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O valor do sacrifício e o católico Playland

Basta observar com atenção a prática do catolicismo atual para constatar uma crosta considerável da cultura pagã na consciência cristã, não somente nos católicos superficiais, mas, também, nos que se consideram os mais notáveis em profundidade doutrinal: um sútil e arraigado horror ao sacrifício.

Quem de nós não admite que um parque de diversões como o antigo Playcenter ou uma praça de jogos eletrônicos e brinquedos como a Playland, com todas as suas atrações e entretenimentos, não é ainda um sonho não só para as crianças, mas, igualmente para nós adultos? Voltamos a ser infantes ao se aventurar nos jogos e em cada brinquedo nos desligando por um momento das preocupações da vida adulta e nos deleitando nas lembranças e ilusões da infância.

Eu mesmo, não há muito tempo, num dia de folga, fui a um shopping de São Paulo e entrei na Playland, e nem sequer sabia que ainda existia. Foi um sonho ao ver todos aqueles jogos e brinquedos que marcaram minha geração e me lembrei quando lá estive com meu pai há tantos anos.

Não perdi tempo e me entreti em vários games, fliperamas e brinquedos ficando até frustrado em não poder entrar em alguns que não é permitido para adultos. Mas, foi muito divertido até acabar toda a porcentagem do cartãozinho de créditos que se adquire na bilheteria, até que então voltei ao mundo real! Ao sair dali, segui com “a liturgia” fazendo umas compras, fui à praça de alimentação, tomei um cafezinho, aproveitei para pegar um cineminha e coroei o dia com um sorvete. Uauuuu! Que dia!!

Porém, voltei para casa refletindo sobre as facilidades do mundo moderno e a ilusão das mesmas. Acabou que tudo isso me levou do meu quarto da casa paroquial ao sacrário da igreja para considerar diante de Deus todo o deslumbre que às ilusões do mundo moderno nos causa.
Concluí, ao rezar por todas aquelas pessoas que estavam no shopping, que o mundo de hoje nos submete a uma liturgia de rito modernista, com suas idéias, seus conceitos, suas regras e nos iludindo com as facilidades e comodidades, ao mesmo tempo, gerando em nós um verdadeiro horror ao sacrifício, ao cumprimento do dever, à responsabilidade e à oblação.

O catolicismo de hoje se insere neste mundo pagão e modernista com todos os seus desvios e desvários, suas ilusões, seus ditames e seus rituais, determinando a práxis do católico que, por mais que se revista de religiosidade, se não cuida do cultivo sincero da vida interior não se purifica da crosta do paganismo modernista e revolucionário na prática de vida: a aversão à cruz ou ao sacrifício, este que é o cerne do seguimento de Cristo.

Tal realidade se nota na vida prática dos católicos de hoje. Nem consideramos aqui os católicos estatísticos que pouco ou nunca vão à missa ou se confessam, ou seja, que nem sequer são católicos. Mas aqui versamos sobre o católico tradicional, fiél, que estuda, conhece e pratica a sua fé buscando a vida sacramental e a vida de oração nos preceitos da lei de Deus e da moral católica.

A força brutal do mundanismo determina o estilo de vida de nossa gente influenciando, até imperceptivelmente, o modo de viver dos católicos numa prática religiosa que se situa pontualmente, mas, dentro de um leque de atividades, compromissos e entretenimentos em que a fé acaba por ser apenas uma atividade entre as outras. Assim, no fim de semana, como todo mundo faz, os católicos tem suas ocupações e vão ao supermercado, à farmácia, ao cabeleireiro, ao shopping, ao parque, à padaria, ao churrasco, ao estádio de futebol, à casa do sogro, ao cinema, ao restaurante e… à santa missa!

Disso, o mais curioso é que tudo tem o seu horário solto e sua duração livre como as compras, os passeios, as festas, as refeições etc. Mas, a santa missa tem que ser num horário determinado e mais cômodo, visto que hoje em dia nada se contrapõe ao que convém à nossa brasileiríssima mesquinhez: “a missa no domingo não pode me obrigar a levantar cedo e também não pode ser um pouco mais tarde porque vai atrapalhar o meu almoço! Não pode ser a tarde porque tem o jogo de futebol, não pode ser a noite porque é muito tarde pra mim

. A igreja precisa estar situada em local de acesso conveniente, precisa ter um bom estacionamento ao lado, ahh e o preço tem que ser bem barato! Perto tem que ter uma boa padaria e também um posto de gasolina da empresa que eu confio, precisa ter uma farmácia da rede que tenho cadastro para desconto, a igreja tem que ter ar condicionado, os bancos tem ser confortáveis e a missa tem que acabar logo porque tenho que almoçar, passear e me divertir com minha família! Não é que a religião não é o mais importante, é que tenho compromisso familiar, pois, meus familiares (que não querem saber de igreja) não podem esperar”.

