Meu pai sempre me falou: “Não aceite nada de estranhos!”. Cresço. Agora sou independente. Vejo o Estado abraçando a todos como verdadeiros filhos. Querido. Ele paga meu vale, meu projeto, minha faculdade. Meu, meu, meu. Eu digo: “Quem dá mais? Quem dá mais? Vendido!”. Gratidão eterna àquele que é tão bom e cuidadoso comigo, me cerca e me protege: “É muito amor envolvido!”.
Sigo tranquilo, pago impostos gordos por todos os lados. Normal, nenhuma novidade até aqui. Papai está cumprindo o seu papel. Financia tudo que eu pedir se, claro, eu lhe der algo em troca: meus valores. E por consequência, minha inteligência.
Problema… os papéis foram invertidos. É ainda pior quando tudo já está tão bagunçado que eu nasço tendo como única certeza que o Estado é pura e simplesmente meu amigo. Já não é estranho, agora meu pai (biológico) é que é, quando não é inimigo. Se Deus criou a família, matamos Ele (para garantir apagamos a.C. e d.C. dos livros – em 2020 até isso quiseram fazer, acredita?) e daqui a pouco nem saberão mais quem é quem, quem é pai, quem é filho – dizem eles. Cada um corre para um lado, tudo embaralhado, confundido. Está resolvido. Abraçamos nossos filhos.
O resultado é toda essa gratidão deslumbrada e ilimitada ao desconhecido, não reconhece-se mais a face do único Pai genuinamente capaz de realizar milagres. Entre mimados e feridos, muitos podem não perceber o que está intrínseco quando os papéis são invertidos: a ordem já não importa e o primeiro que ajudar mais ganha o título de “melhor amigo” (mesmo sendo intangível, como o Estado, que apenas cumpre seu papel, quando o faz, ou a velha figura política que já virou amigo de infância e “pai dos pobres”). Meu pai é outro.