Estou decepcionado com o brasileiro. Sua fama de malandro, do cara esperto que finge trabalhar, que tem jogo de cintura, que dá nó em pingo d’água está sendo negada. Diante das determinações esdrúxulas de tirânicos tediosos, eu esperava que ele fosse sair pela tangente, fingindo obediência, só para não se dar mal. Por isso, vê-lo parecendo japonês em fila de parque de diversões, seguindo todas as regras à risca, é decepcionante.
Sinceramente, eu imaginava que o brasileiro fosse agir com mais astúcia, usando a máscara só para não levar bronca, fazendo piada com o álcool gel e disseminando o espírito do rapa da 25 de Março, interpretando a peça da obediência, num teatro lindo de esperteza e capacidade de autopreservação. Mas, apesar de ainda existir o tupiniquim raiz, em geral, o brasileiro está irreconhecível. Correto demais, tem cumprido as determinações com uma civilidade Suiça. Rígido demais, tem obedecido as regras de maneira germânica. Mais ainda, tem feito o impensável: exigido que seus compatriotas ajam germanicamente também. E esta está sendo sua ruína.
Meu Deus! O que fizeram com nosso espírito? Nossa esculhambação seria a nossa salvação. O mesmo espírito que faz com que o Islã não se cresça por aqui e força o comunismo a se adaptar à malemolência tropical, agora – logo, agora! –, quando nossa selvageria é exigida, para salvar-nos da ordenação e racionalidade fascistas e piegas, que susta nossa liberdade até naquilo que é trivial, decidiu tornar-se civilizado. Olhem a Europa civilizada! Está sumindo. Olhem a América civilizada! Se destruindo por dentro. O mundo todo está sofrendo e clama pela nossa jocosidade bárbara e o estamos decepcionando, mais uma vez.
A salvação do mundo, diante de tanto autoritarismo científico e pseudo-tecnocrático, seria abrasileirar-se. Mas nos corrompemos e decidimos ser civilizados, na hora errada. Durante toda nossa história, preferimos ficar à margem das benesses da civilização. Agora, que ela ruiu, queremos fazer parte dela. Somos decididamente o penetra, garboso e excitado, que invade a festa no final, quando a bebida já acabou e só sobraram os bêbados estirados pelos cantos. Finalmente, evoluímos e é exatamente isso que está fodendo com tudo.