Tenho preferência em dar um certo senso de continuidade em meus vídeos e artigos, iniciando um determinado assunto de maneira mais geral, abordando sua estrutura mais “universal” para, posteriormente, adentrar aos aspectos fenomênicos. Isto faz com que o espectador/leitor analise os diferentes aspectos apresentados, contraste-os com suas vidas pessoais e, por fim, que possam dar uma certa “tridimensionalidade” sintetizando sua subjetividade com à objetividade daquilo que se apreende da realidade de um estado de coisas. Em outras palavras, dissecando o ensinamento mister de Eric Voegelin quando dizia: não estudem filosofia, estudem a realidade! Essa máxima voegeliana não se trata apenas de um chavão, uma colocação de efeito, mas uma explicação de que a realidade, por mais que tenha primazia sobre a subjetividade humana, é compreendida mais perfeitamente na síntese participativa daquilo que formamos pelo nosso juízo com os fatos em si. Algo que na contemporaneidade da hipertrofia da imaginação pode parecer dificílimo de se compreender, mas que é a chave mesma da sanidade humana perante os principados e potestades deste mundo. 

Do transumanismo à escravidão das drogas 

Reiteradas vezes apontei a estrutura geral da revolução transumanista analogamente ao conceito material-formal aristotélico, onde, no quesito material, o transumanismo se dá por toda infraestrutura chinesa e todo o seu alcance, e, no quesito formal, o sincretismo religioso “low brow” que obteve um sucesso formidável no modernismo ocidental. Seguindo disso, como não poderia ser diferente, o movimento revolucionário, ao melhor modo hegeliano, utiliza-se da absorção de seus erros e da posterior superação dialética dos conflitos. Ou seja, integrando esses diversos conflitos aparentemente difusos, incomunicáveis, em ações práticas que, ironicamente, não apontam para uma unidade intelectiva — pois o revolucionário strictu sensu não dá a mínima para aquilo que os Escolásticos chamavam de contemplatio , mas numa heterodoxia cada vez maior dentro da própria práxis. Em termos cristãos, ainda é o Pai da Mentira fomentando a perdição através do caos.

Engana-se profundamente o analista do movimento revolucionário que postule uma unidade formal desse grande intento imanentista. A ação luciferiana, causa formal da revolução mundana, caracteriza-se pela confusão cada vez maior. E das confusões geradas, análises profundas daquilo que deu errado para que possam, através de mais confusões, abastecerem a maldita engrenagem historicista do movimento.

Podemos postular uma unidade intelectiva, transcendental, universal e imutável naquilo que é propriamente o Bem. Por não ser um conceito vazio, mas eivado da bondade ontológica do Ser, a unidade é a busca por excelência daqueles que não querem participar desse mundo maldito da revolução e da massificação. Do mesmo modo, busca-se a unidade pois ela jamais deixará de ser aquilo que é.

A tensão entre a contrarrevolução e às diversas concepções revolucionárias, portanto, é buscar a unidade subjacente da realidade que é escondida pelas diversas cortinas de fumaça das “delícias” revolucionárias.

E, uma das cortinas de fumaça mais eficazes para se esconder a unidade da verdade e do bem, são os processos químicos-fisiológicos desencadeados pelas drogas e pela posterior escravidão cognitiva causada pelas mesmas.

Aristóteles inicia sua Metafísica afirmando que o homem, por ser um animal racional, possui o desejo natural de conhecer. Em seus ensinamentos posteriores, apreendemos que o repouso de todas as nossas faculdades anímicas e intelectivas se dá num salutar senso comum. Um bom senso entre a nossa subjetividade e a primazia da realidade, como dito. Dessa afirmação inicial, de como o homem conhece e como se relaciona com toda a realidade, somos capazes, através da ciência, compreendermos os outros ramos do real. Em como há um certo funcionamento normal e estável da realidade onde o ser humano pode se sustentar. Caso não fosse dessa maneira, o ser humano, através de seus desejos e vontades, poderia criar realidades ‘a posteriori’, pois ela em si trata-se de um caos irrefreável. E é exatamente nesta segunda concepção (segunda realidade, citando novamente Eric Voegelin) que os revolucionários se apegam.

É histórica a ascensão das drogas sintéticas e de como elas são capazes de diluir completamente o tecido social, escravizando as pessoas e tornando-as alvos extremamente fáceis de manipulação.

