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Da “autocrítica” da direita e o “crescimento” da esquerda – Parte 1

Passado o primeiro turno das eleições municipais de 2020, temos diversos pontos a analisar. Irei neste humilde espaço escrever uma série de 3 artigos para abordar aspectos diferentes que merecem atenção e um olhar profunto: A tal autocrítia da direita (parte 1), sobre Guilherme Boulos (parte 2) e finalmente sobre a possível fraude eleitoral (parte 3).

O sentimento da “direita” brasileira – uso aqui entre aspas, pois não temos uma direita de fato, mas um sentimento anti-revolucionário de maneira orgânica em boa parte da sociedade – no fim do domingo era de luto, incrédulos com o candidato do PSOL indo a segundo turno na cidade de São Paulo, bem como o pupílo de João Dória, Bruno Covas, estar em primeiro lugar no pleito; vendo Eduardo Paes sair como primeiro colocado carioca, candidatos a vereador do PSOL ganharem destaque e muitos “bolsonaristas” não lograrem exito… Realmente, à primeira vista o cenário é aterrador! Porém para ir além da #dasemana que é a autocrítica da direita, precisamos entender o que neste cenário é fato, o que é impressão e o que é falácia.

Falta de estrutura partidária

A política brasileira como um todo tem a sua pirâmide invertida, desta forma precisaremos analisar esta eleição com esta premissa, ou seja, olhar as decisões que vieram de cima para entender o que ocorreu na base.

As eleições de 2018 trouxeram uma grande mudança em torno do nome do Presidente Jair Bolsonaro, notem bem, em torno do nome do Presidente. Isso não ocorreu com o apoio de uma estrutura partidária. Todavia, para eleições municipais em uma país com mais de 5000 municípios, é impossível aliar o resultado eleitoral a um nome apenas, é necessário uma estrutura muito bem equipada e pronta para atuar desde cidades como Rio de Janeiro, Salvador, até em cidades pequenas, onde nem mesmo segundo turno existe e o resultado das eleições é acompanhada pelo whatsapp, como na pequena Vargem em Santa Catarina.

O presidente além de ele mesmo não ter um partido político, não possui um partido de confiança que pudesse indicar sua base para filiar-se, existem apenas partidos próximos como o Republicanos e olhe lá. Desta forma, é impossível colocar na conta do presidente (como tem feito a mídia e muitos apoiadores engolido), a derrota do Bolsonarismo e o retorno da “normalidade” ao Brasil.

O presidente ficou em uma situação que pode ser descrita por um dos maravilhosos ditados populares brasileiro:

“Cachorro picado por cobra, tem medo de linguiça”

E o que isso quer dizer? Talvez a insegurança de apostar todas as fichas em um partido, fazer com que ele cresça e ganhe musculatura (principalmente verba) e depois o fritasse na primeira oportunidade, como aconteceu com o PSC e depois com o PSL, fez com que o presidente decidisse não entrar nominalmente na disputa nos pleitos municipais.

Todavia, também não é possível da mesma forma fechar os olhos para o erro cometido pela cúpula do presidente e dele próprio em relação as grandes cidades. Independente do temor, era necessário que pelo menos as capitais com candidatos alinhados ao presidente contassem com um apoio massivo e direto do nome do presidente, com a imagem dele nos santinhos, mensagens na campanha eleitoral, sonoras com o “talkey” nos carros de som dos candidatos e afins. Pois as principais narrativas seriam construídas pela mídia nestes munícipios e, o mais importante, são cidades que guiam o rumo das políticas nas demais cidades do estado, abrindo assim um caminho claro para os próximos dois anos nas ações corpo-a-corpo com o povo.

Apoio tardio a candidatos fracos

Vale ressaltar que o presidente na reta final endossou de maneira tímida em suas lives e outras oportunidades nomes como o de Celso Russomano em São Paulo e Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Todavia, a aposta foi muito mais na escolha do possível do que no realmente bom. Novamente, a falta de estrutura partidária fez com que o presidente não indicasse diretamente um candidato forte atrelado ao seu nome, restando apenas escolher um nome que teria uma menor chance de esfaquea-lo pelas costas.

Porém, estes nomes estavam agarrados ao nome do presidente como um bote salva-vidas de suas candidaturas fracas e histórico duvidoso.

