americanos não percebam hoje como foi anteriormente. Portanto, temos de salvar o que podemos salvar desta relação.
Tucker Carlson: Mas é um pouco estranho, não creio que Joe Biden tenha alguma vez se referido a Xi Jinping por exemplo, que assassinou muitos dos seus opositores políticos famosos como um bandido totalitário. Por que você e governo polonês foram chamados assim?
Viktor Orbán: O problema é o sucesso. É um verdadeiro desafio para os pensadores liberais aceitarem o que está acontecendo na Europa Central, Polônia e também na Hungria. Na Hungria provavelmente é mais falado, talvez até falado demais, sobre as nossas intenções. Que estamos construindo uma sociedade muito bem-sucedida como nosso sucesso na política familiar. Por isso, o que se pode ver aqui pode ser descrito como uma história de sucesso, mas o fundamento desse sucesso é totalmente diferente do que é criado e executado por muitos outros países ocidentais.
Os liberais ocidentais não podem aceitar que dentro da civilização ocidental, há uma alternativa nacional conservadora que é melhor do que a vida nos países liberais. É a razão pela qual eles nos criticam, eles estão lutando por eles próprios, não contra nós. Mas somos um exemplo de que um país que se baseia em valores tradicionais, valores nacionais como identidade e cristianismo, pode ser tão bem sucedido ou por vezes ainda mais bem sucedido do que um governo liberal esquerdista.
Tucker Carlson: É interessante, como um americano, ver isto. Por isso, os meios de comunicação americanos e a administração de Joe Biden se opõem a você, é por isso que dizem que você é um totalitário. Os seus oponentes são uma coligação de antigos comunistas e anti-semitas. É estranho ver a esquerda americana torcer por uma coligação que inclui anti-semitas?
Viktor Orbán: Sim, digamos que sim, se você perguntasse alguns anos atrás, se isso poderia acontecer, que o ex-políticos comunistas e os anti-semitas estão formando uma coligação e correndo juntos na eleição contra um governo pró-israelita, pró-americano, orientado para o ocidente tal como o que nós o temos, a minha resposta teria sido ‘’não, é impossível’’, mas agora o comunidade internacional aceitou isso. Sabe, entendo que aqui na Hungria, os partidos políticos gostariam de obter o poder de qualquer maneira. Portanto, eles tentam fazer uma grande coligação contra o governo atual. Ok, mas isso seria aceito pela comunidade internacional assim tão facilmente? fico surpreendido. Eu estou surpreendido. Especialmente com o comportamento da América que é totalmente novo, é uma nova experiência para mim.
Tucker Carlson: Parece que a Hungria está se movendo em uma direção completamente diferente da União Europeia e do resto do mundo ocidental. Acha que daqui a 20 anos será uma divisão intransponível?
Viktor Orbán: Vamos descrever como eu vejo: O que eu vejo é que nos Países da Europa que mais sofreram por causa das ocupações soviéticas e ditaduras comunistas, nestes países, a minha abordagem ou a abordagem Húngara é muito popular. Provavelmente, temos o apoio da maioria dessas sociedades. Não só na Polonia e na Hungria, os outros são mais moderados, mas se você compreender o que estão fazendo, quais são os fundamentos, suas motivações são basicamente pertencentes à mesma família política de qualquer forma. Sim, na sociedade ocidental há muitas pessoas que discordam da direção que a política está indo neste momento, que é contra a família ou que não respeita as famílias, que é baseado na migração, que é uma sociedade mais aberta, e assim por diante. Portanto, eu não digo que a competição política acabou nas sociedades da Europa Ocidental. Por isso, vejo algumas chances e o país-chave é a Itália neste momento, em que a competição é muito aberta. Por isso, eu posso ver oportunidades no ocidente, países que também são capazes de alterar a sua política do liberal ao conservador ou de esquerdista liberal a democratas-cristãos. A hipótese existe, mas não estamos bem organizados internacionalmente. Assim, os próximos anos serão realmente emocionantes.
Tucker Carlson: Tenho notado nas últimas noites em Budapeste, deparei-me com um número de americanos vindo para cá porque eles querem estar em torno de pessoas que concordam com eles, que concordam com você. Você vê Budapeste como uma espécie de capital deste tipo de pensamento?
