A devoção a Nossa Senhora desde os primórdios de Portugal
Em 12 de outubro celebramos o dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil.
Quem visita o santuário percebe o quanto de fé encontramos naquele lugar. Vemos gente chegando a pé, de bicicleta, moto, carro, ônibus e até a cavalo, brasileiros de todos os sotaques unidos pela fé na advogada, aquela que intercede sempre por nós, Nossa Senhora.
Mas como surgiu esta devoção? Como uma imagem quebrada e de pouco valor artístico toca tantos corações?
Desde a formação de Portugal, a cristandade foi um dos pilares de sua existência. Vemos isto na própria fundação lusitana com o milagre de Ourique, em que D. Afonso Henriques antes da batalha contra os muçulmanos sonha com Jesus e vence a contenda bastante desfavorável, deixando como legado a Portugal a missão de evangelizar terras distantes. Devoto de Nossa Senhora, o primeiro rei proclama Portugal Terra de Santa Maria já no século XII.
Arrisco dizer que isto foi um grande motivador para que os portugueses se lançassem além mar, descobrindo as terras que chamaram Ilha de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz.
O primeiro ato público no Brasil foi uma missa, relatada nas Cartas de Pero Vaz de Caminha. Seguindo a história, cidades e escolas foram fundadas com a ajuda de Padres Jesuítas destacando o apóstolo do Brasil, José de Anchieta, devoto de Nossa Senhora.
Desde o Descobrimento ergueram-se inúmeros oratórios, capelas e igrejas nos quais se venerava a Imaculada Virgem.
Em 1646, seis anos após o final da União Ibérica, quando D. João IV havia assegurado a independência da coroa portuguesa da coroa espanhola, o rei consagrou Portugal e seus domínios além mar à Nossa Senhora da Conceição. No Santuário de Vila Viçosa, o monarca depôs sua coroa e a entregou à Nossa Senhora. A partir desta data os reis de Portugal não seriam mais coroados, nem usariam mais coroas. Nas seguintes cerimônias, os reis de Portugal depositavam sua coroa na almofada, pois a coroa havia sido entregue à Nossa Senhora da Conceição, a verdadeira rainha de Portugal. Desde então, a devoção propagou-se ainda mais. Imagens artísticas foram executadas pelos melhores artistas portugueses e brasileiros em madeira e terracota e foi uma dessas imagens que foi encontrada pelos pescadores no fundo do rio Paraíba do Sul
O encontro da imagem do fundo do rio Paraíba do Sul
A pequena e singela imagem mede 36 cm de altura, sem o pedestal e 2,550 kg de peso, é de terracota e era originalmente policromada, tez branca do rosto e das mãos, com manto azul escuro e forro vermelho granada, estas eram as cores oficiais para ornar as imagens do título de Imaculada Conceição, conforme determinação de D. João IV no ano de 1646.
A hipótese é que a imagem deveria servir a devoção de uma família e tenha quebrado a cabeça. O costume nos diz que uma imagem de devoção quebrada deve ser sepultada ou lançada em água corrente, assim a imagem teria parado no fundo do rio.
A região de Guaratinguetá fica às margens do rio Paraíba do Sul e da hoje chamada Rodovia Presidente Dutra, um dos trechos mais movimentados da BR-116. Este trecho da BR é responsável pela circulação de grande parte da riqueza brasileira e há 304 anos, isto não era diferente. Localizado entre as minas e o mar, por este caminho passava todo o tipo de gente, tropeiros, indígenas, jesuítas, governantes, era o caminho para a região do ouro.
Em outubro de 1717, passou pela região o governador Pedro Miguel de Almeida Portugal, o conde de Assumar. Ele era esperado pelas autoridades locais de Guaratinguetá e para recebê-lo, os pescadores da região foram convocados a conseguir a maior quantidade de pescado possível para oferecer à mesa do Conde. Os pescadores João Alves , Domingos Martins Garcia e Filipe Pedroso estavam entre eles. Foi com esta missão de arrebatar muitos peixes é que eles pescaram a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida no Rio Paraíba.
