No ano de 2008, a Rússia de Dmitry Medvedev e Vladimir Putin invadiu a região da Ossétia do Sul e Abecásia, na Geórgia, ex-república soviética e também o país natal de Josef Stálin.

O motivo da invasão: as duas regiões estavam, segundo a Rússia, com os povos falantes do idioma russo oprimidos e queriam a sua independência. As forças russas moveram tropas em seu “socorro” para reconhecer a independência das regiões, “proteger” seus povos e seguir com um plano de anexação.

Sim, Luhansk e Donetsk não são novidades… apenas a repetição de uma estratégia criada por Catarina II quando invadiu o Canato da Criméia no século XVIII.

Após uma blitzkrieg (guerra relâmpago) com 79 mil soldados no mês de agosto daquele ano, a pequena Georgia não teve forças para resistir e desde então convive com tropas russas em seu território.

Em 2014, um movimento semelhante foi aplicado na Criméia por Putin, estendendo o movimento de república separatistas para a região do Donbass.

Nos últimos dias, o parlamento da Geórgia apoiou inicialmente um projeto de lei que exigiria que quaisquer organizações que recebessem mais de 20% de seu financiamento do exterior se registrassem como “agentes estrangeiros”.

Os críticos disseram que é uma reminiscência de uma lei de 2012 na Rússia que foi usada para reprimir a dissidência e poderia dificultar as esperanças do país de ser membro da União Européia. A presidente Salome Zourabichvili disse que a lei foi possivelmente “ditada por Moscou” e prometeu bloqueá-la.

A população foi às ruas com bandeiras dos EUA e da UE, em um gesto pedindo ajuda para as potências ocidentais ante à Rússia. Porém, antes de simplificar as questões culturais com todos os problemas conhecidos da adesão à UE, é preciso notar algo: A população da Georgia convive com um exército invasor em seu território há 15 anos. Este exército é o representante e herdeiro histórico da União Soviética, que manteve o país sob a segunda maior e mais sanguinária ditadura comunista da história humana (perdendo apenas para a chinesa). Este é o ponto principal posto na balança pela população do país.

Por qual motivo isto está acontecendo agora? A resposta pode ser encontrada mais a oeste, na própria Ucrânia.  A intenção da Rússia na Ucrânia era reprisar o exato movimento feito na Georgia em 2008, depondo o governo local, de preferência matando o chefe de Estado e assumir o controle com um governo fantoche. Não funcionou e o Kremlin está envolvido até o pescoço com uma guerra que não deveria ter durado mais de um mês. Em dificuldades para repor tropas, suprimentos e com um conflito político crescente, seja com o Wagner Group e o exército Regular, seja com os Chechenos cada vez mais ousados em suas declarações.

Some a isto: o eminente conflito entre Armênia e Azerbaijão que deve recomeçar nas próximas semanas (também herança das políticas soviéticas) e, a muito provável ofensiva Ucraniana que deve ocorrer, em tese, nas próximos 8 semanas.

Todos estes elementos de tensão, pulverização de esforços necessários pela Rússia para manter o controle de todos estes pontos, torna muito oportuna a situação para os georgianos tentarem um movimento mais brusco, iniciando com a população civil.

Ainda é cedo para especular qualquer previsão de sucesso ou mesmo de desenrolar destas tensões, mas a verdade é que a Rússia está enfrentando vários pontos de fervura ao seu redor, muitos problemas que ela mesmo criara e estavam em “banho maria”.

Os próximos meses serão tensos e movimentados.

PARTE 2 – Publicado no Twitter em 07/03/2023

🚨Nos próximos dias ou semanas, a guerra entre a Armênia e o Azerbaijão deve recomeçar.

Ambos os lados estão com movimentações de tropas e cavando trincheiras na fronteira.

Este conflito acontecerá não muito longe da Ucrânia.

Estamos assistindo o legado das políticas de Stálin causando o caos generalizado. Em uma instância maior, estamos presenciando a guerra dentro do que era a união soviética:

Rússia invadindo a Georgia.

Rússia invadindo a Ucrânia.

Armênia e Azerbaijão em guerra.

Bielorrússia subjugada.

Rússia alimentando a tensão entre

Moldávia e Transnistria (O que pode escalar para a Romênia).

Tensões entre Sérvia e Kosovo estão altas novamente (antiga Iugoslávia).

Yevgeny Prigozhin, dono do Wagner Group, em rota de enfrentamento político com o Ministro da Defesa russo (Sergei Shoigu) e com o Chefe das forças armadas (Valeri Gerassimov).

Ramzan Kadyrov, Chefe da República da Chechênia, cada vez mais crítico a Moscou e anunciando que pretende criar a sua versão do Wagner Group.

O conflito está literalmente escalando. As próximas semanas e meses serão muito densos e apreensivos.