Artigo publicado em Mídia Sem Máscara em 19 de agosto de 2004
Em Waco, quase no centro geográfico do Texas, a meio caminho entre a capital Austin e Dallas/Fort Worth, fica o Museu dos Rangers. Vale uma visita para se compreender a origem dos Texas Rangers. Inicialmente eram pistoleiros a soldo dos fazendeiros da região para impedir e reprimir o roubo de gado, os constantes assaltos de mexicanos e dos índios. Eram, portanto, uma milícia privada. Hoje – não mais cavalgando um único cavalo, mas 200, em carros japoneses de grande potência – são a Polícia Estadual do Texas. Não obstante, continuam, em seus uniformes, portando os tradicionais chapéus Stetson, as carabinas Winchester, os revólveres Colt 45, além de armamento moderno altamente sofisticado. E continuam sendo chamados Texas Rangers.
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Pano rápido para o segundo ato:
Favela – ou comunidade, como é politicamente correto – do Rio das Pedras, Jacarepaguá, Rio. Os moradores – a grande maioria imigrantes nordestinos do Ceará e da Paraíba – se orgulham do pequeno número de crimes e principalmente de traficantes, devido ao que chamam “polícia mineira” – pistoleiros contratados pelos comerciantes e sustentados por uma taxa cobrada de todos os habitantes da região. São os Rangers da região, abandonada pelos poderes constituídos. O que pode a muitos parecer escandaloso – defender a existência de bandidos – não lhes parece a mesma coisa no primeiro caso por causa do glamour hollywoodiano com que os primeiros eram apresentados nos Westerns. Mas eram bandidos da mesma laia! Alguns se regeneraram e até foram eficientes xerifes, advogados e juízes.
O que têm em comum grandes fazendeiros do Texas do final do século XIX e os atuais favelados do Rio de Janeiro? Um dos mais humanos de todos os sentimentos: o apego à propriedade, a ”ter onde cair morto”, a ter o que deixar para seus descendentes! Não importa se é um lote ou quarto-e-sala conjugados na favela ou as imensidões das grandes fazendas texanas! É meu! Este o grande brado humano! Sou dono e aqui mando eu! Está incluído aí o conceito de família, pois a propriedade tem ainda outro brado: o que eu consegui ficará para meus filhos!
Não é por nada que todas as ideologias coletivistas se opõem radicalmente à existência da propriedade privada. Este é o alvo principal de Marx e Engels, tanto no Manifesto quanto no livro do último, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Se há uma forma de destruir uma organização social livre é atacando violentamente os conceitos de família e de propriedade.
Os dois extremos da organização sócio-econômica – grandes proprietários e favelados – sabem como se proteger. E a classe média? Entorpecida pela pregação marxista das últimas décadas, não sabe o que fazer. Fica como barata tonta pelo DDT dos conceitos comunistas e da Teologia da Escravidão, de Freis (?) Betos e Bofes, Betinhos, et caterva. A maciça propaganda antipropriedade a que está submetida há uns trinta anos – quando começaram a comparar propriedade com “ditadura”, palavras chaves das esquerdas para denominar um regime tão brando que permitiu que hoje a tão “perseguida” esquerda estivesse encastelada no poder e recebendo gordas indenizações por coisa nenhuma – estabelecidas por elas mesmas em causa própria.
Pois é este pilar fundamental da liberdade que está sendo atacado em várias frentes. O Projeto aprovado pelo Congresso Nacional que permite o confisco de terras onde haja trabalho escravo junta-se a outros tão lesivos quanto. Ninguém deve defender senhores de escravos, e não serei eu a fazê-lo. Descobertos, devem ser submetidos a sérias penalidades. Mas permitir o confisco de suas propriedades é atentatório à liberdade. Sua propriedade é mais do que sua – é de seus descendentes legítimos – e o conceito mesmo de propriedade privada se estende a tudo o mais, até mesmo itens tão humildes como um carro velho para táxi, um torno mecânico ou instrumentos de trabalho vários – os tão propalados meios de produção. O apoio do governo petista ao MST – guerrilha rural oficialmente chamada de “movimento social” – se soma ao projeto que virou Lei para acabar de vez com a propriedade.
Os reflexos já se fazem sentir. Os proprietários da Fazenda Ana Paula de Bagé, RS, abandonaram o negócio e compraram 100.000 hectares no Uruguai, país onde a propriedade ainda é respeitada. Em São Paulo, depois de sofrer a décima invasão pelos sem-terra, o pecuarista João Coelho Júnior, de 63 anos, jogou a toalha: ele anunciou a venda da sua propriedade, a Fazenda Tupi Conan, em Presidente Epitácio, no Pontal do Paranapanema, pela metade do valor real. Se o negócio for imediato, o adquirente levará também uma ordem de despejo assinada pelo juiz Rogério de Toledo Pierri, da 1.ª Vara Cível, contra os 300 militantes do MST que desde o dia 9 estão acampados na fazenda. Emitida no dia 13, a ordem judicial ainda não foi cumprida. O pecuarista disse que vai pegar o dinheiro e sair do Brasil. “Cansei de ser palhaço num País que só é bom para índio, sem-terra e político”, desabafou.
