Dia 11 de julho é comemorada a festa litúrgica de São Bento de Núrsia, Padroeiro da Europa, Alemanha e do PHVox. A sua importância para a civilização ocidental é enorme, sendo um dos principais responsáveis pela reconstrução moral pós queda do Império Romano do ocidente na invasão dos bárbaros, sendo peça chave na conversão e também na socialização destes.

São Bento teve papel fundamental na formação de novos hábitos, ensino de civilidades à mesa, na resolução de conflitos sem que a morte dos adversários fosse necessária e até mesmo na educação das crianças com amor, ao invés da disputa que era característica dos bárbaros.

Início da vida

Nascido em Nórcia no dia 24 de março de 480 e falecendo em monte Cassino no dia 21 de março de 547 aos 66 anos de idade.

A fonte de todos os acontecimentos da vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório Magno, redigidos por volta de 593, que se baseou em fatos narrados por monges que conheceram pessoalmente São Bento.

Segundo o papa Gregório I, São Bento foi filho de uma família nobre romana da região de Nórcia (próximo à cidade italiana de Espoleto), onde realizou seus primeiros estudos. Mais tarde, foi enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, mas, tendo-se decepcionado com a decadência moral da cidade, abandona logo a capital e retira-se para Enfide (atual Affile), em 500. Ajudado por um abade da região chamado Romano, instalou-se em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como eremita. Depois de três anos nesse lugar, dedicando-se à oração e ao sacrifício, foi descoberto por alguns pastores, que divulgaram a fama de santidade. A partir de então, foi visitado constantemente por pessoas que buscavam conselhos e direção espiritual.

Foi então eleito abade de um mosteiro em Vicovaro, no centro da península Itálica.

Um dos fatos marcantes de sua vida, deu-se devido a sua rigidez, o que fez com o que os monges de seu abade tentassem envenená-lo, mas, no momento em que dava a bênção sobre o alimento, saiu da taça que continha o vinho envenenado uma serpente e o cálice se fez em pedaços. Com isso, São Bento resolve deixar a comunidade e retornando à vida solitária, vivendo consigo mesmo: habitare secum.

Em 503, recebeu grande quantidade de discípulos e fundou doze pequenos mosteiros. Em 529, por causa da inveja do sacerdote Florêncio, tem de se mudar para Monte Cassino, onde fundou o mosteiro que viria a ser o fundamento da expansão da Ordem Beneditina. É nesse episódio que Florêncio lhe enviou de presente um pão envenenado, mas Bento deu o pão a um corvo que todos os dias vinha comer de suas mãos e ordenou à ave que o levasse para longe, onde não pudesse ser encontrado. Durante a saída de Bento para Monte Cassino, Florêncio, sentindo-se vitorioso, saiu ao terraço de sua casa para ver a partida do monge. Entretanto, o terraço ruiu e Florêncio morreu. Um dos discípulos de Bento, Mauro, foi pedir ao mestre que retornasse, pois o inimigo havia morrido, mas Bento chorou pela morte de seu inimigo e também pela alegria de seu discípulo, a quem impôs uma penitência por regozijar-se pela morte do sacerdote.

A Regra de São Bento

A regra de São Bento era baseada em ensinamentos escritos por ele e tinha como objetivo formar os jovens cristão de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo e prática dos mandamentos. Acreditava-se que através dessa regra e a vida comunitária e não individual era mais fácil atingir a perfeição.

Além disso, a Regra de São Bento deixava todos bem à vontade e era aplicada e moldada de acordo com a capacidade e limitações de cada um. “Oração e trabalho” (ora et labora) era o seu lema principal onde a oração era transformada em trabalho e o trabalho em oração, através da fé e da obediência.

A Regra de São Bento, presentes na Regula Monasteriorum é composta por um prólogo e 73 capítulos. Este documento, acredita-se foi baseado em um livro de regras mais antigo, a Regula Magistri, composta por autor desconhecido na mesma região da Itália. Dom Steidle propôs as seguintes divisões temáticas para as Regras de São Bento:

  1. Estrutura fundamental do mosteiro: capítulos 1-3
  2. A arte espiritual: capítulos 4-7
  3. Oração comum: capítulos 8-20
  4. Organização interna do mosteiro: capítulos 21-52
  5. O mosteiro e suas relações com o mundo: capítulos 53-57
  6. A renovação da comunidade monástica: capítulos 58-65
  7. Porta do Mosteiro e Clausura: capítulo 66
  8. Acréscimos e complementos: capítulos 67-72
  9. Testemunho pessoal de São Bento sobre a Regra: capítulo 73

Expansão e consagração

Os mosteiros beneditinos tornaram-se centros de referência e deles saíram vários nomes e ícones da Igreja Católica. Ao todo, foram 23 papas, 5 mil bispos e cerca de 3 mil santos canonizados.

As mulheres também tiveram a sua vez dentro da doutrina beneditina e lideradas pela irmã de bento, Santa Escolástica, tiveram a oportunidade de desfrutar de seus ensinamentos adotando também a “Regra de São Bento” e mais tarde ficando conhecidas como monjas beneditinas.

Após a sua morte, em 547, a imagem e figura de São Bento propagou-se mais e mais o fazendo ganhar o título de “padroeiro da Europa”.

Medalha de São Bento

A medalha de São Bento é um dos maiores símbolos e heranças deixadas por esse santo e seus significados e simbologia são de extrema importância para a Igreja Católica e para todos os seus devotos que a veneram com fé e amor.

As primeiras medalhas foram confeccionadas dentro do Mosteiro Cassino e como símbolo principal carregam a cruz, muito usada por Bento em diversas situações de sua vida, inclusive naquelas em que evitou por várias vezes a sua morte. Para Bento, o sinal da cruz era como um sinal de coisas boas sendo feitas, um sinal de vitória contra o mal e a morte.

A medalha sofreu várias variações e nas mais antigas é possível encontrar a figura de São Bento rodeada pela frase em latim “Eius in obitu nostro presentia muniamur” (que a hora de nossa morte, nos proteja tua presença). As medalhas mais atuais tem essa frase substituída por “Crux Sancti Patris Benedict” ou ainda “Sanctus Benedictus”.

Em 1647, em Nattremberg, na Baviera, por ocasião da condenação de algumas bruxas, que afirmaram não conseguir praticar qualquer tipo de feitiçaria ou encanto contra lugares em que houvesse a imagem da Cruz, em especial, a abadia de São Miguel em Metten. Intrigados com o fato, as autoridades foram averiguar o que existia no mosteiro. Ao entrarem em uma das dependências, observaram entalhadas nas paredes imagens da cruz tal como estão representadas nas medalhas utilizadas hoje.

Oração a São Bento

Na biblioteca dessa mesma abadia, encontraram um manuscrito do ano de 1415, o qual continha, além de textos, ilustrações, sendo uma delas a de São Bento, com uma cruz e uma flâmula, com os versos da medalha: Crux sacra sit mihi lux, non draco sit mihi dux. Vade retro satana, nunquam suade mihi vana. Sunt mala quae libas, ipse venena bibas. Esta que passou a ser a oração de São Bento:

“A Cruz Sagrada seja a minha Luz.

Não seja o dragão o meu guia.

Retira-te satanás.

Nunca me aconselhes coisas vãs.

É mau o que tu me ofereces.

Bebe tu mesmo o teu veneno.”