PHVOX – Análises geopolíticas e Formação
Artigos

A Revolução do Novo Homem

Detalhe de Narciso (1903) por John William Waterhouse

Para falarmos sobre a revolução do novo homem é preciso, antes de mais nada, definirmos o que é o homem. E é claro que se trata de uma pergunta dificílima. Torna-se ainda mais difícil quando nos damos conta de que o homem moderno, praticamente idólatra da matematização da vida, virou-se de costas literalmente para a Metafísica – a Filosofia por excelência. Em outros termos, não procuramos mais responder nossas dúvidas pelo quê são as coisas, mas simplesmente do quê são feitas as coisas.

A hipertrofia dada à causa material resultou, inevitavelmente, numa redução analítica do que de fato é o ato de ser humano em toda a sua completude. Logo, a incompreensão de si mesmo, do próximo e a nossa relação com à realidade – se é que podemos falar numa realidade diante dessa redução – tornou-se ainda mais confusa. Derivando disto, isto é, dos efeitos causados dessa redução inicial, é árdua a análise realista da antropologia humana.

O observador atento consegue perceber o enorme sentimentalismo das escassas relações humanas contemporâneas. Digo escassas pois tomamos como relações pessoais toda a artificialidade do mundo pós-moderno. Se as relações humanas hoje em dia foram facilitadas com o advento das novas tecnologias, como os gurus modernos tanto defendem, como é possível que tenhamos um gigantesco número de pessoas em estado caótico de depressão e desilusão com esta vida? Como podemos ter um louvor tão grande da inversão de valores e da banalidade da existência? Como podemos ter uma maior quantidade de relações enquanto assistimos à tragédia existencial de pessoas e mais pessoas buscando, de maneira meramente carente, afagos de seus grupinhos?

É claro, é evidente, é cristalino de que há algo de muito dispare e paradoxal. O homem pós-moderno, livre das hierarquias naturais e do senso moral objetivo, é o maior escravo mental de que se já se viu. Quanto mais afirma sua emancipação, mais necessitado é da afirmação de massas amorfas que não se importam verdadeiramente com ele, mas apenas enquanto está do seu agrado sentimental.

Muitas das pessoas que tomarão um tempinho do seu dia para ler a este artigo, têm uma vida prática que lhe toma a maior parte do dia, aposto. Acorda cedo, cumpre com suas obrigações rotineiras, trabalha ou estuda o dia todo, volta para seu lar sem muito tempo para perceber os milhares de aspectos que influenciaram suas ações e pensamentos durante o dia, etc. Isto é, esse fenômeno moderno do indiferentismo em relação à realidade afeta a todos nós. Não temos mais tempo – e sequer ligamos muito, na prática – para o que o homem clássico chamava de contemplação. Nós invertemos o senso natural das coisas.

Quando viajamos num feriado prolongado para algum lugar mais afastado, na natureza, acreditamos estar fora da realidade por aquele determinado período. E, quando retornamos à rotina massificante da semana, costumamos dizer “voltamos à realidade”. Vejam que absurdo: nós realmente acreditamos que o mundinho administrado artificialmente é a realidade substantiva e, o ambiente natural feito por Deus para nós, trata-se de uma breve fuga do que acreditamos ser a realidade. Essa inversão, sem sombra de dúvidas, é uma das causas da nossa loucura coletiva e da perda da percepção do real.

Portanto, como defendi reiteradas vezes, é necessário resgatarmos um salutar senso comum para que possamos, nesse ínterim, analisarmos com profundidade essa gigantesca revolução do novo homem.

Uma breve viagem no tempo…

Muitas escolas filosóficas, antropológicas e psicológicas estudam e afirmam posições acerca da vida humana e da realidade.

Desde o início da Filosofia, com os Jônios e os Pré-socráticos, as especulações sobre a existência do ser humano no mundo passam por uma visão estritamente mecânica, ou seja, a de que o homem está nesse mundo pelo fruto do acaso, do caos atomístico e, dessa tragédia cósmica inicial, o homem buscaria, com efeito, o puro poder ou o puro prazer. Como tinham uma visão cósmica, mecanicista e de certa forma divina do homem, era preciso – segundo suas concepções – que o ente humano, de alguma maneira, pudesse divinizar-se no tempo e no espaço por conta da sua concepção.

