Estava acompanhando os noticiários sobre a tramitação da Lei do Ensino Domiciliar e acabei deparando com pelo menos três artigos de jornais diferentes que usaram parágrafos praticamente idênticos, todos eles davam ares de inconstitucionalidade para esta modalidade de educação.  O homeschooling, embora talvez seja a forma de educação mais antiga do mundo, exaustivamente discutida e aceita em muitos países, não fazia parte da realidade dos brasileiros, pois além de ser uma forma de ensino incomum por estas bandas, quase não se ouvia falar. O único tipo de educação formal reconhecido era aquele oferecido nas Escolas, conhecidíssimo pela baixa qualidade e resultados mais que acanhados.

Agora que está em trâmite nas casas legislativas, o Ensino Domiciliar começou a correr na boca do povo, o que antes não existia no imaginário, agora se torna um monstro mitológico, uma quimera, a estranha e assustadora combinação heterogênea de informações, impossível de constituir um corpo congruente na nossa mente. Realmente o conhecimento é um espanto!

Mediante a entrada de assuntos controlados, aparecem os formadores  da opinião das massas, pessoas com a função de acalmar os corações e mentes e transmitir o mínimo necessário de conteúdo para sairmos falando sobre o assunto, um basicão que não nos deixa passar vexame, expedito o suficiente para não nos entediar. Esses formadores de opinião sabem que somos estudiosos de postagens de instagram, conhecem bem o costume de tratar coisa séria com leviandade, aquela leveza de espírito inspirada pela paz da ignorância que sempre custou caro demais, e uma segurança incrível para se posicionar sobre coisas que mal conhecemos. É o perfil mais maleável para inserir o que quiserem na sociedade, usando o mais perfeito meio que existe para isso: as mídias de massa.

Com o desenvolvimento tecnológico, os meios de comunicação puderam alcançam milhões de lares simultaneamente e de forma intensiva. Hoje, os principais comunicadores são capazes de inserir visões de mundo em nossos lares sem sequer precisar velar as intenções. Como pouquíssimos detêm tais meios, basta somente retirar o princípio da dialética (confronto de posições honestamente interessada em se aproximar da verdade) e introduzir o anestésico da aparente unanimidade para gerar o bom e agradável consenso.

Porém, quando não há pluralidade de pontos de vistas, quem sofre são as pessoas por falta de acesso à informação. É o paradoxo do livre acesso aos veículos de comunicação e restrição do conhecimento. Somos, portanto, involuntariamente submetidos à pior faceta da chamada opinião pública, não aquela com significado de visão da maioria sobre um determinado tema, mas num sentido que extrapola esse conceito e alça a possibilidade real de alguém estar editando nossa sociedade por meio de um recorte seletivo da realidade (muitas vezes ilusório quando retirado do todo) e simultânea supressão das demais partes e camadas. Em outras palavras, pessoas comuns que se mantêm demasiadamente crédulas e passivas em relação a atualização dos acontecimentos, recebem somente o que os detentores da informação querem que elas saibam. As implicações disso nem precisam ser mencionadas.

Esse grande truque de ilusionismo acontece graças à sensação de livre acesso à informação, combinada com a já comentada unanimidade do discurso. Esses quesitos  são forças construtivas de um aterrorizante quadro, o qual barbaridades que antes eram praticadas pela força, hoje podem ser feitas pela sutileza da manipulação em massa. A liberdade de pensamento está sob forte ameaça. Quando ela não mais existir, o que mais será retirado?