Marcelo Crivella vem de uma gestão no máximo nota 5 na difícil prefeitura do Rio de Janeiro, com seu nome envolto nas manchetes a diversas situações que colocam em xeque a sua credibilidade com o povão, independentemente da veracidade destas ou não, o nome de Crivella já chegou manchado ao pleito.

Assim também ocorreu em São Paulo, onde o candidato com este tímido apoio seria Celso Russomano. Midiático, com apelo emocional em alguns setores da periferia de São Paulo mas sem o mínimo estofo da agenda que elegeu o presidente Bolsonaro. Joga contra o Deputado Celso Russomano uma imagem muito explorada por seus adversários: Arrogante com pobres caixas de supermercado e garoto pimposo e serelepe no carnaval dos anos 90. Independentemente das mudanças de vida e/ou falácias construídas em cima disso, seus opositores souberam cristalizar o sentimento de indignação tão característico ao pacato, descrito com sabedoria por Dr Plício Côrrea de Oliveira:

E cuidado com os pacatos que se indignam, senhores da esquerda, do centro e da direita (..) Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem ferozes…

Russomano, ficou com a pecha de arrogante contra os pobres e o taradinho do carnaval, principalmente o primeiro ponto faz com que os pacatos vejam nele uma pessoa que não merece confiança, pois “maltrata” o trabalhador de bem do Brasil profundo.

O erro chamado PRTB

Dentre as opções adotadas por muitos candidatos alinhados ao presidente, o PRTB destacou-se. O partido ao qual é filiado o vice-presidente da república Hamilton Mourão, recebeu um grande número de candidatos, mesmo sendo o vice alvo de desconfiança da maior parte do eleitorado “raiz” do presidente.

O general BOM DIA – como é carinhosamente chamado por mim – também não entrou na campanha pelos candidatos de seu partido, provavelmente por estes serem em sua maioria críticos ao general e consequentemente não gostaria de posar com o mesmo em santinhos, totens e afins. O nome de Mourão só é bem aceito por aqueles que almejam minar a força na opinião pública do presidente, e com toda certeza não teria a força para alavancar votos como o nome do Pr. Bolsonaro o faria no pleito.

É preciso ressaltar aqui a estratégia do PRTB: Gerar um grande volume de votos, para assim conseguir uma brecha no quociente eleitoral em busca de cadeiras legislativas e aumentar a musculatura (novamente, principalmente verba) do nanico partido de Levy Fidelix.

Qual o resultado desta aposta no cavalo errado? Muitos candidatos ligados ao presidente da república conseguiram votos suficientes para uma cadeira legislativa, porém o partido não atingiu o quociente eleitoral necessário para garantir estas vagas no pleito. O partido também não conseguiu o que almejava: repetir o feito do PSL em 2018. No melhor estilo Dilma Rousseff:

Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.

Mas afinal, a esquerda saiu mesmo tão vitoriosa?

O fator que mais fez a direita entrar na #dasemana e dizer que era a hora da “autocrítica” foi a propaganda massiva da derrota de Jair Bolsonaro e a volta a normalidade contra o “fascismo” do brasileiro. Porém antes de entrar neste ponto, creio que vale ressaltar qual o motivo de minha crítica neste discurso da “autocrítica”:

Estamos vendo apenas mais uma ação da direita leite-moça – bateu, tomou – reativa às situações que explodem sempre na sua cara e no reflexo erguem-se para tentar mudar o “status quo ante”. Porém a atenção não está voltada para os fatos importantes, a premissa da maioria das discussões não são estabelecidas ou definidas com a verdade como plano de fundo.

Viajando pelas hashtags, vi muitas acusações, busca por traidores, alas divergentes acusando-se mutuamente e acima de tudo, uma falta de senso da realidade do Brasil profundo, ligados apenas ao mundo da internet.

Não sou contra o exame de conciência, na verdade como católico, sou doutrinalmente a favor deste. Porém o verdadeiro exame de consciência deve partir de premissas verdadeiras e em busca de soluções de verdadeiras, qualquer coisa fora disso será apenas mais uma ação reativa e inócua… Não existe direita de fato formada no Brasil, existe como dito no início um sentimento anti-revolucionário orgânico na sociedade que tem sido a bacia de salvação do espírito brasileiro. Dito isto, vamos a alguns fatos para estabelecermos uma premissa baseada na realidade.

