George Soros, um nome que ao ser mencionado ativa as mais diversas emoções pelo mundo. Para uns, trata-se de um generoso filantropo que procura desenvolver um mundo melhor e mais justo. Para outros, trata-se de uma figura nefasta que tem por objetivo a subversão da sociedade e da política através de seus financiamentos.
Este é o primeiro texto de uma série semanal em 3 partes que lançaremos aqui no PHVox. Neste artigo, teremos um panorama sobre Soros, suas origens e articulações de maneira ampla. No segundo artigo entenderemos como foi criado o Partido das Sombras, seu principal instrumento na política americana. No terceiro artigo, a Open Society Foundation e sua forma de trabalhar.
George Soros nasceu em 1930, na Hungria, e vem de uma família judia apóstata. Durante a Segunda Guerra Mundial, sobreviveu como assistente de um funcionário fascista encarregado do confisco dos bens e propriedades dos judeus condenados à morte nas câmaras de gás; depois da guerra, em 1952, mudou-se para Londres, onde começou a trabalhar no mercado financeiro e recebeu suas primeiras influências das idéias globalistas; em 1956, mudou-se para os Estados Unidos, onde prosseguiu sua carreira no mercado financeiro; em 1973, lançou o Soros Fund, renomeado em 1979 para Quantum Fund. Decorridos quase 30 anos de vida nos Estados Unidos, George Soros conseguiu, em 1985, que sua empresa atingisse a marca de um bilhão de dólares de valor de mercado; nessa época, ele deu uma declaração muito importante: “Tendo conseguido isso, eu poderia, então, satisfazer minhas preocupações sociais”.
Quando George Soros chegou aos Estados Unidos, trouxe diversas idéias anticapitalistas e antiamericanas na bagagem, além de uma forte convicção de que a sociedade precisa ser moldada de cima para baixo — ou seja, melhorada por meio de uma engenharia social; chegou a declarar que ficaria na América somente o tempo suficiente para fazer dinheiro, porém ganhou mais do que esperava, gostou das benesses do país e, por fim, até se naturalizou americano.
Começou a trabalhar suas “preocupações sociais” em 1987, com investimentos superiores a três milhões de dólares — valor que, no ano de 1992, chegou a três bilhões — em projetos “sociais” (fundações e grupos ativistas). Esse valor foi destinado sobretudo a organizações da Ásia e da Europa Ocidental que ajudaram a derrubar o regime comunista em vários países. Daí em diante, George Soros conseguiu fazer com que suas empresas de investimentos crescessem cada vez mais, e até admite que, com a queda do comunismo naqueles países, ele tomava a frente para comprar toda a falida massa estatal do antigo regime, privatizando-a.
George Soros é um revolucionário. Não um comunista como sempre é acusado. É preciso superar essa visão de que todo revolucionário é comunista e de que a Revolução se resume apenas à esquerda. Soros, tão pouco é um contra-revolucionário, mas simplesmente não acredita no modelo marxista-leninista de revolução, o qual vê como uma brutal perda de tempo e dinheiro (já declarou, em entrevistas, odiar o modelo da extinta União Soviética, por julgá-lo “ineficaz”). É nesse contexto que entendemos por que ele trabalhava para derrubar esses regimes — e fazer dinheiro com sua derrocada.
Qual é a teoria de Soros?
Uma das principais ideias de Soros, também bastante complexa, é a sua teoria da reflexividade dos mercados financeiros, em que o investidor, basicamente, defende que a narrativa influência na realidade e faz com que a narrativa se torne a própria realidade por sua influência.
Por exemplo, se os investidores acreditam que os mercados são eficientes, essa crença mudará a forma como investem, o que por sua vez mudará a natureza dos mercados em que participam (embora não necessariamente os tornem mais eficientes).
A reflexividade tem íntima ligação com a falibilidade, ou seja, em situações com participantes pensantes, as visões de mundo dos participantes nunca correspondem perfeitamente ao estado real das coisas.
