O ministro Ernesto Araújo divulgou em sua conta no twitter uma sequência de mensagens onde expõe a senadora Kátia Abreu como a principal interlocutora do senado federal em suposta busca de favores para a tecnologia 5G da chinesa Huawei, conforme vemos abaixo:
Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse:
“Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.”
Não fiz gesto algum.— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) March 28, 2021
Para entender o complexo jogo de xadrez que está por trás destes movimentos precisaremos voltar no tempo para que consigamos ligar diversos pontos importantes.
O último culpado da última semana
A última semana terminou com mais uma grande crise em Brasília protagonizada pelo congresso, uma vez mais exigindo a saída de um ministro do executivo Federal. Após reunião com os chefes dos três poderes em 24 de março, assistimos um movimento em bloco no congresso nacional contra o ministro das relações exteriores Ernesto Araújo.
A fervura do caldeirão aumentou ainda mais com o famigerado caso do gesto “supremacista branco” do assessor especial da presidência para assuntos internacionais Filipe G Martins, o caso apesar de conter motivos de piada para boa parte dos brasileiros, tem um objetivo muito claro: enfraquecer as bases do corpo diplomático e isolar o Presidente Bolsonaro de suas principais peças no complicado xadrez de Brasília.
O episódio ocorreu ao mesmo tempo em que senadores exerciam pressão enorme contra o ministro Ernesto Araújo e suas ações no combate a pandemia. Um movimento brusco e calculado do congresso, tentando matar dois coelhos com apenas uma cajadada.
Observamos uma sincronia perfeita de ações políticas, midiáticas e de formatação da opinião pública em duas frentes:
- Colar a imagem de racistas dentro do governo, acobertados pelo presidente da República.
- Após derrubarem o ministro da saúde, atribuírem as responsabilidades da pandemia ao ministro Ernesto Araújo.
Neste roteiro de cartas bem marcadas temos diversos personagens e fatos públicos que precisam de atenção para uma correta leitura dos acontecimentos.
China, PDT, Ciro Gomes e a influência comunista nas eleições de 2018.
A reunião aconteceu entre o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, e pelo secretário do Secretariado do Comitê Central do partido chinês, Du Qinglin. Segundo artigo no site do próprio PDT “O encontro ratificou o alerta para a instabilidade gerada pelo governo do presidente Michel Temer e o consequente impacto negativo gerado no cenário macroeconômico.”
Ambos os lados deram seu relato da proximidade ideológica de longa data entre as partes na reunião. Segue nota na matéria com a visão institucional do PDT sobre o encontro:
“O nosso país tem uma posição estratégica na América Latina. Devemos buscar aliados, como a China, que façam a contraposição aos Estados Unidos e executem a necessária posição independente ao governo Trump”, complementou, ao defender o compromisso com uma nação justa, democrática e socialista, que ficou claro desde a pioneira visita de João Goulart, então vice-presidente do Brasil, em 1961.
O enviado do Partido Comunista Chinês, Du Qinglin, também expos a sua visão para o encontro e parceria de longa data entre o partido brasileiro e o governo Chinês:
“Os partidos têm semelhanças nas ideologias. Com base nos princípios de independência, estamos totalmente dispostos a fortalecer o intercâmbio, o conhecimento e a confiança”, declarou Du Qinglin, ao formalizar o convite para que os pedetistas participem do 19º congresso do partido chinês, que ocorrerá no segundo semestre deste ano (2017).
A subversão das soberanias pelo governo Chinês
Exatamente há um ano atrás, o PHVox expos no programa análise da semana, fala do então secretário de estado americano Mike Pompeo para os 50 governadores americanos, onde ele apresentava como a china estava subvertendo e de certa forma corrompendo a ordem política de países alvo para torna-los simpáticos ao regime comunista.
Em linhas gerais, quando o partido comunista chinês percebe que o governo central dos países não são favoráveis ou amistosos a suas políticas, eles buscam nos governos locais apoio e iniciam um forte financiamento local em troca de lobby e animosidade política para pressionar o governo central.
Veja a fala de Pompeo descrevendo o modo de operação:
No Brasil, o principal agente deste modo de operação é o governador do Estado de São Paulo João Dória. Em dossiê também apresentado no programa Análise da Semana, apresentamos todo o processo de aproximação chinesa com o governador e a crescente influência chinesa dentro do governo da principal unidade federal brasileira.
