Daniel Ortega inclui na reforma de mais de 100 artigos da Constituição a criação de uma “polícia voluntária” que utilizará para aumentar a repressão e evitar outro surto social como o de 2018.
A “polícia voluntária” é a nova organização que Daniel Ortega ordenou criar para aumentar o autoritarismo na Nicarágua. Esta é uma das alterações contidas na reforma de mais de 100 artigos da Constituição com a qual o ditador pretende legitimar este novo órgão parapolicial que utilizará para reprimir qualquer sinal de descontentamento com o seu regime e que imita os grupos civis armados criados pelo chavismo na Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez.
A nova medida consta do artigo 97, que estabelece que “a Polícia Voluntária é criada como órgão auxiliar de apoio à Polícia Nacional, composta por cidadãos nicaraguenses que prestam seus serviços voluntariamente”. No entanto, nada mais são do que eufemismos. O tirano sandinista quer evitar novos surtos como o que ocorreu em 2018 como resultado das reformas do sistema de segurança social e da crise econômica e política generalizada. Até então, 355 pessoas morreram nas mãos da repressão estatal, segundo dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Conheça a nova obra de Paulo Henrique Araújo: “Foro de São Paulo e a Pátria Grande”, prefaciada pelo Ex-chanceler Ernesto Araújo. Compreenda como a criação, atuação e evolução do Foro de São Paulo tem impulsionado a ideia revolucionária da Pátria Grande, o projeto de um bloco geopolítico que visa a unificação da América Latina.
Agora Ortega, amigo do falecido Hugo Chávez e aliado do seu herdeiro Nicolás Maduro, copia o seu modelo para implementá-lo na Nicarágua. Em 2001, o ditador venezuelano anunciou a criação dos Círculos Bolivarianos, úteis um ano depois, durante o golpe contra ele, para atacar os protestos dos cidadãos. A partir desse momento, esses grupos armados – formados principalmente por líderes de gangues criminosas – impuseram sua própria lei, percorrendo as ruas do país em motocicletas, com bandeiras e armas nas mãos. No final, acabaram se tornando inimigos das próprias forças policiais.
Institucionalizar os paramilitares
Esta ordem do ditador da Nicarágua não traz nada de bom. E embora a sua proposta deva ser aprovada pelo Parlamento, trata-se de um mero procedimento, uma vez que o partido Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) detém a maioria dos assentos. Os meios de comunicação da nação centro-americana, como o La Prensa , não escondem que esta “Polícia Voluntária” na realidade apenas “institucionaliza os paramilitares”.
Daniel Ortega propõe também nesta reforma constitucional incluir como símbolo nacional a bandeira da FSLN, de ideologia marxista fundada em 1961. Devemos acrescentar também o seu objetivo de alargar o mandato presidencial de cinco para seis anos, tendo em conta que houve reeleição por tempo indeterminado desde 2014 e a criação de uma “copresidência”, que ficará acima da Vice-Presidência, que permanecerá nas mãos de sua esposa Rosario Murillo, segundo palavras que proferiu em fevereiro do ano passado. “Aqui está a camarada Rosario Murillo, copresidente da República. É assim mesmo: ela é copresidente da República! Na Constituição teremos que fazer algumas reformas”, disse então.
Embora a alteração do artigo 23º especifique que “a Polícia Voluntária ficará vinculada e subordinada às respectivas Delegações Policiais e caberá à Especialidade de Segurança Pública executar o recrutamento, organização, fiscalização e controle das forças que compõem este órgão”, Na prática, as coisas provavelmente serão diferentes. O caso da Venezuela mostra que estes grupos de vigilantes acabam por ser dirigidos pelo próprio ditador.
Assim como os grupos chavistas foram parte indispensável da repressão ao regime venezuelano, nem tudo foi benéfico para a ditadura do país sul-americano, pois acabaram sendo contraproducentes a ponto de o atual ditador ter anunciado planos infrutíferos de “pacificação”. para “lutar contra a “violência criminosa” que desencadeou o monstro criado pelo próprio partido no poder.