O início de um sonho
Em 1993, Soros criou o Open Society Institute, sediado em Nova York, empregado para injetar dinheiro em grupos ativistas com as mais variadas pautas, desde a legalização do aborto, a liberação das drogas, a abertura de fronteiras, o controle de armamentos e, até mesmo, o ativismo revolucionário do poder judiciário. Essas idéias começaram a soar como música para os ouvidos do Partido Democrata, levando à aproximação do empresário, e agora filantropo, com a família Clinton, que, na época, estava na Casa Branca. Não se sabe ao certo quando foi seu primeiro contato, mas, em 1995, Soros concedeu uma entrevista ao programa The Charlie Rose Show, da rede de tv pbs, em que declarou o seguinte: “Eu tenho agora acesso à administração Clinton. Não há dúvida sobre isso: nós trabalhamos como uma equipe”.
Lembram-se do famigerado programa Obamacare? Antes de receber esse nome, chamava-se Hillarycare! Esse projeto entrou em discussão no governo americano entre 1995 e 1996. As propostas do projeto para saúde pública eram muito semelhantes às do Open Society. Nos círculos internos do Open Society, chamavam esse projeto de forma bastante peculiar: “Projeto da Morte na América”. Publicamente, enfatizava-se um verniz de humanitarismo, com a promessa de que o governo cuidaria da saúde de todos. No bojo da proposta, porém, havia a idéia de incorporar ao sistema de saúde governamental hospícios e tratamentos paliativos; no fundo, o que se desejava realmente era definir onde valeria a pena investir recursos. Se um paciente estivesse com altas probabilidades de morrer, em vez de investir fortunas para tentar fazê-lo sobreviver, propunha-se a administração de tratamentos paliativos e a destinação da maior parte dos recursos para outras finalidades mais “eficientes”. Macabro? Sim. Mas era essa a proposta do programa Hillarycare.
Os valores investidos por Soros nessa empreitada foram astronômicos: nada menos que 45 milhões de dólares em campanhas e financiamentos de grupos voltados à aprovação do projeto, que, no entanto, fracassou. O projeto Hillarycare foi derrotado na opinião pública por causa de uma campanha publicitária relativamente barata para os padrões americanos, com investimento de apenas 14 milhões de dólares em anúncios protagonizados pelo casal fictício “Harry & Louise”, que representava o típico casal americano; nas peças publicitárias, eles apareciam conversando, preocupados com o que poderia acontecer caso o Hillarycare fosse aprovado. Esse fracasso marcou o momento da virada, crucial para o desenvolvimento do Partido das Sombras.
Foi então que Soros teve uma “epifania” e entendeu o que precisava fazer — identificou uma “desenfreada liberdade de expressão” na América. Chegando à conclusão de que seria necessário mudar o sistema político para assim ampliar o cerceamento da livre circulação de idéias, viu que adiantava pouco gastar milhões em campanhas e lobbies políticos sem ter garantia de que as idéias que propalavam estariam incorporadas na opinião pública.
O meio de fazer isso foi encontrado num projeto de lei que estava em tramitação desde 1995 e se destinava a modificar o sistema de financiamento de campanhas eleitorais nos Estados Unidos. Soros devotou suas energias para que esse projeto ganhasse força e lhe fosse possível controlar sua forma final; criou uma rede de influência que embarcava rádio, televisão e pesquisas universitárias (muitas das quais se provaram infundadas), e, com isso, fez parecer que a sociedade americana estava preocupadíssima com os métodos usados pelos partidos Democrata e Republicano para gerenciar os recursos destinados a suas campanhas, acabando por levar essa “preocupação da sociedade” para dentro do Capitólio, exercendo pressão sobre os congressistas.
O resultado foi a aprovação da lei McCain-Feingold. Seus proponentes foram os senadores John McCain, do Partido Republicano, e Russ Feingold, do Partido Democrata. O projeto foi promovido com o conhecido apelo emocional de “dois partidos unidos pelo mesmo ideal, lutando por um mundo melhor, por uma política mais limpa, estruturada sem os interesses do grande capital” (mas George Soros investiu cerca 12,6 milhões de dólares no aparato de manipulação da opinião pública a favor do projeto, inclusive financiando John McCain e o próprio Partido Republicano).
É evidente que havia uma pegadinha embutida no projeto; a legislação proibia o financiamento de campanha indireto, e não se podia mais — como pessoa física ou jurídica — investir quanto quisesse numa campanha apenas entregando valores aos partidos; e eram permitidas somente as contribuições diretas limitadas, através de comitês de ação política. Essas medidas levaram ao total esvaziamento dos cofres dos dois partidos e, logicamente, George Soros só precisaria escolher o lado em que iria operar: o Partido Democrata.
