Na década de 2010, o Foro de São Paulo passou a ser mais conhecido do público geral, e a partir das jornadas de 2013, quando sua existência e métodos de ação começaram a ficar cada vez mais visíveis ao Brasil profundo. Isso por si já foi uma grande vitória, afinal, o Foro de São Paulo fora propositadamente “esquecido” pela imprensa brasileira, como tantas vezes denunciou o próprio professor Olavo de Carvalho.

Mas o que realmente é necessário entender?

Criado oficialmente na cidade de São Paulo no ano de 1990, o Foro de São Paulo nasce como uma tentativa de estabelecer um Fórum de debate e aglutinação dos partidos políticos, movimentos sociais e guerrilhas de toda a América Latina.

O seu idealizador foi Fidel Castro, que utilizou como figura de proa, Lula da Silva, que fora candidato à presidência do Brasil no ano anterior e a aposta pessoal de Fidel, ao qual direcionou recursos e esforços “logísticos”, em prol de sua campanha.

A organização foi propositadamente “escondida” da mídia brasileira, fato ao qual Lula já agradeceu em discurso no ano de 2005.

Nas eleições de 2016 e de 2018 no Brasil, ouvia-se falar constantemente sobre o Foro de São Paulo nos debates das redes sociais. Com o aumento do interesse do público pelo tema, voltava à tona uma série de mentiras sistemáticas promovidas pela mídia por mais de quinze anos, seguindo um roteiro que, acredito, seja conhecido de alguns leitores:

· Passo 1: O Foro de São Paulo não existe, isto é teoria da conspiração.

· Passo 2: O Foro de São Paulo não é nada do que dizem, é somente uma reunião de velhinhos saudosistas das ideias socialistas da época da Guerra Fria.

· Passo 3: O Foro de São Paulo existe, mas ele não é uma ameaça à democracia, é somente um fórum de debates de ideias da esquerda.

· Passo 4: O grande problema do Foro de São Paulo é que ele existe, mas não com o poder que lhe é conferido, é tão somente utilizado como uma ferramenta de discurso político eleitoral, tornando esse grupo em um instrumento a ser explorado pela direita em todo o continente.

Percebe como através da manipulação da linguagem o Foro de São Paulo foi de teoria da conspiração a vítima de uma “direita conservadora radical reacionária” e, através dos meios de mídia, suas ideias foram protegidas pela espiral do silêncio? Se qualquer personagem político passa a falar sobre o Foro de São Paulo, é automaticamente elevado à posição de perseguidor antidemocrático e exposto à ridicularização pública como teórico da conspiração.

Essa estratégia não é nova, mas já foi praticada de maneira sistemática pela Tcheka soviética de Lênin, onde os elementos da contra-propaganda foram moldados para combater as técnicas de persuasão dos contrarrevolucionários. São elas: desmontar a propaganda alheia e atacar os seus pontos isolados, concentrando poder nas partes fracas; nunca atacar perpendicularmente quando o argumento contrário for forte; deixar de lado a racionalidade e mirar o lado pessoal do rival, como escândalos, intrigas e boatos; ridicularizar o adversário colocando sua publicidade em contradição com a realidade; e, por último, impedir que a propaganda inimiga fique em evidência (argumento ad hominem).

O Foro de São Paulo não deve ser encarado como um bloco unificado e 100% coeso, que trabalha por meio de um comando unitário.

Muito menos deve ser entendido como a base ideológica da esquerda latino-americana. Este papel ideológico recai sobre o ideal da Pátria Grande, que trabalha pela criação de não somente uma nova identidade para os povos da América Latina e do Caribe, mas literalmente no surgimento de um novo homem.

Esse conceito transcende muito o propósito de organização política e de meios de ações revolucionárias do Foro de São Paulo; em verdade, esses conceitos estão enraizados na base educacional de todo o continente, principalmente no Brasil.

A estrutura de leitura histórica nas escolas e universidades brasileiras está completamente ancorada na visão de mundo de Simón Bolívar e sustentada pelos principais intelectuais da esquerda brasileira nos últimos setenta anos.

