Kamala Harris está prestes a definir o seu vice, porém, a aversão à religião na militância democrata já começa a minar o escolhido.

Hoje entenderemos quem é o favorito para ocupar o cargo de Vice na possível chapa presidencial democrata e como a tênue retroalimentação revolucionária democrata pode fragmentar ainda mais o cenário.

Apesar de ainda não ter assegurado totalmente a sua candidatura no partido democrata, Kamala Harris está trabalhando o mais rápido possível em sua candidatura. Diversos nomes começam a surgir como o provável Vice de sua chapa, porém, o favorito da própria Kamala é Josh Shapiro, governador da Pensilvânia.

Segundo pessoas próximas à campanha e da própria mídia pró-democrata, a escolha será problemática, pois, Josh Shapiro, é muito “pró-Israel” para ser escolhido como companheiro de chapa de Kamala Harris, afirmou a colunista Michelle Goldberg do New York Times. Shapiro, tem 51 anos e é um judeu ortodoxo e ex-procurador-geral da Pensilvânia.

Shapiro, também tem sido um defensor ativo de Israel, denunciou o antissemitismo nos campus universitários dos EUA e apoiou empresas israelenses visadas por manifestantes pró-palestinos. Justamente neste ponto está o embate, pois Kamala, a provável candidata democrata, é vista de forma mais positiva por alguns progressistas de seu partido, já que está mais disposta a criticar Israel por sua resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro do que o próprio Joe Biden. Vale lembrar que, nesta semana, Kamala se recusou a presidir a sessão conjunta do congresso americano, onde Benjamin Netanyahu discursou. Como presidente do Senado americano, caberia a ela esta posição. Esta atitude de Kamala cria uma zona de tensão em qual seria a sua posição em uma eventual administração na Casa Branca.

Goldeberg, a referida colunista de opinião do jornal de esquerda, alertou que o apoio de Shapiro a Israel pode levar a problemas no Partido Democrata. Ela afirmou que o “caos” que já seria esperado na convenção democrata sobre o apoio de Biden a Israel, diminui drasticamente com a possibilidade de Kamala ser a candidata: “Muitas dessas tensões diminuíram, em parte porque os eleitores irritados com a política de Biden para Israel estão mais confortáveis com Harris, que é mais simpático aos palestinos. Escolher Shapiro, o qual é ardentemente pró-Israel e franco em sua condenação dos recentes protestos no campus, abriria essas feridas novamente”.

Enquanto isso, ao discutir se Kamala poderia selecionar Shapiro como seu companheiro de chapa, o âncora da CNN John King apontou sua religião quando questionado sobre os prós e contras de colocá-lo na chapa: “Ele é um governador de primeiro mandato, ele é judeu, pode haver alguns riscos em colocá-lo na chapa, mas certamente alguns de nossos eleitores aqui na Pensilvânia disseram: ‘Ei, nós gostamos do governador Shapiro, dê uma olhada nele’”, disse King.

O comentário foi rapidamente refutado pelo congressista democrata Ro Khanna, que disse que tal pensamento não tem lugar na América: “Josh Shapiro é extremamente respeitado por pessoas de todas as religiões nos subúrbios, rurais e metropolitanos da América e pode vencer em uma chapa nacional”, escreveu em suas redes sociais.

O Partido Democrata recebeu um sinal de alerta sobre as divisões em relação à política de Israel do governo Biden durante as primárias de Michigan.

No estado decisivo vital, que os democratas precisam manter para vencer a eleição, mais de 100.000 eleitores selecionaram a opção “não comprometido”, o suficiente para obter dois delegados.

Biden foi derrotado pelo voto “não comprometido” em Dearborn e Hamtramck, onde os árabes-americanos representam quase metade da população.

John Mark Hansen, professor de ciência política da Universidade de Chicago, disse que não acha que seria um “problema” para Harris se ela escolhesse Shapiro como seu companheiro de chapa.

“Esta é uma política em que provavelmente seria útil ser mais ambíguo sobre qual seria a política do governo em relação à Gaza em um governo Harris”, disse ele ao The Telegraph.

Ele acrescentou que esperava que a “esquerda anti-Israel decidisse tapar o nariz e votar [nos democratas], mesmo quando a chapa principal era Biden”.

Shapiro e Mark Kelly, o senador do Arizona, são os principais candidatos a serem selecionados como companheiros de chapa de Harris, disse uma fonte à ABC News.

Shapiro seria o primeiro candidato judeu à vice-presidência desde a candidatura malsucedida de Joe Lieberman com Al Gore em 2000, se selecionado.

Kelly, de 60 anos, também tem ligações com a comunidade judaica. Sua esposa, a ex-representante dos EUA Gabby Giffords, é judia. O casal se casou em 2007 com a rabina Stephanie Aaron, da Congregação Temple Chaverim em Tucson, Arizona.

Outros possíveis nomes que estão sendo ventilados como Vice de Kamala são:

Andy Beshear

Governador de Kentucky, foi reeleito em novembro do ano passado, defendendo o direito ao aborto contra um candidato apoiado por Trump. Apesar disso, o ex-presidente republicano teve uma vantagem significativa neste Estado em 2016 e 2020.

No entanto, a figura moderada de Beshear poderia auxiliar os democratas a conquistar votos em outros Estados, onde o apoio da classe média e da classe trabalhadora branca é crucial, como Pensilvânia e Michigan.

Roy Cooper

Governador da Carolina do Norte, também lidera um Swing-State, onde Biden perdeu para Trump por uma margem de apenas um ponto percentual em 2020.

Eleito para cargos públicos na Costa Leste desde 1986, Cooper, é conhecido por nunca perder uma eleição. Sua presença na chapa poderia atrair os centristas para o partido.

A proteção do direito ao aborto, uma de suas principais bandeiras, é um tema crucial nesta eleição.

Pete Buttigieg

Secretário de Transportes dos EUA, construiu uma sólida base de apoio entre os eleitores do Partido Democrata durante sua campanha primária de 2020 contra Biden e Kamala, vencendo a primeira convenção partidária do país em Iowa.

Considerado um defensor polido das políticas de Biden, Buttigieg apoiou o presidente sendo posteriormente escolhido para integrar o gabinete do novo governo em 2021. O ex-prefeito de South Bend, Indiana, também possui fortes laços com Michigan, um Estado importante para os democratas em novembro.

J.B. Pritzker

Governador bilionário de Illinois, demonstrou ser uma força significativa no partido ao usar seus próprios recursos financeiros para apoiar a campanha de Biden e organizar a Convenção Nacional Democrata em Chicago no próximo mês.

Na segunda-feira, Pritzker manifestou seu apoio a Kamala, afirmando que conversaram e que acredita ser importante para os EUA eleger uma mulher como presidente.

Gretchen Whitmer

governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, tem uma base sólida no Estado, o qual é disputado acirradamente, e chamou a atenção de Biden em 2020, sendo considerada uma possível companheira de chapa antes de Biden escolher Kamala. Ela foi uma das principais apoiadoras e porta-vozes da candidatura de reeleição do presidente.

Uma chapa Kamala-Whitmer representaria a primeira candidatura exclusivamente feminina de um grande partido político dos EUA, o que poderia ser um atrativo adicional em uma campanha onde o aborto tem sido utilizado como bandeira eleitoral pelo partido democrata.