Há dois motivos para não sermos compreendidos: o primeiro, quando falhamos, por ignorância ou imperícia linguística, na transmissão de nossas ideias; o segundo, quando o nosso interlocutor é incapaz de apreender o sentido do que estamos lhe dizendo. Ambos os motivos têm consequências, mas enquanto o primeiro gera, no máximo, a impaciência no ouvinte, o segundo pode provocar nele pavor.

Sócrates explica isso em sua Alegoria da Caverna, ao contar sobre a pessoa que, após deparar-se, pela primeira vez, com a luz, tomada de compaixão pelos antigos companheiros que permaneciam nas sombras, retorna até a cova escura, onde eles estão, para contar-lhes a novidade. No entanto, nesse trajeto de retorno, já não mais adaptada à escuridão, impossibilitada de enxergar qualquer coisa com distinção, age de maneira desajeitada e esquisita, provocando, nos moradores da caverna, estranheza e medo.

Na vida real ocorre o mesmo. Quem se depara com um conhecimento que não está imediatamente disponível às pessoas comuns não consegue mais fazer uso das categorias e fórmulas usadas em seus tempos de ignorância. Assim, quando tenta se comunicar com os ignorantes, aos olhos destes acaba parecendo um excêntrico. Os ignorantes, então, concluem que o conhecimento transmitido pode ser perigoso e, por mais que não o entendam, acham melhor afastar seu portador.

Diversos alunos e leitores meus relatam algo semelhante: que, ao contar para seus amigos e familiares sobre o conhecimento que adquiriram, são tratados como estranhos, loucos e até perigosos. No entanto, o principal motivo não costuma ser a discordância dos ouvintes, mas o medo provocado neles por algo tão fora do seu universo de consciência.

Este é o preço que o conhecimento cobra. Sendo assim, para quem o adquire, resta esforçar-se por traduzir, em uma linguagem compreensível aos ignorantes, a nova realidade ou, simplesmente, conformar-se com a reprovação social. Se bem que o exemplo de Cristo, que fez bem aquilo, mostra que esta geralmente é inescapável.