O mesmo método também pode ser observado na Austrália, envolvendo o governo Scott Morrison e o governo do estado de Vitória no sudeste do país, o caso também foi apresentado no Programa Análise da semana recentemente.
Direcionamento do discurso na imprensa: China Media Group
Além dos governos locais, o partido comunista chinês também investe em parcerias com os veículos de mídia através de contratos de cooperação em diversos países.
No Brasil, os casos mais notórios são com o Grupo Bandeirantes e o Grupo Globo. Também podemos citar o tradicional Il Giornale da Itália entre outros exemplos pelo mundo. Estes contratos de cooperação nunca deixam explicito qual a cooperação real entre as empresas e como eles se beneficiam destes acordos.
Todavia, uma ação do braço midiático do partido comunista chinês ocorreu em 28 de agosto de 2020: O Fórum de Cooperação de Mídia Online “Parceiros da América Latina”, onde foi proposto pelos organizadores chineses um esforço de cooperação com os veículos de mídia de toda a América latina em prol das notícias relacionadas à pandemia de COVID-19 em todo o mundo.
No mínimo, o partido comunista chinês tem direcionado muitos esforços para guiar a opinião pública e a mídia de acordo com as suas narrativas.
Michel Temer, o “contratado chinês” da Huawei
Em 21 de janeiro de 2021 o ex-presidente do Brasil Michel Temer foi anunciando como o mais novo “contratado” da empresa de comunicações chinesa Huawei, para garantir que a empresa não fique fora do leilão de 5G no Brasil, conforme informou o Yahoo Finanças.
O partido comunista chinês vem investindo pesado em lobby no mundo inteiro em favor da Huawei, sendo este tema um grande embate do governo do ex-presidente Donald Trump contra o regime de Xi Jinping.
Poucos personagens na política nacional conhecem e dominam tão bem os corredores de Brasília quanto o ex-presidente Michel Temer.
Até julho de 2020, Japão, Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido e os EUA baniram a Huawei da implantação da nova geração de redes de celulares nos seus territórios. Na França, a empresa foi proibida de instalar torres perto de prédios estratégicos do governo.
Em outubro de 2020 a Suécia também proibiu a Huawei e ZTE de participar de contratos 5G em seu país.
Aécio Neves e a tomada das relações exteriores na câmara.
No último dia 06 de março de 2021 o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança divulgou mensagem em seu canal do Telegram que descreveu como um processo de toma lá, dá cá favoreceu o deputado e ex-presidente do PSDB:
O meu partido além da CCJ queria a CREDN que é a comissão que trata com diplomatas e defesa nacional. Esse ano essa comissão acumula a chefia de outra comissão: a que trata de temas de Inteligência. Eu havia sido escolhido pelo PSL para liderá-las esse ano.
Nas regras de proporcionalidade seria natural que o nosso partido ficasse com essa importante comissão, além do fato de termos outros integrantes no partido com aptidão para comanda-la.
No entanto o Aécio Neves articulou com demais partidos do Centrão para que o PSDB ficasse com a CREDN, efetivamente distorcendo todas as regras de escolha.
Nada disso foi ilegal mas envolveu fazer um troca troca de comissões de forma espúria entre diversos partidos do Centrão para conseguirem passar a comissão para o PSDB.
O toma lá da cá não é exclusivo da relação do legislativo com o executivo.
No dia 24 de março de 2021 o deputado Aécio Neves concedeu entrevista para a CNN Brasil onde afirmou que ‘O Brasil não tem sido feliz na sua condução de política externa há muito tempo. Deixamos de exercer uma política pragmática’.
A pandemia é real, assim como as possibilidades políticas em nome dela
Toda a narrativa construída na última semana, utiliza a pandemia como o principal fator de críticas contra o ministério das relações exteriores e o ministro Ernesto Araújo. Porém, fica cada vez mais claro que a pandemia, além de todos os problemas gerados para a população mundial, também serve como um excelente verniz para o jogo político de várias nações.
Existem diversas pontas nos últimos anos que envolvem a diplomacia chinesa no Brasil e no mundo que mostram que existe um método para implantar seus interesses subvertendo diversos campos políticos e midiáticos.
A Senadora Kátia Abreu prometeu, segundo o ministro Ernesto, que ele seria o “Rei do Senado” caso fizesse um gesto em favor do 5G chinês. Kátia Abreu, candidata a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes em 2018, chapa que concorreu pelo PDT…