O dia da independência do Brasil de 2021 tem suscitado muitos debates, em todas esferas políticas: agentes políticos de esquerda e direita, formadores de opinião e críticos na esquerda e na direita, pessoas favoráveis também em ambos os espectros.

É importante observarmos que as manifestações populares de 07 de setembro são mais profundas do que um simples ato político partidário. Boa parte dos agentes da estrutura política acreditam que se trata de um movimento sob a alcunha jocosa de “bolsonarista”, quando na verdade é endossado até mesmo por diversos setores da sociedade que não enxergam em Bolsonaro a solução certa para os problemas do Brasil.

Muitos brasileiros estão indo às ruas por não estarem satisfeito com a estrutura das ações políticas no país e querem que sua voz seja ouvida. Existe um distanciamento profundo entre a classe política brasileira e o povo, onde este ultimo é importante e relevante somente a cada dois anos nas eleições, no que é chamado pela elite política de festa da democracia. Uma festa onde você é obrigado a comparecer e caso não seja é multado e pode até mesmo ter dificuldades aplicadas em sua vida civil. Por outro lado, quando o povo decide fazer a sua festa democrática, vestindo-se com as cores do país, indo com as famílias às ruas, é considerado ato antidemocrático. Mas qual o motivo disto?

O distanciamento de Brasília com o povo brasileiro, os fez acreditar que em 2013 o povo estava com raiva do preço da passagem de ônibus, da falta de médicos e infra-estrutura. Dilma Rousseff aproveitou o movimento criado pela própria esquerda e apareceu com o programa mais médicos para favorecer a ditadura cubana. Em 2015 e 2016 o povo clamava pelo impeachment de Dilma Rousseff; porém a classe política não percebia novamente que este ponto era apenas o sintoma exposto de algo muito mais profundo nas insatisfações populares; “Entregaram” Dilma à vontade do povo, acreditando que o movimento iria por fim a instabilidade e continuaria tudo de onde parou.

Durante o processo de reabertura no início dos anos 80, onde a esquerda começava a tomar o campo político e o imaginário popular, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira escreveu um importante artigo intitulado “Cuidado com os pacatos!”, onde quero destacar um pequeno trecho:

…Pois o brasileiro é cordato, e só gosta de assistir discussões e brigas quando não são “para valer” mesmo. Aí elas o encantam. É a hora da torcida, do “fuxico”, da “fofoca”, etc.”

Neste ponto, Dr. Plínio aponta para uma característica profunda do brasileiro, alvo de críticas de todos os espectros políticos no dia de hoje: a sua pacatez. Porém, isto não deve ser confundido com passividade. O brasileiro sempre acredita em soluções pacificas e que o bom diálogo irá trazer soluções. Foi assim por exemplo que o povo ficou por três anos na rua em diversas ocasiões e sem quebra-quebra, sem violência, sem atos antidemocráticos tentou apresentar sua insatisfação.

Vejamos outro trecho do artigo de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira:

Em outros termos, se os esquerdistas, ora tão influentes no Estado (Poderes 1, 2 e 3), na Publicidade (Poder 4) e na estrutura da Igreja (Poder 5), não compreenderem a presente avidez de distensão do povo brasileiro, deixarão de atrair e afundarão no isolamento. Falarão para multidões silenciosas no começo, e pouco depois agastadas.”

Vale notar que no cenário a atual, até mesmo as trincheiras entre esquerda e direita foram transpostas pela Estado profundo brasileiro, onde temos agentes de ambos os lados trabalhando para silenciar (de maneira figurada e também de fato em muitos casos) o povo brasileiro, sob o manto da democracia. Novamente a classe política segue em seu caminho próprio, acreditando que o povo nada sabe do que lhe interessa, em sua arrogância e soberba tendem a acreditar que o povo não sabe o que quer, que ele precisa na verdade é de controle, como já dizia Ciro Gomes.

Justamente esta arrogância é o que cega e distância a população de seus representantes. Novamente encaram a situação como um ato meramente político-partidário de apoio ao Presidente da República, preferindo fechar os olhos para uma realidade de um Brasil mais profundo, que deseja mudanças que vão além da economia ou de quem senta na cadeira presidencial.

Destaco outro importante alerta de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em seu artigo:

Em outros termos, se os esquerdistas, ora tão influentes no Estado (Poderes 1, 2 e 3), na Publicidade (Poder 4) e na estrutura da Igreja (Poder 5), não compreenderem a presente avidez de distensão do povo brasileiro, deixarão de atrair e afundarão no isolamento. Falarão para multidões silenciosas no começo, e pouco depois agastadas.

Insisto. Se o governo, a Publicidade, a estrutura eclesiástica não souberem manter-se no clima de pacatez, e passarem para a violência física, legal ou publicitária contra a oposição, os pacatos lhes dirão: mas, afinal, qual é a sinceridade, qual a dignidade de vocês, que quando eram oposicionistas reclamavam para si liberdade e respeito, e agora que são governo usam da perseguição e da difamação para quem é hoje oposição?”

Percebam, como comentei acima, hoje o estado profundo brasileiro (deep state) mesclou-se e, para que sobreviva, nos faz assistir a união de agentes de todos os espectros políticos tentando salvar stablishment tupiniquim.

Sim, o brasileiro é pacato, o brasileiro gosta de assistir “as tretas” comendo pipoca, mas quando ele percebe que a questão é séria e que uma injustiça está sendo feita, ele levanta e deixa sua pacatez de lado. Enquanto a classe política, intelectual e midiática não perceberem isto, estarão fadados a um estado de arrogância e empáfia que lhes cegam e os levaram à ruina.