A missão era clara, pescar o maior número de peixes possível para colocar à mesa do conde de Assumar, governador de São Paulo e das Minas Gerais, partiram com suas canoas do porto de José Corrêa Leite em direção ao Porto de Itaguaçu, e percorreram esta distância sem pesca alguma, até que João apanha na rede o corpo de uma imagem, era o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, mais a frente, em uma outra lançada de rede , vem a cabeça da imagem. A imagem foi guardada enrolada em um pano e seguiu-se a pescaria. Daí em diante, foi tão frutífera a empreitada, que admirados do sucesso, precisaram encerrar a atividade e retornaram às suas casas por receio de naufrágio, tamanha a quantidade de peixes que conseguiram.
Os relatos do achado da imagem e das primeiras devoções à Nossa Senhora Aparecida foram documentados em período bem próximo ao ocorrido, nos anos de 1750 e 1757 por religiosos da época.
O nascimento e o crescimento da devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida
Filipe Pedroso, o mais velho dos pescadores, levou a imagem à sua casa, e lá montou um oratório simples, deste oratório, a imagem foi para uma capelinha feita de pau a pique, construída por Atanásio Pedroso, o filho de Filipe às margens do rio Paraíba perto da estrada, . Nesta capela juntava-se a vizinhança a rezar o terço e cantar louvores e assim seguiram aumentando a devoção e os milagres relatados.
Com os constantes relatos de milagres e o crescente aumento de fiéis, a capela e a imagem atraíram a atenção do pároco da região, o Padre José Alves Vilela. O sacerdote ouviu testemunhas, colheu depoimentos, escreveu cartas e conseguiu que o Bispo do Rio de Janeiro fizesse de Aparecida uma imagem oficialmente milagrosa com direito à própria capela. A partir deste momento, a N. S. Aparecida passava a existir oficialmente para a igreja católica. Até então era uma manifestação popular. Após isso, foi construída uma capela no Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745. Foi esta capela que D. Pedro I visitou quando se dirigia a São Paulo em 1822 às vésperas da declaração da Independência. Nesta oportunidade D. Pedro prometeu que iria consagrar o Brasil à Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Na festa do dia 8 de dezembro de 1868, a princesa Isabel e o Conde d´Eu visitam a capela pela primeira vez, há relatos de que a princesa faz uma promessa em favor do nascimento de seus filhos e em 1884 retorna a visitar a capela de Nossa Senhora em agradecimento às graças alcançadas. A princesa doou um manto e uma réplica de sua coroa.
Com o crescimento ainda maior dos fiéis, aquela igreja tinha ficado pequena para a quantidade de romeiros, foi inaugurada em 24 de julho de 1888 aquela que hoje é chamada Basílica Velha.
Em 1894, o Brasil tinha acabado de tornar-se uma república e a Igreja foi buscar os padres redentoristas para cuidar de Aparecida.
Em setembro de 1904 houve a coroação de Nossa Senhora Aparecida como rainha do Brasil, juntamente com a coroa doada pela Princesa Isabel. Nesta data houve a maior concentração de pessoas da época para celebrar esta coroação.
Em 31 de março de 1831 Nossa Senhora Aparecida foi proclamada representante do povo brasileiro, Neste ano, foi inaugurado também o Cristo Redentor, no dia em que comemoramos N. Senhora Aparecida, 12 de outubro.
O Crescimento das romarias e dos fiéis seguia e os padres redentoristas lançaram-se a um novo desafio, construir uma gigantesca basílica, menor apenas do que a Basílica de São Pedro no Vaticano. A atual basílica foi inaugurada sob a benção de João Paulo II em 4 de julho de 1980 e desde então é destino de inúmeros fiéis vindos de todos os cantos do Brasil.
O atentado à imagem e as confirmações de dados históricos
Em maio de 1978, a imagem sofreu um atentado, um extremista quebrou o vidro de proteção na Basílica Velha e deixou a imagem cair no chão, quebrando-a em 200 pedaços. A cabeça foi o que sofreu o maior estrago. Segundo a artista plástica Maria Helena Chartuni, que foi a principal responsável pela reconstituição da imagem, aquela missão possibilitou inúmeras mudanças em sua vida. Dentre os inúmeros pedaços da imagem, um deles chamava a atenção, as mãos da santa, que mantiveram-se unidas como se seguisse em oração.
