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O que se pretende com a educação sexual de crianças e adolescentes?

“Thus, a good man, though a slave, is free, but a wicked man, though a king, is a slave. For he serves not one man alone, but what is worse, as many masters as he has vices” — Santo Agostinho in Civitates Dei

“…man, no longer sacred, was a machine whose engine ran on passion. From there (we can) understand that (…) the man who controlled passions, controlled man” — E. Michael Jones in Libido Dominandi Sexual Liberation and Political Control

Terminei o primeiro artigo desta série dizendo: “A má influência do feminismo ativista e gay tenta feminizar os homens e retirar deles sua função específica: de chefe da família”. Esta frase tornou-se anátema, senão pecado mortal, no mundo feminista radical que vem se instalando no mundo.

Neste segundo artigo analisarei as nefastas consequências da educação sexual na educação e no ensino de crianças e adolescentes.

Nos últimos anos do século XX interesses inconfessáveis, mas muito bem conhecidos, fizeram recrudescer a ideia falaciosa de que as crianças precisam de educação sexual. A pergunta crucial é: por quê? Ora, se a humanidade não tivesse aprendido por si mesma, o mundo não teria sido povoado, pois sexo é fundamentalmente procriação. “Crescei e multiplicai-vos” bastou, não foi necessário criar pedagogos, “especialistas” e sexólogos ou o que mais seja para que, começando com um casal, o mundo fosse povoado. Por que então alguns se arvoram em professores de algo tão básico como comer ou dormir?

A premissa é de que a criança quer e precisa de estimulação e atividade sexual desde a mais tenra idade. Sem nenhuma justificativa científica esta ideia é apresentada como uma lei da natureza, contradizendo todos os estudos do desenvolvimento psicológico e hormonal.

A resposta é óbvia: ninguém está sinceramente interessado em educação sexual, esta é a mais deslavada mentira! A ideia inconfessável é intervir nos instintos básicos das crianças para impedir que se desenvolvam normalmente seguindo as etapas bio-psicológicas próprias. O desenvolvimento tem leis próprias e o melhor que os adultos podem fazer é não atrapalhar!

A educação sexual é parte essencial da ideologia de gênero. Não se pretende educar, mas destruir — ou, como alguns preferem, desconstruir — o desenvolvimento infanto-juvenil normal introduzindo simultaneamente noções perversas de sexualidade. Já se disse: “é de pequenino que se torce o pepino”, pois a mente infantil ainda em evolução é mais maleável que a do adulto, embora esta maleabilidade não seja tão grande quanto se pensa. Para evitar o desenvolvimento normal é necessário afastar a criança da família o quanto antes e atribuir à escola o poder de educar e não apenas ensinar.

A primeira tarefa dos revolucionários é inserir uma cunha entre a biologia e a psicologia. Esta última é escrava da primeira. Ao criar uma falsa autonomia da psicologia, separando-se sexo de gênero, imposição biológica de desejos, cria-se na criança um estado confusional extremamente lesivo. Quanto mais cedo a interferência, pior.

O objetivo mais profundo é o de acabar com a noção de família tal como se desenvolveu no curso de milênios: pai, mãe e seus filhos, o núcleo onde reside o verdadeiro poder nas sociedades livres. A estrutura familiar bem desenvolvida e integrada é a maior fonte de defesa contra a tirania do controle estatal, o verdadeiro objetivo final por trás da ideologia de gênero: o fim da liberdade humana e o controle político-ideológico.

Nos novos tempos que pretendem impingir, mãe e pai perdem todo sentido, pois invocam o sexo biológico, segundo eles apenas uma “construção social” que nega a liberdade das pessoas escolherem seu “gênero”. No mundo “genérico” que inunda o ocidente “o sexo de cada pessoa independe da biologia, e num recém-nascido não pode ser “injustamente” determinado por médicos e pais que apenas examinam a genitália visível”. Várias escolas, inclusive Católicas e Protestantes, estão abolindo os termos mãe e pai e os substituindo pelos politicamente corretos “Genitor 1” e “Genitor 2”.

A mente infantil não é tabula rasa. Ao contrário, mesmo antes do nascimento a vida mental intrauterina é extremamente complexa, como demonstram os trabalhos de Alessandra Piontelli entre outros.  A genética pré determina as fantasias e sonhos que já ocorrem na vida antes do nascimento. A criança já nasce com preconcepções do mundo, principalmente de seu próprio corpo e das necessidades básicas, entre elas o sexo. É uma mentira do mundo que chamam de pós-moderno (seja lá o que querem dizer com isto!) que a estrutura cromossômica (XX ou XY) não determina inexoravelmente a biologia e, ipso facto, a psicologia.

