Com certeza você já ouviu, falou ou pensou que “Político é tudo igual”. Tenho uma notícia para você, meu caro: você não estava ficando louco ou inerte à realidade, na verdade o seu subconsciente estava gritando para trazer alguma sanidade. Para controlar a narrativa e a opinião pública é utilizada uma ferramenta de controle político e comportamental: A estratégia das tesouras.

Como funciona a estratégia das tesouras.

A estratégia das tesouras é o mais do mesmo, com maquiagem de discurso e tons de posicionamentos alterados pelo uso da linguagem e a aplicação de narrativas diversas. O movimento revolucionário utiliza este artifício – que foi nomeado pelo desertor soviético Anatoliy Golitsyn no livro “New Lies For Old” – que consiste em potencializar dois partidos que dominem o cenário político, econômico e social de um país.

A ideia de certa forma é bem simples: o universo de disputa política de um país tem como protagonistas dois partidos com o mesmo núcleo ideológico, obviamente socialistas, sendo que um adotaria um discurso moderado e o outro mais engajado com a agenda.

O segredo é manter a discussão pública no abstrato, tratando tudo com superficialidade e sem a devida análise dos fatos. Quando na verdade os objetivos são os mesmos: controle estatal, agenda econômica e principalmente as bases de moral e comportamento dos cidadãos.

No Brasil, esta tática foi muito bem utilizada na falsa polarização entre PT e PSDB por quase 30 anos. Essa hegemonia só foi quebrada recentemente, diante do levante popular motivado pela indignação com a situação do país. Esse movimento foi iniciado em 2013 e aprofundado em 2015 e 2016, o que culminou com a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL), em 2018.

Mas o que tem a estratégia das tesouras com o momento atual brasileiro?

Diferenças dentro do mesmo campo político sempre existiram e sempre existirão. Porém, a esquerda – historicamente falando – sempre soube o momento de fazer coalizão para manter o poder e a hegemonia cultural. Atualmente, os pensamentos social, cultural e comportamental dentro das redações de diversos veículos de mídia, departamentos de marketing, corporações de tecnologia entre outros estão tomados pelo pensamento de esquerda.

Isso não significa que todas as pessoas estejam postas em uma caixa fechada de ideias e manipuladas como bonecos, mas que os imaginários moral e social da maioria estão moldado a raciocinar dentro de determinado padrão comportamental imposto por pelo menos duas gerações (quarenta anos).

É exatamente o que estamos vendo surgir no momento, os antigos blocos antagônicos de esquerda da esquerda (PT) e direita da esquerda (PSDB) (vou ater-me apenas ao exemplo partidário) unidos para controlar o crescimento da direita brasileira e principalmente conservadora no cenário político-social. Na ausência de agentes de esquerda, faz-se, para tanto, necessário encontrar executores nas trincheiras adversárias que sejam proeminentes e de fácil controle no jogo de narrativa.

Como isto é feito na pratica

Para simplificar o entendimento, vou dividir em alguns pontos:

  1. Diversos meios são utilizados para preparar o terreno, o primeiro obviamente é dominar o discurso público, criar a sensação de unidade de ideais e pensamento para anestesiar a população.

Este papel em primeiro momento é cumprido pela mídia. Nos últimos meses, a aplicação disto está ocorrendo de forma latente, classificando o seu inimigo dos mais diversos adjetivos e enquadrando-o em toda sorte de vilania possível. Na maioria das vezes da maneira mais superficial possível. Exemplos não faltam:

  • Presidente que não sabe governar
  • Presidente que fala contra os direitos humanos e torturados na ditadura
  • Governo que está destruindo a educação
  • Ministra que deseja resolver o problema da pedofilia com fábrica de calcinha

Entre muitos outros factoides…

  1. Na segunda etapa, é identificado quem são os agentes que podem ser manipulados ou seduzidos pela sede de poder, estes já apontados como “direita permitida” há quase vinte anos pelo professor Olavo de Carvalho.

No atual cenário temos agentes públicos individuais e grupos coletivos alinhados à direita que estão dentro deste raio de ação de interesse da esquerda, abaixo vou trazer alguns exemplos práticos:

Agentes da mídia e/ou influenciadores

Este é bem fácil de ser identificado e utilizado, principalmente jornalistas que ainda que críticos outrora às ações revolucionárias, historicamente comungam com as agendas propostas. Os jornalistas são um prato cheio. Por exemplo, vamos falar de Joel Pinheiro:

Neste tweet do canal do youtube MyNews ele é colocado como agente da direita sensato e disposto ao diálogo amigável de ideias. Muito bonito e democrático, lindo se não fosse desinformação, pois o nosso personagem em questão comunga com as mais diversas agendas da esquerda, mas não acredite em minha fala, acesse o twitter do filósofo para comprovar.