A visão mecanicista e atomística do homem, em conjunto com uma espécie de ceticismo em relação do Bem do mundo material, levou essas escolas de pensamento e seus autores a afirmarem que, de alguma maneira, era necessário que homem se fechasse à mutabilidade do mundo sensível para encontrar, dentro de si, a realidade última e suprema: a divindade. Logo, a busca pelo domínio uns sobre os outros ou à fuga para o Jardim das Delícias levaria o homem ao sentido final da existência – que, naturalmente, nesta concepção, é meramente terrena e imanente.

Desse primeiro período trágico e arcaico da Filosofia (arcaico não no sentido pejorativo, é claro, pois de fato os Jônios e Pré-socráticos estavam descobrindo algo relevantíssimo da existência), temos um contraste com à visão grega realista e posteriormente cristã do homem com a Revelação (o que enobrece às descobertas importantíssimas realizadas pelos naturalistas e atomistas antigos).

Já com Sócrates, Platão e Aristóteles, não temos mais o homem como mero ser arbitrário (absolutamente dominador de si e do próximo), mas como um animal racional, inteligente, ordenado pelo Ser que o precede. Um ente que é capaz de compreender a realidade, assimilar sua complexidade e agir bem diante dela. Isto é, não a mudar através de uma práxis arbitrária, mas de se alcançar a sabedoria, através da contemplação da objetividade do ser.

Com essa tríade grega que se aparece a compreensão de que o mundo aparentemente caótico possui em si uma ordem pré-estabelecida, abrangente, imutável, essencial, unificada e eterna.

Com Sócrates, temos o que podemos chamar de “descoberta do sujeito”. Pois não há subjetividade humana possível sem à compreensão da realidade, podendo ser mediante à ética e à justiça.

Com Platão, entendemos que há uma inteligibilidade formal, pois, mesmo a partir da imperfeição sensível do homem, é possível alcançar uma realidade superior através das Ideias Eternas perfeitas. Só é possível analisarmos a multiplicidade imperfeita do mundo físico tendo em vista a perfeição do mundo supra material.

Com Aristóteles, compreendemos que a mudança aparentemente caótica no homem, faz parte de seus aspectos (acidentes) materiais e temporais, mas que são inteligíveis dentro da concepção da forma substancial imanente nessa determinada espécie.

Assim, fará todo sentido posteriormente a posição cristã de que o homem é um composto indissolúvel de corpo e alma. Essa razoabilidade realista possibilitará uma sã educação de toda a composição do que o homem de fato o é. É possível educa-lo em suas potências anímicas, sensitivas e racionais.

O homem mistificado…

Trazendo o debate sobre o homem com os neoplatônicos, como Proclo e Plotino, temos uma certa mistificação do ente humano, mas longe da mesquinharia puramente materialista. Digamos de que se tratam de abordagens extremamente sofisticadas da existência.

Resumidamente, podemos dizer…

Para Plotino, Deus é absolutamente transcendente, Ele é o Um. O Um emanador para além de todo o pensamento e ser, é inefável e incompreensível. Do Um, essência, ser e existência não podem ser predicados.

A primeira emanação do Um é o Nous, cuja apreensão é intuicionista e imediata. No Nous existem as Ideias — e não apenas as espécies inteligíveis. E é no Nous que aparecem as multiplicidades do universo visível.

O Nous, que é pura beleza, procede a alma do mundo, incorpórea e indivisível, o intermédio entre o mundo sensível e o mundo suprassensível. Da alma do mundo, diferindo-se de Platão, Plotino diz que há duas: a tensão entre o mundo imaterial e o mundo material – a natureza.

As almas humanas procedem da alma do mundo e devem retornar.

Contudo, como tudo emana do Um, que está acima de todo o ser, não há divisibilidade, nem distinções. Tudo está dentro do Um e tudo deve retornar a ele conquanto seja inteligível. Portanto, as almas humanas podem retornar ao Um por um processo místico, ascético e solitário de união intuitiva.

Em sua concepção psicológica, Plotino entendia que a alma humana, sendo tripartite, sua parte mais alta não se deixa contaminar com a matéria, permanecendo ao mundo de inteligibilidade pura.

Para essa união intelectiva, Plotino postula o processo de purificação por meio do qual o homem logra ESCAPAR ao jugo do corpo e dos sentidos. No processo seguinte, iluminativo, a alma une-se ao Nous pela filosofia e pela ciência. E, por fim, a união completa com o Um.

Plotino, diferentemente dos gnósticos dualistas ou demiúrgicos, não vê o mundo visível como puramente mal, mas como encobridor e enganador do fim devido da alma, que é a união mística com o Um emanador.

No pensar a Deus, ou nos pensamentos que o tem como objeto, o sujeito está separado do objeto; na união extática.