A fragmentação da imagem possibilitou aos artistas um estudo mais acurado sobre o material utilizado para a feitura da imagem e sob quais circunstâncias havia sido submetida. Houve a confirmação de que a imagem era feita de barro paulista e que originalmente era policromada, possivelmente adquirindo a cor castanho brilhante por estar submersa na água por muito tempo e estar exposta ao lume e a fumaça de candeeiros, velas e tochas.
Quanto a sua autoria, a análise concluiu que teria sido esculpida nas primeiras décadas do século XVII, período em que o principal escultor era o Frei Agostinho da Piedade, porém, este monge beneditino nunca esteve em São Paulo, mas existiu um aprendiz que produziu bastante em São Paulo, o frei Agostinho de Jesus, que depois de ter sido aprendiz na Bahia, viveu em diversos mosteiros em São Paulo, onde começou a produção de santos. Em sua oficina mais conhecida, a chácara dos monges beneditinos, esculpia santas de estilo e características parecidas com a imagem de N. Senhora Aparecida. Frei Agostinho de Jesus não assinava as suas obras e sua autoria não pode ser comprovada.
A mensagem de Aparecida
De todos os milagres atribuídos à devoção de Nossa Senhora Aparecida, o que sempre chamou atenção foi a mobilização para a vida de oração que a imagem despertou desde que foi retirada das águas do rio Paraíba do Sul. Quantos terços foram rezados, romarias percorridas, corações apaziguados, esperanças restituídas e graças alcançadas. Quantas almas mobilizadas por uma simples imagem quebrada e de pouco valor artístico. Só mesmo o amor inefável de Nossa Senhora para justificar.
Nossa Senhora da Conceição é aquela que esmaga a cabeça da serpente na batalha e a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida mostra ao povo brasileiro que podemos ser como ela: humilde, de barro, quebrada, mas resgatada do lodo e profícua na fé. Não importa se em batalhas nos quebrarem em 200 pedaços, assim como Nossa Senhora Aparecida, seremos reconstruídos, aprenderemos ainda mais sobre nossas origens e seguiremos com as mãos unidas em oração.
Salve Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil!!!!
Precisamos orar com intenções para o nosso Brasil e pelo povo que nossos corações e pensamentos junto a virgem para nós proteger hoje e sempre órgão por nós nossa mãe necessitamos muito de seu colo para abrandar nossos corações tendo paz amor e fraternidade sua bênção minha mãe e senhora
Sou evangélico e respeito as tradições e costumes de todas as religiões. Prefiro não fazer nenhum comentário do texto que faz parte da história de uma religião que a maioria dos adeptos a seguem. Texto foi muito bem explicativo e eu já conhecia um pouco da origem de Nossa Senhora de Aparecida.
Excelente texto, muito esclarecedor. Corrigir a data de inauguração do Cristo Redentor, para 1931.
O texto traz informações importantes sobre a nossa história e a de Portugal, intimamente ligadas também pela FÉ Católica. Descreve, com riqueza de detalhes e leveza, a devoção à nossa padroeira Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Vou divulgar. Parabéns, Flávia.
Que Nossa Senhora acolha o Brasil sob o seu manto santo e nos refugie do ataque comunista
Ótimo texto
Parabéns! Texto maravilhoso!
Salve Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil!
Santa Mãe de Deus, rogai pelo povo brasileiro!
Parabéns pelo excelente texto! Viva à Nossa Senhora de Aparecida! Rainha e Mãe do Brasil!
Importante o registro dos fatos. Possibilita o conhecimento e acompanhamento da nossa história religiosa! Parabéns!👏👏👏👏👏
Bom trabalho ! A pesquisa enriquece o conhecimento da história religiosa brasileira!! Parabéns!👏👏👏👏👏
Bom trabalho ! A pesquisa enriquece o conhecimento da história religiosa brasileira!! Parabén!