Explico melhor: o doador de uma campanha precisa entregar o dinheiro especificamente para os comitês ou para um grupo de engajamento político. Como o voto nos Estados Unidos não é obrigatório, existe, na lei, a previsão de grupos não vinculados a um partido fazer campanha para este ou aquele candidato, a incentivar as pessoas a saírem de casa para votar e, inclusive, criar meios para os eleitores comparecerem aos locais de votação. Nas eleições de 2020, houve denúncias de que alguns desses grupos até preenchiam cédulas de votação. O ponto é: George Soros passou a financiar diversos desses grupos, totalizando 527 instituições.
O estrago foi imenso. O dinheiro disponível para os partidos foi limitado, e os tais grupos, por sua vez, devido ao seu poder financeiro (um poder obtido com o financiamento de George Soros), começaram a ter voz ativa nas pautas da política americana e a coagir adversários. É assim que se desenvolve o Partido das Sombras.
A dominação do Partido das Sombras se estende muito além do âmbito partidário. Tal como na aprovação da lei McCain-Feingold, a ação política se faz por meio de campanhas publicitárias e discussões na mídia. De início, é preciso criar na opinião pública a sensação de que uma pauta é a mais importante de todas, que precisa ser debatida porque representa o desejo da sociedade. A mídia trabalha, com financiamento de George Soros, para que uma ideia pareça hegemônica; ao lado dela, diversos grupos de ação, também financiados por Soros, trabalham para disseminar essa mesma ideia no cotidiano do povo e silenciar os opositores, primeiro, na espiral do silêncio, e, em seguida, tolhendo sua liberdade de expressão.
Cumpre-se assim o diagnóstico e o tratamento de Soros para a “desenfreada” liberdade de expressão vigente na América. O que se pode ser dito ou não é definido segundo regras que nunca estão bem claras. A situação que vemos hoje surgiu vinte e cinco anos atrás, estruturada com método e objetivo. As opiniões que se afastam das pautas progressistas têm cada vez menos espaço, caracterizadas como “notícias falsas”, “teorias da conspiração”, “negacionismo”.
A lei McCain-Feingold foi promulgada em novembro de 2002. Reproduziremos a seguir um artigo publicado em 2014 no Washington Post, por Robert K. Kelner, presidente da área de Direito Eleitoral da Covington & Burling llp e Raymond L. La Raja, professor associado de Ciência Política da Universidade de Massachusetts.
McCain-Feingold inclinou a influência em nosso sistema político na direção dos extremos ideológicos. Durante séculos, os partidos políticos desempenharam um papel moderador. Como compõem uma ampla coalizão de interesses, os partidos tinham de agir como mediadores entre eleitores concorrentes, buscando posições intermediárias que lhes granjeassem máximo apoio. Tradicionalmente, usaram sua preponderância de recursos para impor disciplina aos extremistas que ameaçavam o ambiente amigável no partido. Mas a lei McCain-Feingold desviou o fluxo do dinheiro das doações indiretas aos partidos e o direcionou a grupos de interesse, muitos dos quais preferem concentrar sua atenção em questões altamente controversas (aborto, controle de armas, ambientalismo). Estas não são necessariamente as questões que mais preocupam a maioria dos americanos, especialmente quando há uma situação econômica difícil. Com os partidos batendo em retirada, será surpresa que nosso debate político nacional tenha assumido um tom mais extremo, ou que cada vez menos moderados sejam eleitos?
George Soros usou a seu favor pautas que representavam anseios da sociedade, impossibilitando, assim, futuras campanhas como a de “Harry & Louise”. O projeto foi o embrião para a criação do Partido das Sombras que colocou na Casa Branca Barack Obama e Joe Biden, com Soros controlando por meio de influência e fluxo financeiro diversas pautas nas administrações de ambos os presidentes.
A forma de instrumentalização para se opor a iniciativas como “Harry e Louise”, foram também a base para o sistema de enquadramento social na internet, culminando na instituição das agências de checagem, cunhagem da expressão fake-news e a descredibilização sistemática de qualquer opositor como mentiroso e conspiradores, utilizando para isto uma máquina de financiamento e agentes distribuídos em pontos-chave na sociedade: mídia, organizadores de comunidades, think tanks, políticos e intelectuais acadêmicos tanto quanto orgânicos.