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Socialismo e Religião

Publicado originalmente em “O Legionário”, 17 de março de 1935, N. 167

Afirmam repetidamente socialistas e comunistas que não são inimigos da Religião, e que a prática desta não encontrará dificuldades no regime socialista. Somente o sacerdócio não poderá persistir por ser, dizem eles, a exploração organizada do povo. Essa a afirmação que ainda há pouco expunha em sua primeira página um jornal desta capital, simpatizante de Moscou. Há nela algumas considerações a fazer no que se refere à sua primeira parte, pois a segunda está tão clara, que as dispensa perfeitamente.

Argumento feito para convencer os operários cristãos a aderirem ao internacionalismo marxista, mostra de início a fraqueza deste, que assim aparenta renegar os seus ideais de materialismo e de ateísmo para permitir que ingressem em suas fileiras os que creem em Deus. Estes, porém, têm o direito de repelir o sofisma com que lhes apontam os pregadores soviéticos.

Como admitir que a prática da Religião seja livre se não se permite que ela tenha seus ministros? Então a Religião é algo de puramente individual, de interno, que cada um pratica como entende, sem ritos, sem cerimônias e sem doutrina? A quem vai ser entregue a guarda de sua pureza doutrinária? Ao ensino de homem a homem, ensino esse de verdades tão grandes por inteligência tão pequena como é a humana?

Todas essas interrogações são insolúveis sem a existência do sacerdócio. Não há religião sem ministros, como não há, uma vez que argumentamos com socialistas, socialismo sem doutrinadores e chefes. Todo o corpo de doutrina do socialismo se mantém graças aos intelectuais, aos sociólogos, aos doutrinadores, que resolvem as questões duvidosas, que traçam normas de conduta, que o anunciam, que o propagam.

Na Religião, do mesmo modo: os sacerdotes são os mestres da doutrina, são os diretores espirituais, são os pregadores; sem eles, não há Religião, porque aos poucos, suas grandes verdades se deformam nessa transmissão puramente oral, e da tradição, a que não auxilia o magistério vivo do sacerdócio.

Admitimos também que o socialismo queira a felicidade do homem, e que o regime não pretenda governar povos de escravos. Portanto, se os homens podendo praticar livremente sua Religião reclamarem, para satisfação de suas consciências, a existência do clero, até que ponto os governantes socialistas ou comunistas atenderão a essa solicitação? A lógica mandaria que ela fosse atendida integralmente, pois está demonstrado que sem sacerdotes não há Religião. Pensarão assim os socialistas, e estarão dispostos a renegar na prática à proibição do sacerdócio? Ou o homem é livre de praticar sua Religião e então o sacerdócio também é livre, ou o homem não é livre, pois não se lhe permite o sacerdócio que é necessário, e o regime é, portanto, mentiroso.

E que nos mostram até agora os fatosOnde o regime socialista se tem instaurado, tem havido essa liberdade de praticar a Religião? Podemos dizer que o regime tem cumprido socialisticamente a palavra! Campanha contra toda a Religião, morte aos cristãos, igrejas destruídas ou transformadas em clubes, em sedes de sociedades antirreligiosas, campanha dos “Sem Deus” e muito mais, na Rússia. No México, onde existe o mal terrível de um exército socialista que também ameaça nossa Pátria, o panorama não é menos desolador que no Antigo Império Russo; é de todos os dias, o martírio lento, suportado, entretanto com a fortaleza cristã, daquele povo secularmente religioso. E a Espanha, a quem a república socialista de Abril de 1931 trouxe a expulsão das ordens religiosas, o incêndio e o saque das igrejas, culminando na revolução comunista de Outubro de 1934. E se esses são os fatos de agora, quantos do passado em todos os países da Europa, mostrando a mentira da liberdade religiosa sempre prometida e nunca concedida pelo socialismo, que na realização prática se encontra sempre em oposição às suas promessas.

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