A derrota da esquerda em 2016*

No ano de 2016, a esquerda saiu com uma derrota retumbante das urnas e vimos alguns outsiders ganhar terreno. Foi possível observar no resultado final do pleito daquele ano, uma perda de espaço importante dos partidos abertamente de esquerda em todo o Brasil, a seguir alguns números para prefeito:

Como podemos verificar, no âmbito executivo a esquerda perdeu muito alcance e prefeituras no processo eleitoral, principalmente o PT.

Fonte: https://glo.bo/2UI0jlH

Continuando…

A “vitória” da esquerda em 2020*

Fonte: https://bit.ly/3kGXYCm

O que estes números nos mostram? Que a esquerda teve uma derrota absurda e continuada, os partidos abertamente à esquerda perderam em duas eleições seguidas suas prefeituras em grandes números. O tão afamado PSOL nestas eleições, fizeram o incrível número de 4 prefeitos em um universo de 5.570 possíveis e no números de vereadores foi de 56 para 88 em um universo de mais de 57.000 possíveis, incríveis 0,16% do total.

Obviamente, sabemos que a esquerda é praticamente fisiológica no Brasil, porém todos os partidos que defendem suas agendas sem pudor foram apenas caindo em seus números totais. Apenas os partidos que esconderam sua vertente e passado tiveram crescimento expressivo, casos do CIDADANIA – antigo PPS e mais antigamente o Partidão Comunista de 1922 – e o AVANTE – Antigo PTdoB que surgiu de uma discidência do PTB fundado por Getúlio Vargas e hoje capitaneado por Roberto Jefferson – sendo este último um caso digno de estudo, pois conseguiu com a mudança de nome trazer não somente novos eleitores como candidatos mais à direita, como o caso de Marisa Lobo em Curitiba.

Não supreendam-se com todos estes partidos mudando de nome em breve, o próprio PCdoB já iniciou um processo para alterar o seu nome para Movimento65 e esconder o vermelho e os símbolos comunistas progressivamente.

Qual a verdadeira autocrítica que deve ser feita?

Todo o discurso construído na mídia e consequentemente abraçado com o mais nobre verdadeiro “leite moça”, foi utilizando como premissa desinformativa e de aparências a ida ao segundo turno de Guilherme Boulos em São Paulo e de Manuela D’avila em Porto Alegre. O primeiro passando-se por trabalhador do povo que anda de Celta – revivendo seu camarada comunista Pepe Mujica e seu fusquinha – e a segunda no melhor estilo mãe conservadora e senhora da família. Vejam as fotos abaixo:

 

Guilherme Boulos e o Chevrolet Celta reproduzido em cartaz durante campanha.

 

Manuela D’ávila em peça oficial de campanha pelo Partido Comunista do Brasil, fazendo cosplay de Michele Bolsonaro.

Como mencionado acima, o buraco na estratégia do staff do presidente foi não entrar na briga antes e de maneira direta, mesmo com o risco de novas traições e viradas de mesa tão comuns na política nacional. Este buraco não impediu a ascenção de nomes que aproveitaram o vácuo deixado principalmente pelo PT (abordarei em profundidade este tema no artigo parte 2). Não foi por acaso que escolhi a imagem de Lula com Manuela e Boulos na capa, a velha mídia militante está apenas fazendo a vontade do velho “pai” da esquerda nacional e elevando os seus dois escolhidos como sucessores.

Os conservadores precisam urgentemente perderem o defeito de ter a amígdala sequestrada por seus inimigos revolucionários, procurar debater em profundidade as pautas que possuem uma premissa verdadeira ou identificar quais não são. Infelizmente o que presenciamos o tempo todo são discussões no twitter pautadas na maioria esmagadora das vezes por notícias e narrativas vindas da velha mídia, enviesada, desinformante e desruptiva.

A nova moda agora dentre os imediatistas é dizer com pulmões cheios: “Chega de livros”, menos filosofia e mais ação”, “quem é Olavo na fila do Pão?”, “essa direita intelectual mais atrapalha do que ajuda” etc. É… está dando muito certo pensar com o fígado e querer partir para a solução sem antes entender o problema.

Em breve irei continuar com o raciocínio em novo artigo, como parte 2 deste.

 

– Paulo Henrique Araújo – Palestrante, Apresentador e Diretor Executivo do PHVox 

*Ambas as fontes utilizam o TSE como fonte de informação, as divergências de alguns partidos em relação aos anos, são devidos a cassação de chapa, impeachmeant, anulação de eleições ou questões similares após o pleito de 2016.

 

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