Anderson C. Sandes, 01 de fevereiro de 2022

 

A expressão “nossa bandeira jamais será vermelha” formula, de modo simbólico, uma vontade de combater os avanços da mentalidade revolucionária. Simbólico, sim, pois ter bandeira vermelha não necessariamente é sinal de que uma nação é revolucionária no sentido mais torpe do termo — se é que há outro.

Nossa atual bandeira, diferente da anterior, não tem um ponto em vermelho, mesmo assim traz consigo ideais revolucionários, utópicos, de um ufanismo vazio, como um céu em azul anil, sem estrelas.

E como estamos falando de modo simbólico, falemos da origem do nome Brasil. Algumas etimologias sugerem que a palavra Brazil significa “vermelho”, “como brasa”. A origem seria da palavra celta “barkino”, que passando para o espanhol tornou-se “barcino”, e depois Brazil. O termo teria dado nome ao pau-brasil, que era utilizado para criar pigmento vermelho e tingir tecidos. Já nas primeiras décadas de seu descobrimento, nossa terra foi batizada de “vermelho”.

Mais que isso, nossa economia era baseada em vestir os outros de vermelho. As toras do pau-brasil eram enviadas daqui até a Europa, onde eram extraídos os pigmentos e depois utilizados para tingir tecido. A cor vermelha em roupas era coisa difícil de se ver, era caro, coisa de nobre. Com a exploração do pau-brasil, o vermelho passou a ser mais visto pelas ruas, passou a ser mais popular.

Todo brasileiro carrega um nome, um gentílico vermelho. No fundo todos sabemos: o povo pode ter um coração inclinado aos valores tradicionais e cristãos, mas a cabecinha é paternalista, tribalista, coletivista, intervencionista, “messiânica”, vermelha.

Curiosamente, há séculos que povos celtas acreditavam na existência de uma ilha mítica chamada Brazil. Durante a Idade Média a ilha foi representada em alguns mapas. Já que os portugueses tinham o conhecimento da lenda de tal ilha, alguns escritores do século XX — como Gustavo Barroso — defenderam a ideia de que o nome do Brasil estaria relacionado a esta ilha, e não à extração de pau-brasil. Deste ponto de vista, a palavra Brasil significaria algo como “terra de delícias”, “terra abençoada”. Durante as navegações renascentistas, muitos procuraram pela ilha abençoada, que pegava fogo constantemente, segundo o mito.

Eis o impasse: a qual Brasil pertencemos simbolicamente? Ao vermelho ou ao abençoado? O primeiro em busca do segundo ou o segundo a caminho do primeiro? Lembremos que o segundo pega fogo, fogo gera brasas vermelhas: é igualmente brasil.

Talvez tudo o que podemos desejar é Brasil, de modo integral, com tudo o que ele é, foi ou será, desde que seja realmente nosso. Talvez tenhamos que suportar pisar em brasas vermelhas, por ora, a caminho daquele sangue vermelho que nos redimiu na “vera cruz” … a caminho de nossa pátria preparada desde a criação do mundo. Que todo esse fogo seja para nossa purificação, como o é para o ouro.