Bebês já nascem fazendo movimentos com os lábios que indicam que sabem exatamente que ali deverá entrar um mamilo para alimentá-lo. Assim como todas as funções básicas, incluindo o conhecimento precário dos órgãos genitais que caracterizam seu sexo. É fundamental que encontre o que Heinz Hartmann denominou average expectable environment (Ego Psyhology and the Problem of Adaptation, Int’l Universities Press, 1958) — a expectativa de um ambiente medianamente razoável para seu desenvolvimento. Este ambiente insubstituível é a família.

Melanie Phillips referiu: “Nós despojamos a paternidade do seu significado removendo o vínculo com a biologia, (…) e proibindo referências a mães e pais. Despojamos os homens e as mulheres do significado com base em que, alguns dias as pessoas pensariam que são um e noutros eles poderiam pensar que são o outro. E o que eles disseram que eram, em qualquer momento, é o que realmente são. Para gerenciar isso, confundimos deliberadamente sexo e gênero. Isso porque o sexo é biologia e a biologia é fixa, enquanto o gênero, este sim, é uma construção social e, portanto, podemos desconstruí-la e reconstruí-la (à vontade). Por isto a identidade sexual deve ser negada e transformada em gênero” (The deconstruction of humanity).

Para os ideólogos de gênero é exatamente o oposto: a identidade sexual é socialmente construída e significa o aprisionamento do “verdadeiro eu” — que pode ter um gênero diverso do biológico — a esta imposição social. Segundo os Princípios de Yogiakarta, documento básico da ideologia de gênero, este é “a profundamente sentida experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos”.

Na realidade, gênero é apenas uma qualidade gramatical, nada tendo a ver com seres humanos a não ser enquanto personagens da literatura. Um copo é do gênero masculino, uma mesa é do gênero feminino. Mas isto basta para definir seres humanos concretos? É claro que não, mas serve para satisfazer os desejos ligados aos instintos mais primitivos de poder ser homem, mulher ou qualquer outra coisa — ou nenhuma — ao sabor dos desejos. Este desejo faz parte da necessidade infantil de sentimento de onipotência para enfrentar sua real fragilidade e necessidade de amparo. Permanecendo na mente do adulto configura um delírio psicótico, uma vida totalmente fora da realidade.

Esta escravização aos desejos foi muito bem explicitada pelo Cardeal Carlo Caffarra quando advertiu sobre a estratégia “d’O Grande Inquisidor, de Dostoievsky, que diz a Cristo: ‘Você dá a eles liberdade eu dou-lhes pão. Eles me seguirão’. A estratégia é clara: dominar o homem formando um pacto com um de seus instintos básicos. O novo Grande Inquisidor não mudou a estratégia. Ele diz a Cristo: ‘Você promete regozijo no prudente, íntegro e casto exercício da sexualidade, eu prometo o gozo desregrado. Você verá que eles me seguirão’. O novo Inquisidor escraviza através da ilusão do prazer sexual completamente livre de regras”. Caffarra considera “que o mundo está tomado por ‘Uma ideologia global alimentada por uma liberdade “insana” e “literalmente louca” (que) está tentando destruir a “última barreira” que preserva a humanidade de perder o significado de ser “humano”, a saber, a “natureza sexual da pessoa humana na sua dualidade de homem e mulher’. (O Ataque Final à Criação: Fim Da Dualidade Homem/Mulher  — as ênfases são minhas).

Há pouco mais de um século Sigmund Freud escandalizou Viena e o mundo ao demonstrar que as crianças têm uma vida sexual intensa no reino da fantasia. Percebeu que as “neuroses” são resultado da repressão dos impulsos sexuais e das fantasias a eles ligadas. Porém, jamais disse, como muitos divulgam, que não deveria haver repressão. Pelo contrário, já desde o início afirmou que sem a repressão dos instintos básicos não haveria crescimento satisfatório e muito menos civilização. Principalmente porque os instintos básicos incluem também os impulsos destrutivos. Nunca Freud supôs que sexo infantil é algo como sexo genital. É esta confusão que escandaliza ainda hoje aqueles que querem ver na criança a ingenuidade paradisíaca. Sexo (Eros) é tudo que une, que evolui, a tendência à vida. Tânatos é a tendência à destruição, à desunião e à morte.