Viktor Orbán: A capital desse tipo de pensamento ou uma das as capitais porque outros países da Europa Central também são muito competitivos e estão produzindo ideias muito boas e organizando esse tipo de comunidades de conservadores e democratas-cristãos, pensadores como nós. Nós cooperamos com esses países para que essas redes se aproximem umas das outras. Essa rede na Europa central, está ficando cada vez maior mas não só pensadores como cidadãos comuns, vários cidadãos estão se mudando para países da Europa Central. Não é muito dinâmico neste momento, mas é claro. Muitas famílias cristãs e famílias conservadoras pensam que a Europa Ocidental não é suficientemente segura. O futuro é instável. Sabe, a segurança pública não é fornecida e a direção ideológica ou os valores básicos dos países construídos não estão mudando de forma que os agrade. Estão à procura de outros lugares. Portanto, se for ao interior da Hungria pode encontrar famílias da Europa ocidental que se mudam para cá. Em primeiro lugar, para ter uma segunda casa e gastam cada vez mais tempo por aqui. Por isso, nós não podemos excluir o futuro da história europeia quando existir será uma nova migração do oeste para o leste.
Tucker Carlson: Dentro da Europa?
Viktor Orbán: Sim, Os cristãos e os conservadores tentam encontrar uma casa melhor e não podemos ignorar isso.
Tucker Carlson: Até muito recentemente a Hungria, que é uma pequena nação de 10 milhões de pessoas, tinha dois grandes aliados nucleares. Os Estados Unidos e Israel, provavelmente o aliado seu mais próximo na Europa era Netanyahu e você era próximo de Donald Trump, ambos se foram… Em que situação isso te deixa?
Viktor Orbán: Realmente não tivemos muita sorte recentemente. Donald Trump era um grande amigo da Hungria. Ele nos apoiava muito, não apenas pessoalmente, mas também politicamente. Por isso, foi uma boa amizade entre os dois países. Além disso, ‘’America First’’ é uma mensagem muito positiva aqui na Europa central, porque se para o Trump a América vem primeiro, para nós aqui a Hungria poderia vir também.
Tucker Carlson: Certo.
Viktor Orbán: Por isso foi uma política externa muito eficaz e cooperamos muito bem. A mesma coisa com Bibi Netanyahu, que foi um bom amigo dos húngaros e quando ele estava no poder, ele investiu muita energia para ter uma boa relação com países da Europa Central, nós o respeitamos muito. Mas ele também perdeu. Assim o conservador húngaro Judeu/Cristão com fundamento democrático perdeu os dois principais apoiadores internacionais, e seus opositores chegaram ao poder.
Portanto, esta é uma circunstância totalmente nova em torno da Hungria. Para mim, como político, é um grande desafio.
Tucker Carlson: Vem aí uma eleição em abril, está preocupado se haverá interferência internacional em sua eleição na Hungria?
Viktor Orbán: Isso vai acontecer. Não estamos preocupados com isso, estamos preparados. obviamente a esquerda internacional fará tudo o que podem, provavelmente até mais, para mudar o governo aqui na Hungria. Estamos cientes disso e estamos preparados para lutar e contra-atacar.
Tucker Carlson: Quando o presidente dos Estados Unidos te descreve como um ‘’bandido totalitário’’, é uma coisa muito séria para se dizer sobre alguém, eu diria. Então por que o governo de Biden não tentaria te atrapalhar a ser reeleito?
Viktor Orbán: Penso que sim. mais cedo ou mais tarde, os americanos perceberão que as questões na Hungria devem ser decididas pelos húngaros. E é melhor até mesmo para o governo liberal esquerdista nos Estados Unidos ter um bom parceiro que seja cristão/conservador e apoiado pelo povo para o longo prazo do que um governo que é apoiado pela América e, apesar de tomar essa posição, perca depois de alguns meses, criando desestabilização e incerteza. Portanto, um parceiro que não é amado, mas estável, é melhor do que um incerto. Espero que os americanos entendam isso.
Confira a entrevista na íntegra em inglês abaixo:
*Com a colaboração de Pedro Brant Araujo