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Marco Rubio: O novo rumo da Política Externa dos EUA sob uma gestão Conservadora e Soberana

A indicação de Marco Rubio como Secretário de Estado dos Estados Unidos marca uma guinada significativa na política externa americana. Conhecido por sua postura anticomunista, conservadora e comprometida com os valores de liberdade e democracia, Rubio chega ao Departamento de Estado com uma agenda focada em conter regimes autoritários, reequilibrar a ordem global e restaurar a influência dos EUA, especialmente na América Latina e no Indo-Pacífico.

Marco Rubio: trajetória pessoal, profissional e política

Marco Antonio Rubio nasceu em 28 de maio de 1971, em Miami, Flórida, filho de imigrantes cubanos que fugiram para os Estados Unidos em 1956 para escapar da instabilidade política em Cuba. Sua origem humilde moldou uma forte ética de trabalho e uma perspectiva marcada pela gratidão à liberdade oferecida pelos EUA. Filho de um bartender e uma camareira, Rubio cresceu com a crença de que os Estados Unidos são uma força indispensável para a liberdade no mundo.

Formado em Ciência Política pela Universidade da Flórida em 1993 e em Direito pela Universidade de Miami em 1996, Rubio iniciou sua trajetória política em 1998, como comissário da cidade de West Miami. Em 1999, foi eleito para a Câmara dos Representantes da Flórida, onde se destacou ao lançar a “Agenda de 100 Ideias Inovadoras para o Futuro da Flórida,” que envolveu cidadãos na formulação de políticas públicas. Em 2006, alcançou o cargo de presidente da casa legislativa estadual, consolidando-se como uma figura em ascensão no Partido Republicano.

Em 2010, Rubio foi eleito senador pela Flórida, impulsionado pelo movimento Tea Party. No Senado, tornou-se uma das vozes mais influentes do partido, destacando-se por sua firme oposição a regimes autoritários, seu combate ao avanço da China e seu apoio a políticas de segurança nacional. Durante as primárias presidenciais republicanas de 2016, Rubio demonstrou habilidade como orador e articulador de políticas conservadoras, mesmo não vencendo a disputa. Após a campanha, voltou ao Senado e continuou liderando pautas relacionadas à política externa, como contenção de potências revisionistas e fortalecimento de alianças americanas.

No plano pessoal, Rubio é casado com Jeanette Dousdebes Rubio, ex-líder de torcida do Miami Dolphins, com quem tem quatro filhos. Católico praticante, ele frequentemente cita sua fé como uma fonte de inspiração para suas decisões políticas. Além de sua carreira no Senado, Rubio também é autor de livros que discutem o papel dos EUA no mundo e os desafios enfrentados pelas democracias modernas.

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Marco Rubio é autor de dois livros que refletem sua visão política e valores conservadores: “An American Son: A Memoir” (2012), uma autobiografia sobre sua trajetória como filho de imigrantes cubanos e político nos EUA, e “American Dreams: Restoring Economic Opportunity for Everyone” (2015), um manifesto focado na revitalização do sonho americano por meio de reformas econômicas e fortalecimento da classe média. Esses trabalhos consolidam sua posição como um articulador influente no Partido Republicano, destacando seu compromisso com o excepcionalismo americano e o combate a ameaças autoritárias. 

Embora não tenha vínculos formais com think tanks, Rubio mantém proximidade com instituições conservadoras como a Heritage Foundation e o American Enterprise Institute (AEI). Ele também interage esporadicamente com organizações como o Council on Foreign Relations (CFR) e participa de debates promovidos por essas entidades, muitas vezes como uma voz crítica às abordagens globalistas predominantes. Sua relação com grupos como o Carnegie Endowment for International Peace é limitada, dado seu foco em estratégias soberanistas e anticomunistas que frequentemente divergem das posturas globalistas defendidas por essas organizações. 

Sua trajetória combina a vivência como filho de imigrantes, uma experiência legislativa sólida e uma visão conservadora alinhada ao excepcionalismo americano. Essa bagagem molda sua abordagem no Departamento de Estado, onde ele pretende equilibrar pragmatismo estratégico com a defesa de valores universais de liberdade e democracia.