Pude comprovar esse processo pessoalmente, cruzando os materiais didáticos de minha graduação em história com os documentos, artigos e livros dos principais intelectuais proponentes da Pátria Grande: sem citar uma única vez o termo, eles apresentam toda a estrutura ideológica em um processo de revisionismo histórico autochancelado, pois os intelectuais passam a citar-se em círculos, criando a sensação ao estudante de que o conceito é a realidade amplamente comprovada por diversos pares.

O Foro de São Paulo é um instrumento, uma linha de ação para a implementação de um ideal revolucionário que deve ser atingindo por meio de diversos processos estabelecidos, integração de pautas e articulação de matrizes supranacionais que deverão ser integradas localmente por cada grupo de ação, agentes e partidos políticos, guerrilhas marxistas, entre outros.

Por outro lado, existe o problema da simplificação, que acabou transformando o Foro de São Paulo em um espantalho dialético nos meios da direita e conservadores, gerando uma confusão sobre sua real essência e finalidade, por vezes favorecendo o trabalho de agentes revolucionários em transformar os denunciantes em teóricos da conspiração, nos meios de comunicação e junto à opinião pública.

Esse processo tornou-se tão caótico que, mesmo nos meios conservadores, começaram a surgir vozes que passaram a diminuir a importância do Foro de São Paulo, alegando que ele estava sendo instrumentalizado como um inimigo externo de agentes políticos cuja meta final seria criar uma sensação de pânico para fins eleitorais.

Esta não é uma observação totalmente equivocada, afinal, uma boa parcela de políticos, analistas políticos e influencers perceberam que usar o Foro de São Paulo como espantalho dialético atrai a atenção das pessoas e garante visibilidade. Porém, ao assumir que toda citação ou denúncia que advenha do Foro de São Paulo possui esse objetivo intrínseco, é uma simplificação que, em profundidade, reforça os quatro passos do roteiro de desqualificação do Foro de São Paulo e, mais ainda, da Pátria Grande.

Mais do que esse problema de superfície, ao não nos aprofundarmos no processo de entendimento das bases ideológicas da Pátria Grande e os meios de ações do Foro de São Paulo, facilmente criamos uma concepção manca da realidade, em que se impossibilita combater de forma séria os problemas e desafios gerados pela organização revolucionária, e isso nos mais diversos âmbitos: intelectuais, debate público, políticos e até criminais.

As motivações ideológicas que sustentam esse processo contaminaram a sociedade brasileira de tal forma, que até mesmo em nossa constituição ela está presente, mais precisamente no artigo quarto:

“A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”

Dediquei quase a última década inteira em estudar, compreender e analisar profundamente estes problemas. O que me possibilitou apresentar um estudo inédito sobre o Foro de São Paulo, além do lugar-comum sempre dito sobre esta organização.

Compreender que o Foro de São Paulo é uma ponte, para a implementação do bolivarianismo, é essencial para conseguirmos enxergar os rumos ao qual o nosso Brasil está sendo levado, não somente com os grupos de nosso continente, mas também com o forte apoio e influência de potências intercontinentais como Rússia, China e Irã.

Justamente por isto, eu tenho o imenso prazer de apresentar para vocês o meu novo e quinto livro:

O Foro de São Paulo e a Pátria Grande. Já garanta o seu aqui:

Neste trabalho, me aprofundei no estudo de intelectuais da esquerda latino americana, proponentes da Pátria Grande, como o argentino Manuel Ugarte e o brasileiro Darcy Ribeiro.

Também foi necessário um longo processo de estudo jornalístico para compreender os meios de ação nos últimos 10 anos, que possibilitou a volta do Foro de São Paulo ao poder nos principais países do continente nos últimos 5 anos, processo o qual o chamo “abraço vermelho”.

Esta obra irá lhe oferecer uma base de estudo histórico do movimento revolucionário no continente, teologia da libertação, guerrilhas, tráfico internacional de drogas, pré 1990.

Na segunda parte do livro, um trabalho de jornalismo investigativo, demonstrando todas as ações e métodos aplicados na realidade pelos membros do Foro de São Paulo em diversos países: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Venezuela, Honduras, Nicarágua, México e outros.