Certa vez, Sir Winston Churchill disse: “É preciso coragem para se levantar e falar; mas também é preciso coragem para sentar e escutar”.

O ano era 2017 e o partido conservador britânico estava dividido em como conduzir o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit), e para ajudar o partido vivia uma crise interna entre conservadores e liberais. Sem o apoio necessário, a então Primeira Ministra Theresa May teve a brilhante ideia de convocar eleições antecipadas na tentativa de aumentar o número de parlamentares e assim conseguir o tão sonhado acordo sobre o Brexit.

Bem me lembro daquela campanha, foi a primeira que eu pude acompanhar do começo ao fim, debates, artigos de jornais etc. O partido conservador evitava o uso da palavra conservadorismo e nacionalismo e na semana da eleição o desastre era iminente. Dito e feito: Theresa May conseguiu diminuir o número de MPs (Membros do parlamento) de 336 para 318, lembrando que são necessários 326 para a maioria absoluta.

Diante do fracasso, o que os conservadores fizeram? Superlives? Textos sem fim nas redes sociais? – já sei! – enquetes no Twitter! – Não, eles não fizeram nada disso, pelo contrário, eles fizeram o óbvio: foram debater e falar de conservadorismo com as pessoas.

Mas quem eles chamaram para o debate? Os intelectuais de direita; um deles bem conhecido do público brasileiro: Sir Roger Scruton.

Um mês após o fracasso nas urnas, encabeçados por Jacob Rees Mogg, o partido organizou de maneira simples e direta um “tour” de debates pela ilha, nada de vinhos caros ou whisky 12 anos. Os debates foram regados a café e chá com biscoito.

O tema escolhido foi o seguinte: “O momento intelectual realmente está com a esquerda?”

Encontrei um vídeo no YouTube. Se você tiver o mínimo de conhecimento da língua de Shakespeare, irá entender o recado. Contudo um pequeno spoiler que pode servir a situação atual no Brasil: Sir Roger, deixa claro que não é fácil falar de conservadorismo, principalmente com os jovens. Porém, em sua participação que mais parece um sermão, ele é direto:

“saiam daqui e falem das coisas boas do conservadorismo: família, religião e cultura. O conservadorismo é bom e os senhores sempre irão encontrar alguém que queira ouvir a respeito de bondade.”

Nesta linha, o partido conservador, depois de dois anos, conseguiu “salvar” o Brexit e ainda de quebra eleger Boris Johnson com 365 parlamentares contra os 318 de Theresa May. Sir Roger Scruton faleceu um mês depois destas eleições na qual ele ajudou de forma direta com o sucesso dos conservadores, mas não foi a última, isso eu tenho certeza.

Infelizmente, Boris Johnson tem traído as pautas que o levaram a vitória e, adivinhe; não será a oposição a remover ele do poder, mas sim, os próprios conservadores, afinal, eles têm uma pauta bem definida.

A mensagem foi clara: os conservadores encontraram as respostas que procuravam fora das redes sociais, mas sim na alta intelectualidade e no contato direto com as pessoas comuns. Eu mesmo pude participar de encontros assim em uma cafeteria com 10 pessoas, sim 10 pessoas e a MP Theresa Villens de Barnet, Londres.

Agora vem o paralelo com o Brasil: Longe de mim, como correspondente internacional, levar a “receita pronta”, mas sim compartilhar experiências e analisar a política de forma séria e racional, afinal esse é o trabalho de um correspondente internacional, e não somente aparecer na televisão de cabelo despenteado.

Os conservadores britânicos temiam perder mais espaço no parlamento e, por consequência, voz para as suas pautas. No Brasil, após as eleições municipais o clima é de derrota para a direita.

Amigos, a notícia que eu tenho não é nada boa… A direita acordou no dia 15 e foi para as urnas já derrotada, não tinha nada a perder, mas uma fumaça de ego e despreparo impedia que os “direitistas” vissem isso.

O eleitor de direita sequer tinha um partido para votar, os candidatos da direita sequer têm um partido para chamar de seu, e precisam ficar perambulando, quase que mendigando um partido emprestado para concorrer ao prestigiado cargo de vereador.

A derrota está implícita quando, desde 2013, sequer conseguimos montar um partido político. E olha que no Brasil é mais fácil montar um partido do que comprar um carro usado.

Do exemplo britânico de 2017 fica a mensagem deste artigo. É preciso conversar, debater, colocar o dedo na ferida e buscar na intelectualidade o conhecimento necessário para que os conservadores possam se manter no ringue político.

Não é fácil, eu sei, e provavelmente seremos poucos. A propósito, você realmente acredita que éramos a maioria em 2018? Se você acha isso, por gentileza volte para junho de 2013 agora mesmo é refaça o caminho (Lendo Olavo de Carvalho de preferência.)

Em conclusão, agora mais que gritar nas redes sociais, é hora de ter coragem, puxar o banquinho e sentar para ler e ouvir, bem como Churchill nos orientou no começo deste artigo.

 

– Ivan Kleber é correspondente internacional e apresentador do PHVox no Reino Unido.