O famoso Analista de Segurança Nacional e Escritor — Joseph D. Douglass, Jr., autor do livro “Red Cocaine — The Drugging of America”, mostra claramente a ligação profundíssima entre o poder global comunista e o crime organizado através das drogas. Essa ligação profundíssima se deu, num âmbito maior, antes mesmo do amortecimento das consciências juvenis dos anos 60-70, pela guerra psicológica que teve sua máxima culminação no século XX. Todas as teses freudianas, pavlovianas, etc., em síntese com o poder químico-fisiológico e alucinógeno das drogas. A arma perfeita para a subversão de todas as sociedades.

O saudoso prof. Olavo de Carvalho também nos ajuda nesta compreensão em seu artigo “Encobrindo a ação das FARC (O Globo, 14 de Setembro de 2002)”. Citemo-no:

Desde a década de 50, os serviços secretos da URSS e da China se empenharam em infiltrar-se no narcotráfico, não para entrar diretamente no negócio, é claro, mas para dirigi-lo desde cima, usando-o para fins estratégicos muito além do horizonte de interesses de meros traficantes.

Desses fins, dois eram essenciais: guerra psicológica e criação de uma rede local de financiamento que aliviasse o enorme dispêndio do bloco comunista com movimentos revolucionários no mundo subdesenvolvido.

Ambos esses fins foram atingidos. As drogas foram um poderoso estimulante do movimento “pacifista” da juventude nos anos 60-70, que abortou a intervenção americana no Vietnã. De outro lado, os movimentos revolucionários da América Latina, que após a queda da URSS deveriam secar por falta de recursos, não apenas sobreviveram ao trauma mas até cresceram formidavelmente na década de 90, alimentados pelo negócio das drogas.

A estrutura de exploração montada quase meio século atrás permite que as Farc e o governo cubano sejam hoje os maiores beneficiários do narcotráfico e, ao mesmo tempo, possam alegar com verossimilhança que não são traficantes.

O funcionamento da coisa foi descrito meticulosamente pelo general Jan Sejna, desertor do Estado-Maior checo, em depoimento ao pesquisador Joseph D. Douglass, que o publicou em Red Cocaine (Londres, 2000). Enquanto esse livro não for publicado e lido no Brasil, todas as nossas discussões sobre narcotráfico serão apenas exercícios de retórica pueril ou de desinformação comunista. Desinformação não no sentido vulgar, mas no sentido técnico da desinformátsia soviética, trabalho de precisão destinado a orientar num sentido catastrófico, pelo controle do fluxo de informações, as decisões estratégicas do inimigo.”

Analisemos todo esse conjunto com o vazio existencial da pseudo-sociedade pós-moderna. Em diversas oportunidades salientei que os Grandes Conglomerados e seus agentes, prometendo mundos e fundos à juventude, possuem um plano de poder dinástico. Já que há um problema monumental desse vazio existencial, eles se colocam como os salvadores da espécie humana, oferecendo, através da Religião da Humanidade (oriunda dos Diálogos Inter-religiosos e do sincretismo orientalista) e de seus métodos. Sabe-se que o uso de drogas é essencial em certas seitas ocultistas, na desculpa do jovem iniciado receber, desta maneira, um “conhecimento místico e transcendental”. Uma forma dele fugir da cruel realidade concreta (onde reside o mau ontológico, conforme acreditam) para ter acesso a uma realidade superior, onde conseguirá, subjetivamente, unir-se ao Cosmos e às divindades mais elevadas.

Essa armadilha é difundida sem quaisquer filtros da salutar busca pelo conhecimento defendida pelos Gregos realistas ou pelos Escolásticos católicos. Os jovens não querem saber disso, pois entenderam que é exatamente no realismo que se dá a escravidão de suas mentes, quando, em verdade, trata-se do completo contrário. Com efeito, o movimento revolucionário define-se pela inversão de sujeito cognoscente e objeto cognoscível.

A riquíssima cultura mística católica foi marginalizada pela Academia moderna e pós-moderna. Não se fala mais dos Santos místicos da Santa Igreja, como São João da Cruz, Santa Teresa, Santo Antão, São Francisco de Sales, São Francisco de Assis, S. Pio de Pietrelcina, entre outros. Mas fala-se em grande escala dos falsos profetas da modernidade, como Freud, Lacan, Skinner, Pavlov, Derrida, Foucault, Krishna, entre outros gurus ocultistas. São tidos como personagens que conseguiram se libertar do julgo dos tabus religiosos e gozam da plena liberdade de consciência. O que ocultam, naturalmente, é que cada um deles viveu uma vida completamente hedonista, preenchendo seu vazio existencial através de drogas e falsidades grosseiras. Contudo, tudo vale para se fazer frente à Igreja e toda sua Doutrina.