Diz Plotino: “Aí o homem verá, como se pode fazê-lo no céu, tanto a Deus quanto a si próprio: far-se-á radiante, tomado de luz inteligível, ou melhor, unir-se-á a ela, em toda sua pureza, sem peso ou fadiga, transfigurado na mesma divindade, ou melhor, tornando-se Deus em essência.”

Em Plotino não há o entendimento da criação ex-nihilo, como atividade da potência ativa de Deus. Pois no Um não há atividade potencial, mas apenas emanação.

Tanto no neoplatonismo como na filosofia judaica helênica encontra-se dificuldades infindáveis para a aceitação da Encarnação do Verbo na história, da Santíssima Trindade, da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, etc.

Ou o neoplatonismo ou à vida piedosa nos sacramentos pela graça.

O Panenteísmo supõe que todas as almas serão salvas pelo retorno; o inferno está vazio.

Diferença entre panteísmo, panenteísmo e gnose

Panteísmo: divinização do mundo ou imanentização de Deus – univocidade do ser.

Gnose: negação do mundo e divinização do espírito – equivocidade do ser.

Panenteísmo: emanação do Um e identificação de ser e essência.

Cristianismo: criação ex-nihilo (potência ativa criadora) – ser das criaturas (ato de ser).
O Deus Cristão, sendo onisciente, onipotente e onipresente, tem todas as potências em ato. É o eterno presente na cosubstancialidade da Santíssima Trindade. Eis a suprema realidade.

Um pouquinho de Estoicismo…

Também é interessante comentarmos a influência prática do estoicismo e sua visão sobre o homem. Trazem a equivocidade do mundo exterior, como se não houvesse uma ordem pré-estabelecida por Deus, mas que, no afastamento do mundo, o homem poderia crescer na virtude afirmando sua consciência individual. O problema dessa visão do homem é que o toma como causa sui de toda a prática, sem considerar aquilo que dizia Aristóteles, que o homem alcança a felicidade temporal na comunidade, no convívio.

O determinismo subjetivista estoico, portanto, descamba numa ética fatalista e brutalista da existência.

Contraste com o Cristianismo.

A vida de Nosso Senhor Jesus Cristo revela o sacrifício, a entrega, a purificação através da expiação dos pecados. Revela a entrega para a comunidade, para leva-los à Verdade. E todas essas filosofias não concebem que um Homem pode ser Verdadeiramente Deus. Quiçá poderia conceber a cosubstancialidade de Deus na Suprema Realidade da Santíssima Trindade.

O prof. Olavo de Carvalho nos ajuda a compreender melhor esse contraste entre a metafísica orientalista (presente no hinduísmo e em René Guénon) e o Cristianismo. Vejamos:

“René Guénon segue a metafísica hindu, segundo a qual, acima da pessoa divina, Ishwara, que é o rosto de Deus voltado para os seres criados, existe o Ser, ou essência secreta de Deus, e acima do Ser o Supra-Ser, o Brahman suprapessoal e anônimo, infinito e eterno, que se alterna em estados de “manifestação” e “não manifestação” (“dias e noites de Brahman”) nos quais universos inteiros aparecem e desaparecem junto com o próprio Ser. Essa concepção é totalmente autocontraditória, porque, se não há seres criados ante os quais Deus possa “manifestar-se”, para quem Ele se manifestaria? Para si mesmo? Isso implicaria que nos seus estados de total não-manifestação Ele se ignorasse a Si mesmo, constituindo um oceano infinito não de sabedoria, mas de esquecimento, e, pior ainda, sem ninguém por perto para despertá-Lo de novo para a Sua própria presença. O Deus que não é uma Pessoa só pode ser uma “coisa”, um “quid” abstrato, um “x”, um “algo”, e não vejo como o estado de “algo” possa ser superior ao de “pessoa”, que é, de fato — como exemplificado analogicamente e parcialmente na própria pessoa humana –, a síntese perfeita da transparência e da impenetrabilidade, acima da qual nada se pode conceber. A escala que sobe de Ishwara ao Brahman está de fato invertida, é uma distorção “coisista”: a Pessoa de Deus presente a Si mesma, o eterno Eu-Sou sob a forma da Trindade, é o cume da realidade universal. Nenhum “quid” pode estar acima disso. Guénon estava redondamente enganado ao supor que a metafísica cristã era “incompleta” por ignorar o Brahman. O Brahman não é uma realidade auto-subsistente, não é senão um estado subjetivo do Deus pessoal entre bilhões de outros estados possíveis.”

