Viver a Filosofia e tê-la como a atividade principal de sua vida traz um inconveniente: socialmente, parece que você não faz nada de relevante. A Filosofia, no imaginário popular, é vista como um tipo de hobby, uma atividade muito específica, que algumas pessoas praticam por mero pendor particular. Não seria, nesse sentido, muito diferente da dedicação à jardinagem ou à coleção de carrinhos.
O desprezo vulgar pela Filosofia torna difícil convencer as pessoas de sua importância, de sua necessidade à vida privada e pública. Nenhum argumento parece ser convincente o suficiente. No máximo, podem achar que falar de filosofia e ensiná-la é algo bonitinho, apreciável, louvável inclusive, mas jamais como uma atividade crucial.
Não é por acaso, porém, que a Filosofia é incompreendida. Enquanto as pessoas estão acostumadas a julgar tudo por suas aparências, ela insiste que se deve olhar para além delas, mais especificamente, para as suas causas.
Se eu insisto no ensino da Filosofia é só porque tenho a convicção de que o pensar filosófico é a base fundamental para a compreensão correta de qualquer coisa, inclusive de outras disciplinas, como a Teologia, o Direito, a Biologia etc. E isso exatamente porque ela busca as causas, afinal, como dizia Aristóteles, conhecer é conhecer as causas.
Ao trazer ao conhecimento as origens, motivações e fundamentos, a Filosofia deixa mais claro o que o fenômeno é. Se eu sei, por exemplo, o que a caneta com a qual escrevo é, isso é possível porque eu tenho ciência de algumas de suas causas: sei do que ela é feita, para quê ela foi feita, de que forma foi feita. Com isso, sei qual é a sua posição neste mundo. E quanto mais causas dela eu conhecer, mais a compreenderei.
Dizer que a Filosofia investiga causas é o mesmo que dizer que sua atividade principal é perguntar o que as coisas são. Isso faz todo sentido porque uma coisa é formada pelas qualidades que já existiam antes da própria coisa formada por elas, o que faz dessas qualidades causas da própria coisa.
Há tantos intermediários entre o fenômeno e nossa percepção deles que, se não nos perguntarmos sobre suas causas, seremos facilmente enganados por sua aparência. Sem o questionamento dos motivos, somos incapazes de compreender qualquer coisa. Perguntar por que algo é torna-se um exercício de superação, afastando aquilo que confunde e se aproximando da essência do que observamos. Forçamos a revelação dos motivos para desmascarar as falsidades.
Há filosofias que abandonaram esse espírito investigativo e tornaram-se herméticas, fechando-se dentro de seu recorte de mundo e de seus pressupostos inquestionáveis. Nesse sentido, apenas tomam emprestado o nome ‘Filosofia’, mas não o são, de fato. São apenas disciplinas específicas, ideologias, que podem ter sua utilidade e valor, mas que não ajudam a compreender nada além do que aquele pequeno mundo onde se encerram.
Um verdadeiro ensino de Filosofia pode incluir muitos elementos de ciências específicas, de abordagens particulares e de história da filosofia. Porém, seu principal objetivo deve ser sempre ensinar a pensar, e isso significa ensinar a rastrear causas. Por isso, quem quer filosofar não pode jamais parar de se perguntar: por que as coisas são como parecem?