Vivemos a era dos resultados. Porém, isso não vem de hoje, mas desde o século XIX, pelo menos, o mundo ocidental tornou-se pragmático, utilitarista, positivista. Aprendemos a ser práticos e a ver o pensamento mais teórico como uma ocupação de homens improdutivos.
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É verdade que a praticidade ocidental foi a responsável pela prosperidade material de sua sociedade. No entanto, isso justifica o desprezo pelo pensamento teórico?
Chesterton, no seu livro “O que há de errado com o mundo”, faz uma reflexão que explica muito bem como essas duas polaridades – a prática e a teórica – têm, cada uma, a sua devida função na vida social.
Segundo o pensador inglês, o conhecimento prático é tudo aquilo que a gente precisa quando as coisas estão funcionando devidamente. São os homens de ação que estão mais aptos a fazer as atividades cumprirem seus desígnios.
Há algumas situações, porém, que o conhecimento prático não é suficiente, principalmente quando surgem problemas que não costumam manifestar-se normalmente.
Nestes casos, torna-se preciso recorrer aos teóricos para solucioná-los. São eles que, conhecendo o fundamento do funcionamento das coisas, são capazes de analisar o que as está impedindo trabalhar corretamente.
E como bem sugere Chesterton, quando mais profundo for o problema, mais estudioso o teórico deverá ser. Ocorrem anomalias que o homem prático não está apto a entender, porque têm a ver não com o funcionamento da coisa, mas com suas engrenagens, com seu processo. Neste caso, só um teórico é capaz de analisar e enxergar a falha.
Por isso, a dicotomia “prática versus teoria” é uma falsa oposição. Cada um desses pólos, na verdade, tem uma função própria. Sem a experiência prática, nada funciona devidamente; sem o conhecimento teórico, nada está seguro, porque, sem ele, a atividade torna-se-ia imprestável no primeiro problema mais complexo que se lhe apresentasse.
Ser prático ou teórico, portanto, não é uma questão de valor, mas de função. Por isso, renegar os teóricos a uma classe inferior é um erro.