No passado, os homens viviam em ambientes limitados, que os forçava à adaptação. As gerações nascidas neste mundo industrial e capitalista, porém, já vêm à luz cercadas de possibilidades, tendo à sua disposição mais bens que mesmo os mais abastados de tempos anteriores jamais puderam sonhar.
Viver num mundo próspero é muito bom, mas também gera nos felizardos que nele nascem a sensação de que toda essa abundância é natural, fazendo parte da própria estrutura da realidade. São como primitivos caídos na civilização, como dizia Ortega y Gasset, sem qualquer noção do quanto de trabalho deveu-se tudo aquilo que a civilização construiu.
O fato é que todo desenvolvimento se dá sobre uma linha contínua, sem sobressaltos, na qual cada etapa se sustenta pelas etapas que se passaram e sem as quais não poderia acontecer. Por isso, se podemos desfrutar de tanta coisa boa e se há tantas possibilidades disponíveis para nós, é porque houve um caminho até aqui pavimentado pelos homens e mulheres das eras anteriores.
Sendo assim, tudo o que existe hoje é fruto de trabalhos que, muitas vezes, se iniciaram séculos antes, fazendo da sociedade na qual vivemos apenas a fase atual de uma construção iniciada há muito tempo. Somos nada mais do que a conquista dos homens do passado. Somos a culminação de seus esforços.
Até mesmo os erros dos antepassados contribuíram para chegarmos até aqui, pois com eles aprendemos e pudemos corrigir a rota para as melhorias necessárias.
Fala-se muito de respeito ao passado, mas esse respeito começa pelo reconhecimento da dependência que temos dele. Não é apenas um amor à tradição por ela mesma, nem um apego aos tempos antigos, mas uma admissão do quanto os que viveram antes de nós foram necessários para sermos quem somos e termos o que temos.
Apenas essa forma de enxergar essa relação com o passado é que nos faz gratos e, ao mesmo tempo, promete que seremos respeitados por aqueles que nos sucederem.