(Post em seu Facebook do dia 16 de julho de 2016).

Como vimos, as concepções materialistas, atomísticas e místicas-esotéricas do homem levam-no a um certo fatalismo existencial. O que sobra para ele? A fuga ou mutilação da realidade para que, num processo seguinte, possa superá-la pelos seus próprios esforços e retornar arbitrariamente à dita Divindade Primordial. Mas é com o advento da Revelação e da ação da Graça Santificante que temos uma explicação razoável para este problema.

O Pe. Reginald Garrigou-Lagrange em seu livro “O Homem e a Eternidade” na pg. 61 nos ajuda a esclarecer:

No entanto, o retorno a Deus ainda é possível. O pecador endurecido recebe ainda graças suficientes remotas, por exemplo, durante uma missão, ou em ocasião de uma provação; por esta graça suficiente remota não pode ainda realizar os mandamentos, mas pode começar a rezar, e se não resiste a ela, recebe a graça eficaz para começar efetivamente a rezar. Isso é certo, porque a salvação ainda lhe é possível, e diferente da heresia pelagiana, somente é possível pela graça; se o pecador não resiste a este apelo, será conduzido de graça em graça até a conversão. O Senhor lhe diz, com efeito: “Não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão (Ez 33,11)”. Como diz São Paulo em 1Tm 2,4: “Deus deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade”. É uma outra heresia, contrária à precedente, dizer com Calvino que Deus por um decreto positivo predestina certas almas à condenação eterna, e, portanto, lhes recusa toda a graça. Deve-se dizer, ao contrário, com Santo Agostinho, como nos recorda o Concílio de Trento (Denz. 804): “Deus não ordena nunca o impossível, mas, dando-nos seus mandamentos, nos adverte a fazer o que nós podemos, e lhe pedir a graça para realizar aquilo que não podemos”. Ora, para o pecador endurecido ainda há sobre a terra uma obrigação de fazer penitência, o que é impossível sem a graça. É preciso, portanto, concluir que ele recebe de tempos em tempos graças suficientes para começar a rezar. A salvação ainda é possível para ele.”

Aqui o nosso grande Padre nos mostra que os extremos materialistas e espiritualistas-subjetivistas padecem da completude razoável da presença da Graça para aqueles que não a negam e não endurecem seus corações. E que mesmo diante dos pecados e da multiplicidade complexa da vida, é possível viver diante da Vontade de Deus.

A ideia da multiplicidade no cristianismo repousa na vocação individual. Cada pessoa tem suas características, mas, através da Graça, pode aperfeiçoar aquilo que lhe é de mais elevado e oferecer, através do caminho árduo e humilde da santificação, suas boas obras a Deus. E que dos maus aspectos, pode-se apreender a bondade ontológica da realidade criada por Nosso Senhor. Eis o repouso do caminho da sabedoria: a fé. Não se é preciso fechar a realidade num sistema fechado de ideias e ações, mas basta saber de que aquilo de que ainda não se sabe, Deus sabe, e assim a razão natural repousa. A proporcionalidade daquilo que sabemos – e que ainda saberemos da realidade – e daquilo que Deus criador sempre soube, pois assim o fez.

Assim, o fatalismo e o subjetivismo meramente utilitários tornam-se fúteis diante da elevação de que somos capazes de alcançar quando caminhamos ao lado de Deus. E esse caminhar-se é deixar com que cada vez mais a realidade tenha primazia sobre à nossa vontade, para que ela, serva humilde do intelecto, possa ser cada vez mais educada a desejar o bem substantivo e atual da realidade.

O Intelecto e a Vontade tornando-se inimigos mortais…

A visão do homem cristão volta a ser atacada no advento do voluntarismo e do nominalismo medievais. Apartado da ordem das potências da vontade, do intelecto e dos universais, o homem volta a fechar-se em si mesmo. Se não é mais a potência racional que ordena à vontade para o bem real (não somente os desejos subjetivos), a objetividade da realidade torna-se meramente subjetiva e arbitrária. É o homem que cria verdades conforme a sua vontade e os seus desejos.

Com o advento do racionalismo cartesiano, as qualidades humanas tornam-se objetos meramente subjetivos e o que realmente vale é o que pode ser matematizado sensivelmente. Disso, o homem perde o senso de proporções das qualidades e das quantidades e perde-se no reino desta bifurcação.

Dessa tragédia filosófica moderna, passando pelo fatalismo de muitos ramos da revolução protestante (como mostrado acima pelo Pe. Reginald Garrigou-Lagrange), temos o ápice da revolução do homem com o ethos iluminista.

