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O choque entre o Globalismo Ocidental, Imperialismo oriental e a França de Macron

O choque entre o Globalismo Ocidental, Imperialismo oriental e a França de Macron

Emannuel  Macron voltou a falar nos últimos dias da criação de um exército Europeu integrado, ação que já havia sido proposta em 2018 juntamente com Angela Merkel. Em 2018 quando apresentou a ideia, Macron alegou inclusive que a medida visava proteger o continente de ameaças como a Rússia, China e EUA. Esta posição inclusive levou a um desentendimento público com Donald Trump que o lembrou que, não fosse a ajuda americana, os Franceses hoje falariam alemão.

A ideia de um exército europeu unificado é muito mais antiga e remonta ao final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, principalmente com o tratado de Maastricht. Também vale deixar registrado um dos principais objetivos de criação da União Europeia: ser uma força que consiga combater a hegemonia americana após a recém terminadas Segunda Guerra Mundial.

Em sua nova investida no tema, Macron realizou um movimento que surpreendeu a muitos: A França está disposta a ceder sua cadeira no conselho de segurança da ONU para a União Europeia, se esta aceitar a ideia de um exército unificado.

Este movimento além de surpreender, vem em um momento de profunda crise e descolamento de ideais por parte do stablishment em relação ao exército e o próprio povo francês. Existe, porém, uma análise em âmbito maior que precisa ser colocada sob perspectiva nesta questão e que pode nos ajudar no processo de encontrar respostas a médio prazo.

Globalismo ocidental x imperialismo oriental, qual o fiel da balança?

Estamos assistindo no momento, um choque entre duas forças revolucionárias, que ora entre-choca-se e ora cooperam em determinadas agendas.

O globalismo ocidental, tem como principal meio de ação transformar os Estados (países) em um espécie de cartório, onde as determinações são elaboradas e despachadas por agências supranacionais, por organismos burocráticos não eleitos pelo povo; Aplicando assim soluções globais para problemas locais, independente da cultura, diferenças históricas ou mesmo interesses dos povos em questão.

Nesta visão, é necessário cada vez mais influenciar diversos setores da sociedade, como a política, a mídia, a Igreja etc. Cabe aos governos locais somente definições básicas como o preço da passagem de ônibus ou obras de infraestrutura local, temas que não possuem impacto nas agendas globais e de controle de pensamento de massa.

Um exemplo claro que temos deste movimento, é o passo que a União Europeia está dando enviando de volta para os seus países diplomatas e políticos alinhados à sua agenda e os preparando para disputar as eleições dos executivos locais, para assim conseguirem um avanço de seus propósitos nos campos econômicos, sanitários e até mesmo de segurança. Além da União Europeia, temos neste espectro político forças internas dentro do Reino Unido, Estados Unidos, Brasil, Alemanha, França, Bélgica, Países Baixos, entre outros.

No outro lado, temos o que venho chamando de imperialismo oriental; onde, diferentemente de seu nêmesis ocidental, o poder fica concentrado nas mãos do Estado: a economia, a diplomacia,  o controle da cultura, a mídia, os projetos de infra-estrutura etc; O governante eleito ou não, possui o controle dos destinos da nação, com uma visão clara do que deve ser implementado, primeiro de acordo com sua vontade e objetivos, depois observando aspectos culturais e locais. Este método revolucionário tende inclusive a causar muita confusão nos conservadores ocidentais, pois estes, totalmente cercados pela agenda “globalista”, veem aspectos nacionalistas de fachada que torna a agenda sedutora para os espíritos combalidos dos conservadores ocidentais, tendo em vista que estes governantes chegam até mesmo a defender valores básicos da sociedade como a família e em alguns aspectos o direito natural (exemplo de Vladimir Putin na Rússia). Neste espectro revolucionário temos países como a China, Rússia, Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, Indonésia, Bielorrússia, Arzebaijão entre outros.

