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Brasil

Um breve comentário econômico: quem vai pagar a conta desta vez?

Elevação de Taxas de Juros pelo globo deve ter efeito limitado sobre a inflação, mas ainda é extremamente necessária para auxiliar no rompimento da inércia inflacionária e constranger investimentos ruins.

 

Se já não bastassem todos os efeitos adversos e reflexos econômicos dos absurdos lockdowns gerados pela crise do Coronavírus, agora temos um contexto de grande preocupação em mãos, uma guerra no leste europeu, que não apenas adiciona uma volatilidade muito maior aos mercados e, sobretudo, ao preço das commodities que já vinham descalibrados desde 2020, mas que também impulsiona os riscos e temores de inflação ao redor de todo o globo. No Brasil sabemos que os índices de inflação seguem fora de controle, apesar de termos sido um dos primeiros governos no mundo a começar um ciclo de alta de taxa de juros, ainda no início do ano passado – alta essa que, diga-se de passagem, já chegou com atraso aqui. Em fevereiro o indicador de inflação oficial (IPCA) voltou a acelerar, superando aumento de 1%, impulsionado principalmente pelas altas em commodities metálicas e energéticas – já um grande reflexo da guerra na Ucrânia e do bloqueio Internacional à economia russa. Nos Estados Unidos, que já tiveram em 2021 o maior índice de inflação registrado desde 1982 (acima de 7%), a inflação também segue acelerando, afetando sobretudo as cadeias de consumo mais dependentes de energia e transportes rodoviários, e também os setores de serviços – que esteve muito em alta durante toda a pandemia, já operando com valores elevados.

 

Ontem, a Federal Reserve (FED), principal autoridade monetária dos Estados Unidos decidiu (finalmente) aplicar um aumento nos juros básicos da economia americana, com o objetivo não apenas de conter a inflação, mas também de tentar evitar uma grande disparidade entre oferta e demanda por dólar. Sabemos que a medida, apesar de acertada, vem com muito atraso, e que, por isso, deve ter um efeito reduzido diante da inflação americana, uma vez que tais políticas monetárias demandam tempo de mercado para de fato começarem a exibir resultados. De toda forma, como a economia americana é infinitamente mais robusta e madura que a economia Brasileira, por exemplo, é provável que esse resultado surta efeito com maior agilidade e que os americanos não necessitem de uma sequência de aumentos de juros tão vigorosa como a nossa – mas isso não nos devia do fato de que teremos um contexto ainda mais complicado em 2022 e 2023 do que o atual, principalmente porque esse aumento de prêmio nos juros americanos não apenas tem o potencial de alavancar uma queda generalizada de Bolsas nos Estados Unidos e no mundo (investimentos mais seguros passam a pagar mais, reduzindo a atratividade daqueles mais arriscados), mas também de fazer com que o Tesouro Americano absorva novamente grande parte da renda mundial – uma vez que a economia mais segura e estável do mundo pagará mais para cada dólar investido/emprestado a ela.

 

Muito do cenário ainda é incerto, sobretudo diante do quadro no leste Europeu e dos possíveis resultados dessa situação para países como China (que deve se beneficiar muito pelo conflito, ainda que indiretamente) e Rússia (obviamente), que deve se tornar cada vez mais dependente da parceria chinesa – ajudando assim a alavancar a importância internacional da China, principalmente na economia. Contudo, já sabemos que dois “resultados gerais” são possíveis:

 

  1. Uma piora grave do quadro econômico a nível internacional devido ao aumento de instabilidade e à dificuldade de readequação de ritmo nas cadeias produtivas;
  2. Um alongamento do Horizonte de crise, diante pequenos “alívios” na pressão econômica diante de ajustes (interessados) dos governos – o que levaria o problema maior, o ápice da crise, para um pouco mais adiante no tempo, talvez até agravando mais a situação.

 

Seja qual for a situação, o fato é que existe um dilema inevitável, um paradoxo incômodo, nessa política monetária: ao mesmo tempo em que precisamos de aumentos de juros internacionalmente para conter as inércias inflacionárias, as políticas restritivas também dificultam a retomada de crescimento e aumentam os custos de produção e investimentos em diversas cadeias – dificultando a superação do choque de oferta que vivemos hoje (que é o principal fator da nossa inflação generalizada). Ou seja, é extremamente necessário reduzir a capacidade de demanda (para controlar a disparada de preços), mas essa medida tem impacto limitado e de longo prazo na inflação que vivemos – gerada majoritariamente pela queda de oferta internacionalmente após o coronavírus – e esse remédio (necessário), infelizmente deve também prolongar os problemas que temos nas cadeias produtivas hoje. Um paradoxo incômodo, sim, mas que precisa ser aplicado para que o ritmo inflacionário pelo menos fique sob controle, e para que se evitem maiores distorções econômicas do que aquelas (muitas) que já temos hoje, sobretudo na perspectiva de investimentos. Como vimos em períodos passados, taxas de juros artificialmente baixas com o objetivo de impulsionar emprego e crescimento geram um nível irreal de preços e distorções graves nas janelas de investimentos reais – seja no mercado imobiliário, seja em empresas de serviços/tecnologia, seja em negócios resultantes de tendências. E, para piorar, adiciona-se a tudo isso o endividamento público que segue recorde para a maioria dos governos.

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