Esse humanismo requentado de diversas formas faz com que o homem volte a ser princípio e fim de todas as coisas, exatamente como defendiam os politeístas gregos, e que o sentido de sua existência é puramente imanentista e secular. Logo, a grosso modo, o homem precisa sempre de uma autoridade artificial exterior, centralizada e absoluta, para determinar aquilo que ele é e aquilo que ele não é, conforme uma vontade superior. Qualquer semelhança com o Pecado Original de nossos primeiros pais, ao desejarem através do orgulho e da soberba, determinarem o bem e o mal como se Deus fossem, não é mera coincidência.

Na concepção Iluminista, racionalista e apartada da proporcionalidade do real, as verdades apreendidas pelo intelecto não são realidades análogas, mas meras representações sem quaisquer ligações substanciais. Segue-se disso que se tudo são representações difusas, as relações humanas também são artificias, difusas e dotadas de puros interesses escusos. Pois o que está defronte a nós não são “pessoas de carne e osso”, como dizia Unamuno, mas representações caóticas, sem corpo e sem alma substanciais, sem nenhum sentido objetivo.

Abrem-se as portas, portanto, para um monstrengo chamado darwinismo social. Uma concepção racista e anti-humana por excelência que culmina numa elitização eugenista. Isto é, apenas uma elite iluminada e detentora das representações e do progresso humano pode viver, enquanto os mais fracos – segundo eles – devem perecer diante de suas vontades absolutas e servir apenas como escravos de seus desejos.

De todo esse constructo anti-humano, que perdura a história helênica, passa pela Cristandade, requenta o helenismo politeísta e pagão com o Humanismo, cria os grandes sistemas anti-cristãos da modernidade, temos, de maneira extremamente materializada, os totalitarismos do homem que se quis tornar Deus no tempo e no espaço no século XX.

Ali assistimos a gigantesca destruição da pessoa humana. O estado constante de tensão e de sobrevivência que nunca antes aconteceu.

Toda essa tirania e barbárie acabam, de forma inevitavelmente culposa pelo novo homem que não pode ser julgado jamais pela História, nas costas de Nosso Senhor Jesus Cristo. De onde saímos do Jardim das Delícias e estamos, neste período histórico, no Jardim das Oliveiras.

Resta ao homem que se quis ser como Deus, após as guerras e genocídios, também artificialmente, criar um parque temático imaginário como se o passado não existisse. Como se fosse um ser meramente futurístico, sem amarras, sem problemas e sem quaisquer juízos morais objetivos diante de sua responsabilidade.

E eis que estamos diante do homem pós-moderno, o novo homem revolucionário per se. Um Adão renovado de seu pecado original, não pela Graça como mostrado anteriormente, mas por imaginar que nada mais é pecado, nada é errado e que tudo depende do seu ponto de vista.

Alcançamos, aqui, nossa passagem só de ida ao Jardim das Aflições.

Espero não ter cansado o leitor com essa breve viagem, mas é necessário, na medida do possível, deixar bem claro o contraste do homem feito à imagem e semelhança de Deus e do homem que quer se fazer Deus e remodelar toda a realidade à sua própria imagem e semelhança.

O problema das escolhas…

Diante de tantas revoluções e tragédias, creio que nunca foi tão fácil escolher: o caminho das pedras, que nos leva à condição humilde da mortificação, da lapidação e dos sacrifícios que nos levarão ao juízo justo e misericordioso de Deus, ou o caminho das facilidades mundanas que nos levarão à perdição eterna. Na afirmação daquilo que lemos no Livro de Eclesiastes: no fim das contas, tudo é vaidade. Tudo é ilusão. Menos, é claro, a autêntica vida boa. Procurar, servir, amar e conhecer a Deus nesta vida, para que possamos alcançar nosso fim finito, que é a contemplação da verdade, e o nosso fim último devido, a Bem-Aventurança. O conhecimento de Deus por essência, que jamais cessará, que preencherá todo o nosso vazio por toda Eternidade.

O homem verdadeiro e o falso novo homem, qual escolheremos ser?

Pode lhe interessar

O que aprendemos hoje

Allan Ouverney
28 de abril de 2022

É possível servir a Deus e ao comunismo?

Pe. Bernardo Maria
14 de fevereiro de 2023

Texas processa administração Biden-Harris por mais de 450.000 eleitores “potencialmente inelegíveis”

PanAm Post
24 de outubro de 2024
Sair da versão mobile