1. Eixos estratégicos da política de Rubio

1.1. Contenção de regimes autoritários

Rubio assume uma postura agressiva “hawk” contra os inimigos dos EUA, como China, Rússia, Irã e os regimes autoritários da América Latina. Sua política seguirá os princípios de contenção comunista inspirados na Doutrina Truman, combinados com o pragmatismo de “Paz pela Força,” de Reagan e Donald Trump. Ele vê a China como a maior ameaça estratégica ao Ocidente, e suas ações devem priorizar a redução da dependência econômica de Pequim, pressionando aliados e parceiros comerciais, inclusive na América Latina, a diversificar suas cadeias de suprimentos. Também buscará fortalecer alianças no Indo-Pacífico, consolidando o QUAD (EUA, Índia, Japão e Austrália) e o AUKUS, para reforçar a dissuasão militar contra Pequim, além de bloquear a influência tecnológica chinesa com restrições a empresas como Huawei e TikTok. 

A relação dos EUA com a Rússia sob Marco Rubio poderá adotar nuances estratégicas, com a possibilidade de uma postura menos beligerante visando enfraquecer a aliança Rússia-China, considerada a maior ameaça global. Esse ajuste permitiria isolar ainda mais Pequim, explorando divergências de interesses entre Moscou e Moscou, sem abrir mão da pressão sobre temas críticos como a guerra na Ucrânia. Rubio manterá sanções contra a Rússia, mas poderá buscar um equilíbrio que sirva a objetivos geopolíticos mais amplos, reduzindo o impacto da aliança sino-russa.

Além disso, Rubio deverá reforçar a centralidade dos EUA na OTAN, utilizando a Rússia como um exemplo do “urso louco” ou “ator maléfico que ameaça a estabilidade europeia e contra o qual apenas os Estados Unidos podem oferecer proteção efetiva. Essa retórica não apenas sustenta a dependência europeia, mas também pressiona os aliados da União Europeia a assumirem mais responsabilidade em defesa, aumentando seus orçamentos militares. Assim, Rubio poderá manter a supremacia americana na aliança ao mesmo tempo que redistribui recursos estratégicos para prioridades como o Indo-Pacífico, sem abrir mão da força dos EUA na contenção de ameaças globais.

Em relação ao Irã, a política de “pressão máxima” será retomada, com sanções mais duras e possíveis apoio às forças de oposição dentro do país. Ele também fortalecerá alianças regionais, especialmente com Israel e países árabes, para conter a influência iraniana no Oriente Médio. 

1.2. Fortalecimento de Alianças Estratégicas

Apesar de sua postura agressiva contra os adversários, Rubio deverá adotar um estilo conciliador “dove” com aliados-chave, como Israel, Argentina, Reino Unido, Austrália, Índia, Japão e Coreia do Sul. A relação com Israel será fortalecida por meio de cooperação militar e econômica, além da ampliação dos Acordos de Abraão, incentivando novos parceiros árabes a se juntarem. Na América Latina, Rubio apoiará líderes como Javier Milei (Argentina) e Nayib Bukele (El Salvador) para formar uma coalizão conservadora que contraponha as forças socialistas e comunistas na região. Líderes conservadores com possibilidade de poder como Jair Bolsonaro no Brasil; José Antonio Kast no Chile; Maria Fernanda Cabal ou Vicky Dávila na Colômbia; Maria Corina Machado (e Edmundo González) na Venezuela e Orlando Gutierrez Boronat e Rosa María Payá  em Cuba saem fortalecidos em suas posições. Assim com o Foro de Madrid que deverá ganhar um grande impulso.

Na Europa, Rubio poderá pressionar a União Europeia a defender a liberdade de expressão em plataformas como o X (antigo Twitter), ameaçando tarifas aduaneiras caso medidas de censura sejam adotadas. Essa estratégia reforça a ideia de uma política externa que combina pragmatismo e defesa de valores fundamentais, como a liberdade de expressão. 

1.3. América Latina com um peso nunca antes visto

A América Latina terá um papel central da política de Rubio, em uma estratégia que busca minar o poder do Foro de São Paulo e do Grupo de Puebla, enquanto reduz a influência chinesa e russa na região. Rubio deve adotar uma postura de confronto com os governos de esquerda de Lula da Silva e Claúdia Sheinbaum.

