Aristóteles, ao defender a Poesia das acusações de Platão, em sua Poética, afirma que a Poesia é superior à História, por prever como as coisas poderiam ter sido, e não apenas relatar como foram. Tomemos, portanto, a Poesia em seu sentido mais generoso, abarcando toda a escrita criativa, como romances, contos, fábulas, poemas, etc.
Em sua Defesa da Poesia, Sir Philip Sidney (1554–1586) apresenta o seguinte argumento cronológico: “Que a culta Grécia, em qualquer de suas múltiplas ciências, mostre-me um livro que tenha sido escrito antes de Musaios, Homero e Hesíodo, poetas todos os três”.
Para Sidney, os poetas foram os primeiros escritores, fazendo com que o historiador já saia atrasado, historicamente, em seus registros. Os poetas foram os primeiros a retratar a história, às suas maneiras. Diz também que a poesia tem função pedagógica, não apenas narrativa.
Na mesma linha, Percy B. Shelley (1792–1822) afirma que a própria linguagem é Poesia, fazendo com que nenhuma ciência escape à mesma. Sem Poesia, isto é, linguagem, sequer haveria História.
Para mim, são fantásticas as palavras de um personagem de Oscar Wilde (1854–1900), Viviano, de A Decadência da Mentira. O argumento é simples: a imaginação artística antecede (e influencia) a vida, a história, a realidade. Segue:
“O Niilista, este estranho mártir sem fé que sobe friamente ao cadafalso e morre por qualquer coisa em que não crê, é um puro produto literário. Foi imaginado por Turgueniev e aperfeiçoado por Dostoievski. Robespierre surgiu das páginas de Rousseau, tão certamente como o Palácio do Povo se construiu sobre as ruínas de um romance. A literatura sempre precede a Vida. Não a arremeda, mas amolda-se a seu exemplo. O século XIX, tal como o conhecemos, é puramente uma invenção de Balzac. Os nossos Luciano de Rubempré, os nossos Rastignac e De Marsay estrearam na cena da Comédia Humana.”
É fato, o imaginário, a fantasia, antecede a “vida real”, e é puro poder, para o mal ou para o bem. Homero foi o educador de toda a grécia, admitiu Platão, que tinha sérias divergências contra os poetas e sua força pedagógica estabelecida antes mesmo do surgimento da filosofia.
Deixo abaixo um trecho da maldição de Sidney aos que desprezam a poesia:
“[…] vos envio esta maldição, em nome de todos os poetas: que, enquanto viverdes, vivereis apaixonados e nunca sereis correspondidos porque vos faltará o talento para compor um soneto e, quando morrerdes, vossa memória será varrida da terra por falta de um epitáfio.”