Há pouco mais de trinta anos, recém saído de experiências revolucionárias na AP (Ação Popular), cheguei ao Rio de Janeiro para me estabelecer profissionalmente e comecei a ouvir de colegas e pacientes uma cantilena que seria música para meus ouvidos, anos antes. Mas treinado na práxis marxista, desconfiei imediatamente que estava escutando pessoas que se deixavam docilmente doutrinar por idéias lindamente apresentadas num invólucro “humanista”, nas quais se atacava a propriedade privada como origem de todos os males. Para alguém como eu, treinado nas teses de Marx e Engels – cheguei a escrever um pequeno mas exaltado ensaio sobre o livro do último, acima citado – a identificação da fonte por trás do rótulo era fácil. Foi a época em que se dizia que os governos militares não passavam de governos de patrões e ricaços contra os interesses populares. Era época, também, em que a Igreja Católica, tradicional defensora da propriedade, era tomada de assalto pela Teologia da Escravidão e a CNB do B anunciava que sobre toda a propriedade – principalmente rural! – existe uma hipoteca social. Isto é, ninguém é dono de nada, não passa de um usufrutuário hipotecado não se sabe bem a quem, mas definido como “social”, quer dizer, a qualquer instância à qual os bispos da CNB do B atribuíssem tal autoridade. Tudo resultado da conferência de Medellín e do Concílio Vaticano II, sob o estigma do Tratado de Metz – no qual o Papa João XXIII, através do Cardeal Tisserant, se comprometia a não criticar o comunismo, com o duvidoso ganho da presença no Concílio de meia dúzia de padres russos ortodoxos, agentes da KGB.
Num País católico como o Brasil, tal “teologia” caiu como uma luva para os comunistas que passaram a contar com um poderoso aliado. A classe média, constituída por pessoas que na sua maioria ascenderam socialmente por seus próprios esforços, sempre foi suscetível aos sentimentos de culpa por esta ascensão – alvo fácil, portanto, para a pregação comunista. A penetração nos meios intelectuais, aí incluídos os profissionais de saúde mental, provocou uma imensa devastação em poucos anos, pois estes meios usavam de seu respeito profissional para aumentar tais sentimentos de culpa através de slogans como “não existe verdadeira liberdade enquanto houver miséria”, “liberdade só tem sentido se for coletiva, não individual”, “existe um bolo a dividir, do qual ‘os poderosos’ ficam com a maior parte” – como se a economia fosse um jogo de soma zero. Os governos militares, que assumiram em 64 para impedir que o Brasil se transformasse numa imensa Cuba, eram apresentados como uma ditadura dos ricos e poderosos contra os “despossuídos”, hoje chamados “excluídos”.
Como já escrevi anteriormente a essência do comunismo é a mentira. Em toda afirmação comunista existem três níveis. Num primeiro, uma mentira sedutora é apresentada. Num segundo, a verdade é exatamente o oposto da apresentada no primeiro. No nível mais profundo existe um sentimento muitas vezes totalmente inconsciente. No caso da propriedade este sentimento é a inveja, a incapacidade de tolerar que o outro adquira algo por seus próprios esforços e se eleve no sistema social acima dos vagabundos e/ou fracassados.
Uma história antiga define bem o que é a inveja: um sujeito invejoso de seu vizinho bem sucedido, encontra uma lâmpada mágica. Surge um gênio que lhe promete satisfazer um único desejo, com a condição de que o vizinho receba em dobro. Depois de muito pensar o cara pede que o gênio lhe fure um olho! Este é o verdadeiro sentimento de inveja: pouco me importa perder um olho se o danado bem sucedido perder os dois. Resultado? Cuba! Miséria total e absoluta conseguida pelo estímulo máximo à inveja coletiva! E é de lá que nossos dirigentes comunistas tiram sua inspiração.
Comunistas, sim! Não é possível mais esconder a verdade usando de eufemismos tipo fascismo, stalinismo, etc., como fazem nossos bem comportados jornalistas que se insurgem contra outras duas leis com as quais se pretende tapar a boca dos opositores: a do controle da imprensa e do audiovisual. Aqui também a propriedade privada está em jogo: não é o dono do cinema que sabe o que lhe dá mais lucro, nem os consumidores que decidem o que lhes interessa. Não, é o poderoso Estado opressor que decide o que é melhor para uns e outros. Alguém afirmou que é um absurdo que tenham sido colocadas 600 cópias do filme Spiderman, que assim impedia que as pessoas assistissem ao “saudável” filme brasileiro sobre Pelé. “Pelé é mais importante para o Brasil do que o homem Aranha!” E isto foi dito defendendo a diversificação! Impeça-se a diversificação e a livre escolha em nome exatamente da defesa da diversificação. Mais uma mentira deslavada daquelas citadas acima.
Com base em mentiras a fins – “preservação cultural”, proteção do patrimônio histórico”, etc – até prefeitinhos de meia tigela podem impunemente tombar imóveis sem indenização pelo valor de mercado aos proprietários.
Estão faltando Rangers! Mas como, se arma agora é proibida?