Políticos eleitos na onda de renovação

Diversos exemplos temos neste caso, políticos eleitos utilizando o nome e as ideias defendidas pela população mudam o discurso e começam a atacar os aliados com as mesmas ferramentas do ponto 1, utilizam-se do eufemismo, superficialidade de discurso e um desejo latente de tornar-se um ser acima da disputa, pessoas comumente apelidadas de “isentões”.

Alguns exemplos práticos:

Notem, nas questões apontadas no ponto 1, a predominância de um discurso vazio e alinhado com o que é aplicado pela militância midiática.

Grupos suprapartidários

Neste ponto é realmente onde a identificação da estratégia das tesouras fica realmente complexa. Pois você tem uma verdadeira máquina de desinformação posta em uso, sendo o MBL (Movimento Brasil Livre) o principal deles no momento. O movimento teve atuação importante nos diversos protestos e ações ao longo dos últimos anos, porém nunca sozinho, sempre com os mais diversos grupos e personagens em conjunto.

O MBL sempre foi apontado por diversos movimentos como partidário de interesses próprios, escalada de poder, acusado de recebimento de verbas de partidos políticos, perseguição a membros entre muitos outras casos, que não posso afirmar a completa veracidade, mas que podem ser pesquisados facilmente para construção de um juízo de valor.

Estas ações fizeram com que políticos e veículos de mídia colocassem sobre o MBL um holofote do qual ele não era merecedor ou único merecedor. Criando através desta narrativa a aglutinação de representante da direita. Após as últimas eleições, o MBL emplacou candidatos ao legislativo no âmbito federal e estadual, tendo como principais atores Arthur Mamãe Falei e Kim Kataguiri.

Dentro da estrutura de poder, o MBL começa a escalonar a imagem de seus parlamentares, tornando-os figuras públicas em pautas de extremo apelo popular e sentimental, como o caso do cachorro morto no carrefour, onde Kim Kataguiri protocolou projeto de lei contra os maus tratos a animais e também sempre falando em favor da reforma da previdência, até aqui tudo normal. Porém existe um grande jogo retórico aplicado pelas beiradas no entorno.

Façam uma breve pesquisa nas redes sociais do MBL e será possível notar que as ações positivas do governo, sobretudo no âmbito econômico, são direcionadas a algum ministério, ao próprio ministro ou por culpa das estrelas. Em momento algum, a figura do governo é merecedora do elogio. A questão aqui, vale ressaltar, não é fazer juízo de valor sobre apoiar ou não o governo, mas sim explicitar o jogo retórico. O movimento só cita o governo Bolsonaro como um todo quando faz críticas. Nesse momento, apoiam-se na narrativa do mainstream, com as expressões “Governo Bolonaro”, “Bolsonaristas”, Olavistas” ou “Bolsolavistas.

Outro ponto é criar a narrativa com base na desinformação, utilizando-se de meias verdades para encaixar o discurso que deseja. Recentemente MBL publicou um vídeo onde trata sobre o PSL – partido do presidente da República – nele é posto alguns fatos, porém em pontos sutis do vídeo são aplicados pontos de desinformação ou meias verdades, utilizando como bode expiatório parlamentares e projetos de lei, sempre fazendo uso da regra do ponto 1 mencionado neste artigo, e alavancando a imagem de seus parlamentares como exemplos de conduta a serem seguidos.

Paralelo a isto, um dos seus fundadores concede entrevista à Folha de São Paulo, veículo conhecidamente pelo seu viés à esquerda no debate político, onde admite culpa por polarização no país. Observem o círculo se fechando com o ponto destacado no início deste tópico: o MBL como aglutinador do debate público, político e acredite até moral – como no caso do Queer Museu patrocinado pelo banco Santander. Vale a pena conferir a entrevista na integra.

Após esta entrevista, foi possível ver situações intrigantes como a de Fábio Panunzzio – jornalista e militante esquerdista febril – parabenizar o MBL:

Além da mídia, é possível inclusive que até os mais extremados políticos de esquerda também comecem a defender o grupo, como é o caso da já caricata deputada petista Maria do Rosário:

Conclusão

Não é possível prever – e jamais me atreveria a fazê-lo – qual será o desfecho desta construção narrativa no melhor estilo da “rã sendo cozida em água morna”, mas que é possível analisar o processo sendo arquitetado isto é:

  • Mainstream tenta criar a hegemonia do discurso de incompetência de seus adversários e inimigos.
  • Mainstream e grupos políticos elegem quem serão os adversários aceitáveis e começam a capitalizar a estratégia das tesouras com estes – que por vezes aceitam de maneira inconsciente.
  • Estes personagens aceitáveis, seduzidos pelos holofotes, interesses próprios e/ou concentração de poder aderem ao discurso de moderação e passam a atacar aqueles que os alçaram a posição atual, passando assim a fortalecer as bases de seus antagonistas.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…