Os mesmos que afirmam a inexistência do certo e do errado são aqueles que reclamam ao sentirem-se injustiçados; são os que exigem que suas escolhas sejam respeitadas. Porém, se não há certo nem errado quais seriam os fundamentos para que reivindiquem qualquer coisa? Neste caso, tudo seria permitido, nada condenável, inclusive desprezar seus argumentos relativistas.
C. S. Lewis, no primeiro capítulo de seu livro ‘Cristianismo Puro e Simples’, derruba a pretensão daqueles que fogem de qualquer moral natural, lançando mão de um exemplo simplíssimo: quando duas pessoas discutem, independentemente de acreditarem ou não em absolutos morais, tentarão provar que estão certos e o adversário errado. Basta isso para provar a inconsistência do que pensam.
A verdade é que todas as pessoas estão de acordo com algum padrão moral. Padrão que Lewis chama de Lei da Natureza Humana e que, segundo ele, se pressupõe conhecida por todos. Seria ela tão certa como as próprias leis da natureza, da física, da matemática. Tanto que um engano sobre ela seria como um erro de cálculo.
Obviamente, sempre há aqueles que alegam que a moral fora tratada de diferentes maneiras por diferentes civilizações na história. Contra isso, porém, o escritor irlandês lembra que, no que é fundamental, todas as civilizações se equivalem, possuindo apenas algumas diferenças pontuais. Afinal, não há civilização que, por exemplo, não tenha valorizado a bravura, a lealdade, a honra e desprezado a covardia e a deslealdade.
Ainda assim, apesar da Lei da Natureza Humana ser uma lei natural, Lewis faz questão de lembrar-nos que falhamos em cumpri-la, tanto que não há nada mais comum do que corrermos para encontrar desculpas para essas violações. E esse conhecimento e esta transgressão – ressalta – é tudo o que precisamos saber sobre nós mesmos.