Por Angélica M.S.Eduardo

Em relação a lazer não tenho dúvidas, minhas preferências são capazes de mudar qualquer frustração ocorrida.

Leitura, é a primeira! Nada como o cheiro de um livro novo, ou a intimidade com um livro antigo, que confunde-se com o formato dos nossos pensamentos através de anotações, rabiscos e grifos.

Tal atividade traz calma, transporta os nossos pensamentos á um novo território, muitas vezes nunca antes explorado.

A segunda, na realidade diz respeito à uma dobradinha. Bem mais dinâmicas que a primeira: correr ou dançar! Sim, não importa qual dessas duas atividades, ambas geram em mim uma sensação imensurável, tudo depende apenas do local onde estou, e qual cenário é oferecido para a prática. Funciona como um anestésico lançado ao sangue em forma de, endorfina, liberando assim uma essência criativa.

Mas no dia 07 de janeiro de 2021, a pilha de livros em minha frente estava sem graça, maçante, não havia ali um título sequer com capacidade de despertar interesse!
O mais envolvente ritmo de salsa, um asfalto plano ou o tênis mais moderno não eram suficientes para gerar motivação.

Então recordei que uma vez(na realidade foram várias), assisti um filme com o título: O dia depois de amanhã. E quase ao término do filme, no momento de suspiro de alívio, eu ao contrário de todos me senti angustiada, imaginando como seria realmente acordar no outro dia com aquela triste realidade.

Como trabalhar com questões tão pertencentes à minha expectativa que em nada eram harmoniosas com a realidade.

Como diferenciar e dosar a fé, a esperança separando-as das ilusões. O meu dia depois de amanhã chegou, e juntamente comigo muitos se sentiram da mesma forma.
Por toda a trajetória humana, e “evolução” do pensamento, a luta da criação acontece em torno de uma procura incessante de romper com a tutela da igreja e valores embasados na verdade absoluta. Ridicularizar o que transcende o humano, natural, científico e material tornou-se uma nova missão.

As conquistas advindas de tal caminho foram o medo e a insegurança (camuflados em um nível intenso de intelectualidade). E assim estamos sempre em estado de alerta, tentando lidar com as consequências de tudo aquilo que contraria os nossos planos, metas e sonhos, em especial quando as frustrações nos alcançam em um momento crucial, onde todos vivem dia e noite debaixo de uma ameaça de extinção, notícias escatológicas, sentenças de caos infindável, o dilema existencial bate na porta com força brutal.

Negar a realidade parece a melhor saída. Como isso aconteceu? Será que não perceberam que estavam cercados por traidores? Ainda não entendeu que o sistema é falho e não envia recados da tragédia que se aproxima?

Adiar a esperança é o desejo que nos convida a um futuro utópico. É bem mais fácil
acreditar que isso não passa de uma estratégia articulada, vamos adiando mais e mais a esperança, olhando a realidade através de um vidro embaçado pelo vapor da negação.

E assim chegamos ao nível o qual estamos, cansados, exaustos, lutando não apenas com o real, verdadeiro e tangível , mas também com o ideal futuro hipotético dos nossos melhores sonhos.

O abatimento e o desânimo conduz ao mau combate, e o nosso chamado é para
combatermos o bom combate, só assim a fé é guardada.

Sem forças para correr, dançar, ou tão somente abrir um livro, o melhor caminho ou decisão é dar continuidade, não parar, uma vez que recuar não é opção.

Não posso fugir da atual realidade, mas posso utilizar todos os acontecimentos de uma dimensão “pós-tragédia”, para estabelecer firmeza moral, raízes profundas e consistência concreta, que não se dispersam no ar, ou são abalados por qualquer ventania.

O momento pede posicionamento, escrever livros, artigos, registrar a história, pensar nas palavras: Legado e Gerações.

Por mais antagônico que isso possa parecer, ter fé e a esperança que traz cura e não adoecimento as emoções consistem em encarar a realidade e se mover em direção ao foco certo.

Se envolver no bom combate, usando métodos de alcance eficazes, mas sem negociar princípios e valores.

Limitar a nossa tendência humana de acreditar que sempre existe um coelho na cartola e incentivar a maturidade para encarar o fato que sempre teremos que lidar com o Dia depois de amanhã!