Porém o grande fiel da balança nestes tons de revolução, está justamente na questão das forças armadas. No modelo do imperialismo oriental, repousa nas forças armadas a principal fonte de controle e poder, tornando os exércitos extremamente fortes, decisivos, bem equipados e com influência política vasta. O chefe de estado destas nações, possui sempre um papel determinante junto às forças armadas e muitas vezes um cargo oficial. Através do poder do cano e da pólvora é possível ter um grande controle não somente interno, mas ter força externa para utilizar nos jogos diplomáticos. Já o globalismo ocidental precisa sempre utilizar o poder do estado internamente para limitar o poder de influência de uma oposição, fazendo com que as forças armadas, dentro de sua rigidez hierárquica e senso de nacionalismo, seja utilizada como uma marionete dos desígnios supranacionais e burocráticos.

Nos últimos vinte anos, estes processos tornaram-se cada vez mais complexos, tendo em vista a diminuição do poder da mídia que sempre foi um braço importante para a revolução no ocidente, e com isso várias pedras foram colocadas no bem trilhado caminho até então. Tendo como grande destaque as pautas populares e nacionais ganhando força, dentre muito exemplos temos três particulares: Brexit, Eleição de Donald Trump e de Jair Bolsonaro. Além disto, as forças armadas são formadas por pessoas que pensam, possuem direcionamentos ideológicos e até mesmo teológicos. Estes também começaram a tornar-se, de maneira mais comedida, um problema para o projeto globalista ocidental; Explico: Como dito acima, o grande método é tornar os Estados meros cartórios protocolares e nisto também entra as forças armadas. Forças armadas estas, forjadas no senso patriótico e na defesa dos interesses da nação, sendo um contra-senso estarem subordinadas a ordens que vão contra a nação, muitas vezes contra até mesmo o sentido natural de suas funções. Obviamente, pode-se destacar que temos diversos exemplos de militares que estão alinhados à agenda imposta por políticos e burocratas mundo afora, mas estes agente em geral não representam uma unidade das fileiras nacionais.

Neste contexto, temos uma grande dificuldade e ao mesmo tempo necessidade para o esquema globalista ocidental: Como enfrentar uma revolta interna em algum Estado sob sua influência e como ter uma força coesa contra seu nemêsis oriental?

E a França neste jogo?

Agora é necessário votar à França e dentro deste complexo xadrez geopolítico, irei ater-me somente aos aspectos que envolve suas forças armadas.

Nos últimos anos, uma convulsão silenciosa veio ganhando força dentro da França, o Estado francês cada vez mais foi distanciando-se do que eram as aspirações de seu povo e assim foram adicionando doses cada vez mais pesadas da agenda globalista, mesmo que para isso fosse necessário queimar chefes de Estado sucessivamente como foi com Nicolas Sarkozy, François Hollande e agora com Emmanuel Macron. Todos presidentes de um único mandato, com baixa popularidade e praticamente anulados da vida política após o período como presidentes.

Estas políticas de Estado também afetaram profundamente as forças armadas francesas ao longo das últimas décadas. Em abril de 2021, militares franceses da reserva publicaram artigo, repercutido pela revista Valeurs Actuelles, com o seguinte título: “Por um retorno da honra de nossos governantes”: vinte generais convocam Macron para defender o patriotismo. Além de alertarem para uma guerra civil iminente, sendo o principal pano de fundo a imigração islâmica em massa, eles também fizeram fortes declarações contra o governo Francês:

Quem poderia prever há dez anos que um dia um professor seria decapitado à saída de sua escola?”, perguntaram os militares na carta publicada.

Os militares afirmaram que não podem ser apenas “espectadores passivos” e apelaram ao governo francês para mostrar coragem e eliminar as ameaças que pairam sobre o país:

Não se esqueçam que, tal como nós, uma grande maioria de nossos concidadãos está farta de suas indecisões e silêncios culpados. A passividade do governo levará à explosão e à intervenção do Exército, que assumirá a missão de defesa dos valores da civilização e da segurança de seus compatriotas no território francês”, de acordo com a carta.