No caso brasileiro, a relação será impactada pela postura hostil de Lula, que rotulou Trump de “nazista,” e por Janja da Silva, que insultou Elon Musk. Além disso, Rubio pode impor restrições ao financiamento de políticas ambientalistas globalistas e atuar contra instituições brasileiras que censuram e perseguem opositores políticos. A possibilidade de revogação de vistos e a aplicação de sanções severas contra as autoridades brasileiras que atacam a democracia e o Estado de Direito do Brasil através de perseguições judiciais, pressões ilegais contra plataformas de redes sociais como X e Rumble, e assédio judicial contra jornalistas e políticos, poderá resultar em consequências e sanções sem precedentes para juízes e servidores públicos que estão violando a Constituição Brasileira enquanto dizem defende-la.

O México também deve sofrer mais pressões em temas migratórios e de combate ao crime organizado. E tanto Brasil quanto México poderão enfrentar pressões tarifárias e diplomáticas.

No caso da Colômbia, o governo de Gustavo Petro, devido à sua postura radical de extrema-esquerda, apoio à liberação de drogas e denúncias de corrupção envolvendo o filho do presidente, enfrentará uma relação difícil com Rubio. A política ambientalista xiita de Petro e seus insultos a Trump agravarão ainda mais as tensões bilaterais. Já em relação a regimes autoritários como Cuba, Venezuela e Nicarágua, Rubio intensificará sanções e explorará a fragilidade econômica de Cuba e a rejeição internacional ao regime de Maduro para promover mudanças. 

2. Conceitos fundamentais da política externa de Rubio

2.1. Hawk e Dove

Rubio será um hawk em relação a inimigos dos EUA, adotando uma postura firme e assertiva contra China, Irã e regimes autoritários. Ao mesmo tempo, deverá ser um dove com aliados estratégicos, promovendo parcerias baseadas na confiança e na cooperação, como com Israel, Argentina, Japão, Índia, Austrália, Reino Unido e países da União Europeia.

2.2. “Paz pela Força” e “Contenção Comunista” 

A política de Rubio seguirá a lógica de “Paz pela Força”, reforçando o poder militar e econômico dos EUA para garantir a estabilidade global e conter regimes autoritários. Sua visão remete à Doutrina Truman, que visava frear a expansão do comunismo, adaptada ao século XXI.  Essa doutrina foi feita pelo presidente americano Ronald Reagan e por Donald Trump em seu primeiro governo.

2.3. Dimensão dos valores: liberdade, democracia, anti wokeismo, anti socialismo e anti globalislimo

Na dimensão de valores, Marco Rubio deverá alinhar a política externa americana com princípios que ele considera essenciais para a preservação da ordem internacional e da força dos EUA. Serão valorizados pilares como liberdade, democracia, anti-wokeismo, anti-socialismo e anti-globalismo, com impacto direto nas prioridades diplomáticas, sociais, energéticas e outras. 

A liberdade será central para a gestão Rubio, reforçando a oposição a regimes autoritários e defendendo a liberdade de expressão, inclusive no âmbito digital, contra censuras promovidas por governos ou plataformas globalistas. Já a democracia será promovida como o sistema político ideal, especialmente no Hemisfério Ocidental, com pressão sobre países que adotam práticas autoritárias ou antidemocráticas, como Cuba, Venezuela e Nicarágua.  Apesar disso, países autoritários do Oriente Médio como Arábia Saudita ou Emirados Árabes Unidos deverão ser a exceção nesse caso, e deverá prevalecer um pragmatismo de aliança devido aos interesses americanos.

O anti-wokeismo refletirá uma postura de rejeição às pautas progressistas que, segundo Rubio, enfraquecem os valores fundamentais americanos, como a meritocracia e a liberdade individual. Nesse sentido, ele buscará combater a imposição de agendas culturais e sociais de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) que, em sua visão, têm gerado divisões internas e influenciado negativamente a política externa.  Essa postura ganha ainda mais força com o Secretário de Defesa,  Pete Hegseth, que é extremamente vocal nessa tema. Além de outros integrantes do governo que gerarão sinergia nessas pautas como Elon Musk e Vivek Ramaswamy que atuarão nesse mesmo sentido contra o “Deep State” enraizado na administração pública dos Estados Unidos.

O anti-socialismo reforçará o combate a qualquer expansão da influência de políticas econômicas socialistas no mundo. Rubio vê o socialismo como um sistema que alimenta regimes autoritários e destrói a liberdade econômica, especialmente na América Latina, onde se posicionará contra forças ligadas ao Foro de São Paulo e ao Grupo de Puebla. 