Também há as questões de circunstâncias diversas: “se chover não dá pra ir, tá muito frio e vou pegar gripe, tá muito sol vou me queimar, tá muito calor e vou desmaiar, tô com dor de cabeça, tenho visitas, vou pra praia, tenho churrasco no sítio, tenho um casamento, tô muito cansado, não fiz as unhas, me sinto mal… Ou seja, se a missa não cumprir todos os requisitos simplesmente se transgride a lei de Deus: “não deu infelizmente para ir à missa neste domingo! Ahh, mas, não tem problema… depois eu confesso”! A pessoa não se propõe a cumprir o primeiro dever no domingo, só uma vez na semana, porque se requer o mínimo de sacrifício e supostamente nada colabora para ir à missa “parece que algo me impede, não sei o que é… deve ser o diabo!”

A cultura pagã e revolucionária, mesmo não nos convencendo nas idéias e até mesmo nós às combatendo, nos inseriu na prática e no estilo de vida a mentalidade de uma liturgia modernista em que o ritual começa do estacionamento da residência ao do shopping, no ar condicionado do carro, seguindo às compras, às diversões, aos entretenimentos, aos games, aos mencionados brinquedos da PlayLand, à praça de alimentação, ao cinema, ao sorvete, todos os finais de semana e feriados (inclusive religiosos) na praia ou no sítio, todos iguais na uniformidade, nos mesmos costumes pagãos, na mesma ritualística idolátrica, semelhante linguagem, servindo iludidos ao deus do hedonismo numa vida em busca incessante de comodidades, conforto, facilidades, prazeres e dissipações!

Isso tanto é verdade que esta contra-cultura determina a nossa vivência de fé nos levando imperceptivelmente, na prática, a enxergar a Igreja apenas como se fosse uma capela pequena e vazia, dentro de um grande e atraente shopping ou um encantador parque de diversões, com um leque de atrações irresistíveis, determinando e impondo que ir até a igreja rezar exigiria um grande sacrifício e tomaria o precioso tempo das diversões e comodidades. Poderia até ir, mas brevemente e, se no caso, houvesse tempo!

Precisamos nos perguntar se ao imaginar um domingo específico, num lugar e horário determinado, mas com todas as condições contrárias, com todas as dificuldades e impossibilidades, tivesse que buscar uma quantidade de três bilhões em dinheiro honesto, de legítimo direito e contando com todo o benefício que traria… Que empenho empregaríamos, quantas coisas renunciaríamos, iríamos até nos arrastando, colocaríamos todo o sacrifício necessário para chegar ao local exato, na hora certa e dispostos a todo tempo, deixando até os familiares esperando! O santo sacrifício da missa é de valor infinito, a imolação incruenta de todo o Santíssimo Corpo de Cristo e derramamento de todo seu Sangue Preciosíssimo, será que não requer de nós todo o nosso sacrifício, toda a renúncia a nós mesmos e a tudo, usando de todos os meios possíveis, até mesmo a ponto de dar a vida por isso, se necessário??

A prática do amor ao sacrifício, por causa de Cristo, se dá na renúncia a nós mesmos e nossas vontades abandonando as ilusões desse mundo, com suas comodidades, facilidades e prazeres. Nosso primeiro dever e acima de tudo é para com Cristo e tudo o mais por causa dele! Isso custa sacrifício e, na Santa Missa que é a renovação do sacrifício do Senhor, unimos o nosso sacrifício ao dele! Assim, sendo a missa sacrifício, para ser um verdadeiro católico requer oblação: o nosso sacrifício! É o sacrifício abnegado que nos purifica de toda essa crosta pagã que o modernismo e o progressismo propositalmente nos impôs de buscar os prazeres em detrimento do dever diante de Deus.
Amamos verdadeiramente o sacrifício? Estamos dispostos interiormente a se sacrificar pela fé, nada ante-pondo ao amor de Cristo? Somos católicos de verdade ou ainda aqueles sonhadores, iludidos católicos Playland? Pra refletir…

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