PHVOX – Análises geopolíticas e Formação
Camila Abdo

Pacto Germano-Soviético – Quando Hitler e Stalin se uniram.

 

No ano de 1939, em meio à atmosfera de tensão política que desencadeou a sucessão de conflitos da Segunda Guerra Mundial, um acordo de não agressão foi firmado entre a Alemanha e a União Soviética, o Pacto Germano-Soviético ou Pacto Ribbentrop-Molotov.

Como tudo começou

¹Na Segunda Guerra Mundial, o governo britânico dispunha de uma importante alternativa: uma aliança com a União Soviética. Tal gesto apresentava grandes vantagens afinal se tratava de uma grande potência a se incorporar no esquema coletivo de segurança, ajudando a Polônia e distraindo a Alemanha, criando assim, uma frente no Leste. A oposição britânica clamava por essa aliança, do mesmo modo que os franceses, que, comprometidos com os poloneses sem terem sido consultados, desejavam qualquer aliança com os russos e o embaixador britânico Beck recusaria qualquer auxílio que fosse oferecido pelos soviéticos. Entre os britânicos, alguns acreditavam que os russos não tinham condições de luta no momento, outros não confiavam na União Soviética (URSS). A todos os países ocidentais atemorizava uma aliança com um país socialista; chegando a ser considerada a hipótese de uma vitória russa ou pior, uma vitória alemã. Mas não havia opções, já que as alianças eram necessárias para conter Hitler.

A proposta feita pelos britânicos não agradou a Stálin pois a URSS deveria fornecer ajuda “se está fosse pedida ou desejada”. A aceitação ou não da ajuda ficava a cargo dos poloneses. Os russos, entretanto, não poderiam decidir sobre a oportunidade da ajuda. Deveriam esperar, pacientemente, ativos ou inativos, conforme a vontade alheia.

Não ficou claro, na história, quais eram as reais intenções de Stalin ao buscar tais alianças. Alguns alegam que ele queria uma aliança sólida com as Potências Ocidentais.

Os bolcheviques estavam colocados numa péssima situação e de qualquer modo sairiam prejudicados: num momento são considerados monstros, no outro espera-se que sigam uma política mais idealista do que a dos demais países.

Segundo alguns documentos da época, o governo soviético ansiava por uma aliança firme, mas os britânicos, quando não evasivos prolongavam indefinitivamente as discussões sobre a aliança desejava. Em maio, as negociações chegaram a um impasse. Os russos desejam uma aliança puramente defensiva. Os ingleses sempre incluíam a cláusula “se desejada” em todos os projetos. Quando esse ponto era rejeitado, interrompiam as negociações. Hitler permanecia em silêncio. Os franceses eram menos complacentes. Se tudo falhasse, fariam uma aliança com os soviéticos, sem se preocupar com a Polônia. Para impedir isso, os britânicos prosseguiram as negociações com a URSS. Dessa vez pareciam dispostos a oferecer um pacto de segurança mútua.

Os russos temiam que Hitler atacasse outros países antes da URSS – o que, de acordo com a geografia dos países, não poderia ser diferente -, por isso eles exigiam que uma “agressão indireta” (a países vizinhos) fosse considerada como uma agressão a União Soviética, mesmo no caso da rendição pacífica de uma pequeno país vizinho.

Os britânicos recusaram essa proposta e estavam dispostos a se autodefender e defender os pequenos países. Além disso, havia a desconfiança que a URSS tivesse planos imperialistas semelhantes aos planos de Hitler.

Finalmente, Molotov, o comissário soviético para Assuntos Estrangeiros, sugeriu que as partes deveriam interromper a discussão sobre o acordo político e iniciar conversações militares para examinar como funcionaria a aliança, se chegasse a se concretizar. Os britânicos usaram isso para atrasar ainda mais as negociações. Já os franceses desejavam uma aliança com os soviéticos. Desse modo, os governos britânicos e francês nomearam delegações militares e as enviaram a Leningrado, mas com a maior demora possível.

Quando as delegações chegaram, já não era mais possível realizar um acordo.

Durante as negociações, foi-se descoberto que, tanto os britânicos como os russos, receberam ofertas de fontes alemãs não oficiais. Os russos indicaram seu desejo de renovas suas relações comerciais com a Alemanha. Os ingleses foram mais longe: os agentes de Chamberlin manifestaram aos alemães a disposição britânica de satisfazer os desejos de Hitler com relação a Dantzig, desde que isso fosse feito de maneira pacífica e respeitável.