Nenhum deles, absolutamente nenhum deles, é capaz dar conta a um milagre de Padre Pio. Além disso, o estudo minucioso dos Milagres na História faz do estudante um cientista muito mais elevado que os ditos gurus da juventude contemporânea. Que o leitor fique com essa pulga atrás da orelha…

Toda a educação dos sentidos sensíveis proposta pelos Santos em contraste com à negação completa dos sentidos sensíveis pelos revolucionários também é um excelente convite ao leitor. Há uma confusão entre a sã educação dos sentidos (que jamais serão o mal em si) com o hedonismo. Este trata-se da destruição dos sentidos e não de seu louvor.

Nenhum jovem quando experimenta algum tipo de droga sintética o faz com o fim de se sentir um bom prazer repousado na virtude, mas de fugir da realidade, mutilá-la, destruí-la. Torna-se escravo de seus vícios ao mesmo momento em que compensa psicologicamente sua ação. Romantiza seu vício em meros signos e significados, virando literalmente às costas para o referente na realidade. Mas como procuraria um referente no mundo real se acredita que nele há o mal? Parece-nos difícil esta compreensão, não é mesmo?

Ah, aqui há uma observação: uso o termo “jovem” para referir-me tanto às crianças e adolescentes que infelizmente estão se perdendo nessa gigantesca falsidade psicossocial, como também para o adulto que, longe de atualizar suas potências na virtude, age como um adolescente revoltado com todos os aspectos da existência. É o eterno jovem birrento que faz o papel de Lúcifer no Paraíso e, assim como o anjo caído, vive gritando aos quatro cantos: NÃO SERVIREI.

No que concerne toda a estrutura transumanista, vários artigos recentes mostram que os Grandes Conglomerados de Big Techs estudam a possibilidade do aumento do uso de drogas nos anos que se seguem. Contudo, não às mesmíssimas drogas, mas aquelas que aumentem os estímulos dos jovens ao mundo artificial do Metaverso. Sim, caro leitor, estão afirmando nas entrelinhas que o Metaverso e toda a Inteligência Artificial são espécies de drogas que de fato aprisionam e escravizam. Disso volto a sugerir que leiam meu recente artigo “1984 Redivivus”. Através das diversas propagandas e métodos de manipulação psico-cognitiva, são capazes de escravizar mentes em grande escala sem muitos esforços físicos. Vide, como exemplo mais imediato e concreto, o que foram capazes de fazer através do COVID-19.

Parece-nos assustador, mas não podemos negar a realidade: as pessoas, de modo geral, estão prontas para um totalitarismo global jamais visto. Eis o papel das drogas (sintéticas e artificiais — no modo transumanista).

Finalizo o presente artigo com um célebre texto, também de Olavo de Carvalho, postado em seu Facebook no dia 25 de Setembro de 2013.

“Preparem-se. Nos próximos anos a desordem do mundo atingirá o patamar da alucinação permanente e por toda parte a mentira e a insanidade reinarão sem freios. Não digo isso em função de nenhuma profecia, mas porque estudei os planos dos três impérios globais e sei que nenhum deles tem o mais mínimo respeito pela estrutura da realidade. Cada um está possuído pelo que Eric Voegelin chamava “fé metastática”, a crença louca numa súbita transformação salvadora que libertará a humanidade de tudo o que constitui a lógica mesma da condição terrestre. Na guerra ou na paz, disputando até à morte ou conciliando-se num acordo macabro, cada um prometerá o impossível e estreitará cada vez mais a margem do possível. A Igreja Católica é a única força que poderia, no meio disso, restaurar o mínimo de equilíbrio e sanidade, mas, conduzida por prelados insanos, vendidos e traidores, parece mais empenhada em render-se ao espírito do caos e fazer boa figura ante os timoneiros do desastre. No entanto, no fundo da confusão muitas almas serão miraculosamente despertadas para a visão da ordem profunda e abrangente que continua reinando, ignorada do mundo. Muitas consciências despertarão para o fato de que o cenário histórico não tem em si seu próprio princípio ordenador e só faz sentido quando visto na escala da infinitude, do céu e do inferno. Essas criaturas sentirão nascer dentro de si a força ignorada de uma fé sobre-humana e nada as atemorizará”.

Pois é, caro leitor: ou escolheremos o Jardim das Delícias deste mundo, ou nos apoiaremos nesta fé sobre-humana que tem fundamento desde toda eternidade e jamais cessará.