É exatamente por isto que é possível intervir de forma predatória nos impulsos primitivos. Se eles não existissem como seria possível perverte-los? Pois é disto que se trata: impor a perversão como nova norma moral! Este é o núcleo básico da ideologia de gênero: por Eros a serviço de Tânatos. É disto que trata o Grande Inquisidor na forma de pedagogos, psicopedagogos e “especialistas” em educação que inventaram a falsa necessidade de “educação sexual”: intervir malignamente no desenvolvimento normal, explorando Eros e Tânatos perversamente.

Na mesma abordagem sobre o desenvolvimento infantil, Freud percebeu que lá pelos 4 ou 5 anos há uma total repressão destas fantasias, instalando-se um período que denominou fase de latência, quando a libido (a força instintiva) se separa das fantasias sexuais e se dirige ao mundo apegando-se à curiosidade, o que possibilita o aprendizado. É necessário enfatizar que falo de repressão interna, um mecanismo que nasce conosco e independente de qualquer atitude externa. Este período se desenrola até o início da puberdade quando as características sexuais secundárias se desenvolvem. A endocrinologia posteriormente confirmou a existência de uma fase de latência hormonal, embora começando antes da idade determinada por Freud: há uma diminuição dos hormônios sexuais (testosterona, nos meninos, e estrógenos, nas meninas) que voltarão a se intensificar na puberdade. É nesta fase que as crianças começam a escola e tal como andarilhos no deserto estão sedentas de conhecimento. Absorvem tudo que lhes é fornecido sem critérios de valor, a não ser aqueles que encontram — quando encontram — no lar.

É então que os Grandes Inquisidores maldosamente, sabendo que operam em terreno fértil, introduzem a “educação sexual” através da pornografia em suas diversas manifestações.

Mas uma criança que não é precocemente sexualizada possui um natural sentimento de vergonha que a protege de intrusões e atividades sexuais. Os limites impostos por este sentimento natural de vergonha só serão ultrapassados no futuro quando, já adulto encontra uma relação amorosa heterossexual e respeitosa, quando já existe o pleno amor no qual a intimidade sexual é apenas uma manifestação desejável e prazerosa para ambos.

O que a ideologia de gênero procura modificar através do ensino da falsa “opção sexual”, assim definida (Yogiakarta): “Compreendemos orientação sexual como uma referência à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas”.

É exatamente por isto que a perversão tem que começar já antes do período escolar. Crianças muito pequenas são estimuladas ao toque físico, à masturbação, a perder a vergonha de falar abertamente sobre sexo e ideia “meu corpo me pertence”. Nas brincadeiras infantis que já têm caráter sexual primitivo (brincar de médico, p. ex.) e que são “escondidas” pela vergonha, se introduzem adultos que as pervertem dizendo que isto é normal e não precisam ter vergonha. É inevitável que esta intervenção ocorra por parte de adultos com tendências à pedofilia, quando não plenamente pedófilos. Ainda segundo Freud as experiências de sedução externas podem causar uma ruptura da fase de latência, ou mesmo sua extinção.

As crianças tendem a se identificar com os adultos que representam autoridade. Sendo estimuladas na escola a fazer o que é proibido em casa, entram em dissonância cognitiva que podem fazê-la seguir a sedução do Grande Inquisidor: o estímulo ao prazer maior no momento. Isto leva à perda do bem mais precioso da vida: o amor.

Diretores de uma fundação para crianças e adolescentes na Alemanha, Bernd Siggelkow & Wolfgang Büscher publicaram um livro cujo título já diz tudo: a Tragédia Sexual Alemã: Quando as Crianças não mais aprendem o que é o amor (Deutschslands sexuelle Tragödie: Wenn Kinder nicht mehr lernen was Liebe ist).

O verdadeiro amor que não é escravo dos instintos, mas os domina naturalmente, sem imposição, mas pelo reconhecimento da dignidade própria e do outro. Isto só pode ser obtido no seio da tão odiada família.

Já conquistados na infância os adolescentes e adultos, impedidos do desenvolvimento psicossexual normal serão infantilizados, como desejaram os grandes inquisidores, que precisam de uma humanidade facilmente controlável:
“Ensinaremos que a felicidade da infância é a mais deliciosa. (…) Nós até permitiremos que eles pequem, pois são fracos, e por causa dessa concessão eles vão professar um amor infantil por nós. E eles nos considerarão benfeitores por verem que somos responsáveis por seus pecados. E nunca mais terão segredos para nós”.

Este o destino de nossos filhos e netos se a ideologia de gênero, que já penetrou nos cursos de pedagogia e nos consultórios e nas associações e conselhos médicos, psicológicos, psicanalíticos, não for impedida urgentemente de prosseguir sua nefasta influência.

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