Recentemente conversava com minha esposa, professora, sobre educação. Nos últimos anos, queixava-se ela, recebeu — e ainda recebe — diretrizes estranhas das escolas onde trabalhou, sobre assuntos que deveria tratar e não tratar, das palavras que poderia usar e não usar, entre outras coisas que sempre deixam pesar a consciência de bons professores, que precisam de seus empregos. Analisando de modo geral, chegamos à conclusão óbvia, sem nenhuma novidade: o atual sistema educacional é uma grande fábrica de imoralidade, perversidade, ignorância e, correndo o risco de atritar com “profissionais da mente”, uma grande fábrica de sociopatas — ainda que não assumamos um sentido clínico, no mínimo o teremos em caráter semântico e simbólico.

Não importa quem esteja no governo, se o presidente ou o ministro da educação concordam ou não com o sistema, o mesmo está viciado, e o processo de retorno é imprevisível e, temo eu, improvável, visto o “andar da carruagem” da sociedade moderna. Os ideais da cultura moderna tornam a sociopatia numa doença contagiosa, intencionalmente.

Desde as questões mais caras, como a educação e a produção intelectual, até as questões mais triviais, como as propagandas de bancos e marcas de cosméticos, tudo é matematicamente planejado para uma corrupção da inteligência, com aparência de progresso, tolerância, virtuosidade, entre outras perversões linguísticas.

Segundo o volume IV de O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais —, existem 7 critérios diagnósticos para o Transtorno da Personalidade Antissocial, vulgo sociopatia. Separei alguns desses critérios para que façamos uma breve análise de como nossa cultura, estimulada pela educação, está adoecendo a sociedade:

(1) incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos Lícitos […]

— E quando nossa educação e cultura estimulam a desconstrução e o criticismo a qualquer norma social, convenção, tradição, e tudo o que lembre ordem social?

(2) propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer

— Com as técnicas de marketing e redes sociais popularizadas, e uma despersonalização em massa, o fingimento, a mentira (incluindo perfis falsos), a desinformação proposital são quase regra nos ambientes virtuais, onde os jovens passam grande parte do tempo. Sem falar em todas as técnicas linguísticas e estéticas utilizadas para ganharem um pouco de prazer carnal e emocional.

(3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para ao futuro

— O processo educacional está sempre cobrando dos alunos, de modo precoce e com péssimo direcionamento, as perspectivas para o futuro: o que serão quando crescer? Qual faculdade farão? Qual gênero sexual assumirão?  Junte toda essa pressão à imaturidade dos “estudantes” e o resultado será traumático.

(4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas

— Apesar de tanto papinho sobre tolerância, a educação está criando um ódio ao pensamento diferente (sobretudo aos cristãos e conservadores), pois o intuito ideológico é a hegemonia de pensamento, criar robôs, que pensem todos iguaizinhos. É cada vez mais comum vermos rusgas ideológicas virtuais partirem para a realidade. Os “haters” tornam-se facilmente agressores, impulsionados por gatilhos ideológicos que os fazem se sentirem heróis, salvadores do mundo, justiceiros sociais, tendo qualquer ato justificável. Além disso, estatísticas apontam que a violência física entre jovens aumenta, junto da automutilação.

(6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente […]

— A falta de resiliência é altamente estimulada pela educação moderna, na qual não existem verdades perenes, onde o certo e o errado podem ser relativos, e a velocidade da novidade é inalcançável. É como se cada jovem vivesse num eterno “Carpe diem” horaciano, aproveitando apenas o dia de hoje, trocando de curso na faculdade sempre que achar chata alguma disciplina, mudando de namoro na primeira indiferença ou até falando em “mudar de sexo” só por capricho do tédio. Ninguém em sã consciência diria que as vítimas da cultura e educação moderna estão mais responsáveis e consistentes.

(7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém

— Aqui voltamos à relativização e a inversão dos valores e das normas. Uma vez invertidos os valores, não parece mais errado assassinar um bebê ainda no ventre, desapropriar bens alheios ou agredir outrem em prol de um “bem comum”, rumo ao “progresso social”.

Outras literaturas como o CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) trazem critérios também marcantes e generalizados na cultura, como: indiferença insensível pelos sentimentos alheios, muito baixa tolerância à frustração, propensão marcante para culpar os outros.

É comum que tais critérios sejam presentes apenas em alguma fase da vida, sobretudo dos mais jovens. Mas a partir do momento em que pelo menos três dos critérios, segundo os estudos, passem a ser características consolidadas nos indivíduos, ao longo da vida, a chance de ser sociopatia é grande. Eis a grande questão. Não sou psicólogo da sociedade, mas também não sou cego.

A sociedade está doente, e é, graças ao sistema de educação e a cultura de massa, de uma doença contagiosa. Sociólogos, professores, artistas e afins, em total psicose, dão veneno achando que dão remédio.