Não há sombra de dúvidas que após a propagação do acesso a internet, o advento das redes sociais mudou completamente a comunicação no mundo. Através dela houve inclusive um despertar para assuntos antes restritos a um pequeno grupo de pessoas. As redes sociais deram voz a milhões… aliás, bilhões de pessoas em todo o mundo. Todavia, como é da natureza de qualquer interação humana, também surgiram os problemas decorrentes disto. Hoje quero tratar especificamente disto.
Um dos primeiros pontos de interação na internet entre pessoas foi pelo e-mail, ainda nos anos 1970. Tratava-se de uma comunicação direta e de redação livre entre as partes e, mesmo após 50 anos, continua mais atual do que nunca. Após o natural desenvolvimento de ferramentas de comunicação, as redes sociais passaram a moldar a forma como este conteúdo seria gerado: limitado a fotos, vídeo de 60 segundos, texto com 140 ou 280 caracteres e afins. Este processo condicionou a forma de raciocinar e pensar das pessoas, mudando a forma como elas se expressam, se comunicam e até mesmo como formatam seus pensamentos fora de ambientes virtuais. Isto vale tanto para quem produz o conteúdo, quanto para quem o consome.
Os danos colaterais vieram rapidamente, mesmo naquilo que foi positivo. No campo do pensamento e da análise política, as mensagens passaram a ser extremamente reducionistas, onde a simplificação (que possui o seu valor pedagógico em determinados momentos da comunicação), passou a ser a regra e a abordagem rasa de qualquer tema, uma necessidade tão grande quanto o ar que se respira. Aliado a isto, quem cria o conteúdo precisou especializar-se em uma nova técnica além de criar um conteúdo bom: chamar a atenção em meio a oferta pulverizada. Isto criou um mercado secundário de informação, baseado puramente na estética e gatilhos psicológicos. Muitos destes passaram a ser reduzidos a sensacionalismo e uma espécie de letreiro com neon piscante. A qualidade do que se produz passa a cair em detrimento à “propaganda”.
Este processo levou ao nivelamento por baixo a capacidade de comunicação e de exposição de ideias, gerando uma máquina de simplificações generalizadas sobre absolutamente qualquer assunto, o que se tornou também um terreno fértil para desinformação ideológica e política. Processo este que vem sendo utilizado com maestria por grupos de formação de ideológicas e até mesmo agências de inteligência mundo a fora.
Não quero aqui ser injusto e classificar as redes sociais como a culpada de um processo social que a transcende, óbvio que não. O próprio professor Olavo de Carvalho, certa vez reclamava do que tinham virado as colunas de jornal: um espaço cada vez mais curto onde não era possível o desenvolvimento de uma ideia e um conceito, fazendo com que o autor se obrigasse a cada vez mais simplificar o seu texto, o que poderia gerar diversas interpretações.
As redes sociais, de certa forma são um espelho da sociedade e, ao mesmo tempo que reflete o que vem do mundo físico, o seu reflexo também passa a exercer influência ao seu redor, como o calor que é transmitido pelo reflexo de um raio de sol em pedaço de espelho. Desta forma, precisamos estar atentos se estamos tirando o melhor proveito desta ferramenta ou se estamos virando escravos condicionados ao algoritmo, vivendo apenas do calor transmitido por este reflexo.
Uma pessoa nos dias de hoje, recebe em uma única semana, o mesmo volume de informações que uma pessoa comum recebia durante a vida inteira no século XVIII. Com tamanho volume de dados e oferta de conteúdo, é praticamente impossível retermos tudo. Por isso, penso ser importante cada vez mais delimitarmos a atenção que damos a determinadas pontos geradores de informações, criando mecanismos pessoais de “indicadores de qualidade” daquilo que consumimos.
Todo este processo descrito neste breve texto levou a uma contradição até mesmo cômica dos dias atuais: é possível o sujeito estar informado sobre tudo e não entender absolutamente nada.
Muito interessante Paulo Henrique!
A descrição no texto está ao encontro do que reflito, desde o final dos 1900’s, com a “digitalização”! Se não me engano, começou pela música, “capando”, pela média, o que escapava à massa de ouvidos; redução da qualidade pela quantidade reprodutiva do compactado. Não parou mais, escalando a segregação dos órgãos, acho que nesta ordem: audição; visão; raciocínio; compreensão. O vinil, inútil, pela extinção dos ouvidos, o filme Kodak idem, pela pressa dos olhos; o livro rabiscado pelo Kindle; Deus pelo Bot.
Bom Dia Paulo, gostaria de saber se é possível “copiar e colar” no Face, artigos seus como este sobre “a arte de saber tudo e não entender nada” .
Olá Sr Ailton. Claro, pode sim, só peço que referencie o autor e se possível deixe o link para o artigo original.
De fato, hoje temos “tudo” na palma da mão, no entanto, não buscamos saber o que realmente vale ser entendido. A soberba do homem acompanha a sua evolução tecnologica, e a medida em que avançamos virtualmente nos distanciamos de tudo aquilo que vale a pena saber. Queremos sempre o que não podemos e buscamos sempre o que não devíamos. Somos em grande parte um saco vazio que enchemos de ar das informações pífias que nos ofertam dia e noite. Mas como diz o ditado, saco vazio não para em pé.