A resposta de Macron e de seu governo foi a pior possível: ameaças aos militares e o tom de enfrentamento foi adotado. Esta postura completamente desprendida da realidade profunda da França fez com que a tensão aumentasse e uma nova carta fosse divulgada em maio de 2021, desta vez com militares da ativa e a possibilidade de novos signatários por parte dos civis. A carta também publicada pela revista Valeurs Actuelles, aumenta mais o tom por parte das forças armadas:

Nossos camaradas seniores são combatentes que merecem ser respeitados. São, por exemplo, militares idosos cuja honra vocês pisotearam nas últimas semanas. São os milhares de servidores da França, signatários de uma tribuna de bom senso, militares que deram seus melhores anos para defender nossa liberdade, obedecendo a suas ordens, para combater suas guerras ou implementar suas restrições orçamentárias […]. Essas pessoas que lutaram contra todos os inimigos da França, vocês os chamaram de facciosos quando sua única culpa é amar seu país e lamentar seu declínio visível”

O documento continua com tom mais incisivo:

No Afeganistão, no Mali, na República Centro-Africana e em outros lugares, alguns de nós ficaram sob fogo inimigo. Alguns perderam camaradas. Eles ofereceram suas vidas para destruir o Islamismo, ao qual vocês estão fazendo concessões em nosso território.”

Macron mostrou-se completamente indignado com a formação do AUKUS, onde a França foi deixada de lado e com um contrato cancelado que gira na casa dos US$56 bilhões de dólares. Isto ocorre justamente no momento em que não se tem uma segurança do stablishment francês no poder. É importante ressaltar que acima de tudo, Macron tenta realizar um movimento para reanimar uma fera ferida gravemente, que sangra lutando pela vida que é a União Europeia. O bloco vem sofrendo reveses importantes mesmo nos avanços: implantação do EURO rejeitada por diversos Estados membros, forte oposição e até mesmo enfrentamento dos países da Europa Central às suas políticas e imposições autocráticas (principalmente Polônia e Hungria), a saída do Reino Unido do bloco (principal força militar do continente europeu), enfraquecimento da influência na Itália que levou Mario Draghi ao Poder em uma manobra para manter a importante península itálica sob sua influência, entre tantos outros exemplos.

Os países do bloco econômico ficaram até o presente momento com um único exército efetivamente poderoso: o francês. Esta manobra do Presidente francês em busca de um contra-ataque diplomático não seria justamente o que os agentes burocráticos de Bruxelas esperam? A tarefa não é simples, pois além da rejeição de diversos países do bloco, existe um ponto extremamente crítico que são as monarquias, explico: Os exércitos nestes países prestam juramento à coroa e não ao poder executivo parlamentarista de seus países. Sendo assim, existe um impasse profundo em países como a Bélgica, Dinamarca, Espanha, Países Baixos (Holanda) etc.

Agora, Macron completamente afogado em rejeição popular, sem apoio das forças armadas, com o povo nas ruas protestando contra o passaporte sanitário por mais de 10 semanas seguidas, avança com a ideia de um exército supranacional, como vimos um projeto antigo do bloco europeu, porém com o adendo de abrir mão dos interesses diplomáticos e de segurança dos franceses na geopolítica, um ato de submissão total de sua soberania e abertamente contra os interesses da França civil e militar… a nação francesa em si. Este movimento pode unir os Estados membros da União Europeia por sua fortificação militar e dar um novo animo para a fera que está sangrando, ou, pode piorar a hemorragia e acelerar o processo de dissolução do bloco.

Faz-se necessário um olhar aprofundado sobre a França e esta nova investida em torno da globalização das forças armadas. Olhar por cima do ombro de maneira jocosa a “fraqueza” de Macron é justamente dançar a música revolucionária dos globalista ocidentais, pois queimar o agente político é parte do processo para avançar com a agenda. A civilização ocidental está lutando contra a doença em seu organismo com todas as forças, se isto será o suficiente, somente o tempo irá nos dizer.

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