Por fim, o anti-globalismo será uma marca da gestão Rubio. Ele buscará reduzir o poder de instituições e movimentos globalistas que pressionam os EUA a adotar agendas que, em sua visão, comprometem a soberania nacional, como o ambientalismo extremo. Rubio lutará por uma política energética independente, confrontando as amarras de padrões ESG e o ambientalismo histérico representado por figuras como Greta Thunberg e artistas de Hollywood.

Essa mudança, no entanto, não acontecerá sem uma forte reação das forças globalistas, tanto dentro dos EUA quanto internacionalmente. Fundos de investimento, ONGs poderosas, artistas de Hollywood, líderes internacionais e a mídia mainstream farão pressão para que os EUA não abandonem políticas vinculadas ao Acordo de Paris ou padrões ESG. Essas forças tentarão vilanizar a política energética de Rubio como “retrógrada” e “irresponsável,” ignorando seu foco em crescimento econômico e autonomia estratégica. A resistência globalista buscará mobilizar figuras midiáticas e campanhas alarmistas, mas Rubio deverá contrapor essas narrativas com dados concretos sobre os benefícios de uma política energética independente e centrada nos interesses americanos.

2.3. Excepcionalismo Americano 

Rubio incorpora o idealismo do excepcionalismo americano, promovendo os valores de liberdade e democracia, especialmente no Hemisfério Ocidental e se baseara nos valores da sociedade “Judaico-Cristã Ocidental”, isso numa contraposição total à política externa de Barack Obama baseada em valores “descolonização” mesmo no país que é a maior potência do mundo. Ele endurecerá as relações com regimes autoritários, como Venezuela, Nicarágua e Cuba, e pressionará líderes globalistas que minem a liberdade em países democráticos, como Brasil e Colômbia. 

3. Desafios e oportunidades

3.1. Desafios

Rubio enfrentará desafios consideráveis. Um dos mais complexos será a dependência econômica de muitos países latino-americanos em relação à China, especialmente em infraestrutura e exportações. Para contrabalançar isso, ele terá que oferecer alternativas econômicas viáveis. Além disso, organizações como o Foro de São Paulo, o Grupo de Puebla e a Internacional Progressista trabalharão para sabotar sua política. No cenário interno, Rubio terá de lidar com a resistência do Deep State, setores da burocracia americana que tendem a boicotar administrações conservadoras. Ele também enfrentará uma mídia mainstream hostil, que tentará deslegitimar suas ações, e grandes fundações globalistas que se articularão para enfraquecê-lo. 

3.2. Oportunidades

Por outro lado, Rubio encontra oportunidades únicas. Há uma onda de líderes conservadores e soberanistas emergindo globalmente, como Javier Milei e Nayib Bukele, além da possibilidade de governos conservadores assumirem o poder em países como Colômbia, Chile e Brasil nos próximos anos. No caso da Venezuela, o consenso internacional contra Nicolás Maduro abre espaço para sanções mais duras e até mesmo uma intervenção militar de pequena escala, nos moldes da Operação Causa Justa no Panamá (1989), para apoiar o governo legítimo de Edmundo Gonzalez e María Corina Machado. Além disso, o regime cubano nunca esteve tão enfraquecido, criando uma oportunidade histórica para pressionar pela queda da ditadura. No Oriente Médio, Rubio poderá retomar e expandir os Acordos de Abraão, fortalecendo a paz e consolidando o papel dos EUA como mediador estratégico na região. 

4. Conclusão

Marco Rubio chega ao Departamento de Estado como um defensor firme da liberdade e da democracia, com um plano ambicioso para restaurar a influência americana no mundo. Sua gestão buscará fortalecer alianças estratégicas, conter regimes autoritários e promover uma ordem global mais estável, baseada no equilíbrio entre força e cooperação. 

Apesar dos desafios representados por atores como a China, o Foro de São Paulo e o Deep State, Rubio encontra um momento oportuno, com a ascensão de forças conservadoras em várias partes do mundo e a crescente pressão contra regimes autoritários. Se for bem-sucedido, Rubio poderá não apenas consolidar o legado de Trump como arquiteto de uma política externa soberanista, mas também redesenhar o papel dos EUA como a principal força em defesa da liberdade no século XXI.

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