Isso resolvido, a Grã-Bretanha esqueceria sua garantia à Polonia, ofereceria ainda um empréstimo de 1 milhão de libras à Alemanha e as boas relações seriam, afinal, restabelecidas.

No começo de agosto, Hitler sabia que as conversações entre as Potências Ocidentais e Rússia haviam chegado a um impasse. Sabia também que o governo da Grão Bretanha pagaria qualquer preço para evitar a guerra. O povo britânico, pensava Hitler, esperava uma aliança com os soviéticos. Se ele pudesse mostrar que essa esperança não tinha futuro, a Grã-Bretanha seria obrigada a ceder. Hitler, em partes, tinha razão.

Ele somente esqueceu que o povo britânico poderia ter a sua própria vontade. Era uma tolice pensar que, sem o auxílio da União Soviética, a França e a Grã-Bretanha poderiam sozinhas fazer algo para deter Hitler. Entretanto, a maioria do povo britânico acreditava nisso.

O PACTO NAZI-SOVIÉTICO

O pacto foi idealizado em 23 de agosto de 1939. Esse acordo deu a Hitler a certeza de que poderia dispor da Polônia sem temor; parece ter concluído que a Grã-Bretanha e a França abandonariam seu aliado.

²Na ocasião, Hitler disse no Parlamento em Berlim: “Os senhores sabem que a Rússia e a Alemanha são governadas por duas doutrinas diferentes. Mas, no momento em que a União Soviética não pensa em exportar a sua doutrina, eu não vejo mais motivo que nos impeça de uma tomada de posição. Por isso decidimos firmar um pacto que exclua o uso de todo tipo de violência entre nós por todo o futuro”.

No seu discurso no Reichstag, Hitler não disse uma palavra sobre o que a Alemanha e a União Soviética assinaram de fato em 23 de agosto de 1939. Pois o chamado Pacto Hiltler-Stalin não consistia só na parte oficial em que os dois ditadores se comprometiam em não apoiar os inimigos um do outro, mas também um protocolo adicional secreto. Nesta parte ficou combinada uma divisão da Polônia e da Finlândia, e os Estados bálticos e a Bessarábia foram prometidos à União Soviética.

 

Oito dias antes do ataque alemão contra a Polônia, o protocolo falava, previamente, de uma “reorganização político-territorial” do Estado polonês e de uma invasão pelas tropas da Wehrmacht, como esclarece o historiador alemão Karl-Dietrich Bracher.

“Já em maio de 1939, Hitler disse a comandantes militares que não poderia mais alcançar novos êxitos sem derramamento de sangue. Quer dizer que estava escolhido o caminho para a guerra. Agora então só se poderia falar sobre quais as possibilidades de marchar para a guerra por um caminho plausível e sem grandes riscos.”

Embora a curto prazo trouxesse importantes benefícios para os soviéticos, o Pacto Nazi-Soviético causou uma enorme controvérsia na esquerda francesa e britânica.

Havia poucas probabilidades de que o conflito armado pudesse ser evitado, caso a Polônia se mantivesse firme, embora Chamberlain, os franceses e Hitler talvez esperassem que assim fosse. A opinião pública britânica, porém, considerava a luta inevitável. Isso de fato ocorreu: a França e a Inglaterra acabaram declarando guerra à Alemanha nazista em setembro de 1939.

Como em ditadores sedentos por territórios não se confia, Adolf Hitler, firmou o pacto de não agressão principalmente com o propósito de ganhar tempo para os seus planos de guerra.

No final de 1940, ele deu instruções concretas, sob o código Barba-Roxa, para sua campanha contra a União Soviética. Em 22 de junho de 1941, as tropas nazistas atacaram, de surpresa, o território soviético.

O pacto Hitler-Stalin – uma aliança entre dois ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos –, que deveria possibilitar aos dois parceiros conquistas territoriais e políticas de grandes proporções e, ao mesmo tempo, mudar o equilíbrio político na Europa, é considerada por muitos uma mácula na história.

 

Bibliografia

¹ Histórias do Século 20. Editora: Abril Cultural – 1968

² DW – site de notícias, acessado em 01/03/2022 às 23h00 horas

https://www.dw.com/pt-br/1939-assinado-o-pacto-de-n%C3%A3o-agress%C3%A3o/a-615078

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