Se a intenção de Petro era assumir a liderança do discurso anti-imperialista ultrapassado na região, tudo o que ele conseguiu foi colocar a Colômbia em uma bandeja de prata para Trump mostrar do que os Estados Unidos são capazes. O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia finalmente considerou o impasse “superado”, depois de “aceitar todos os termos” da Casa Branca.
Depois de um domingo abalado pela desnecessária crise diplomática com os Estados Unidos criada pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, o governo de Donald Trump comemora o fato de ter destituído um líder latino-americano que tentava impedir sua política de imigração, o que, por sua vez, serve de lição para o restante dos países da região, de olho em outros líderes de esquerda, como Claudia Sheinbaum, no México, ou Xiomara Castro, em Honduras, fundamentais para garantir o retorno de migrantes indocumentados deportados.
Conheça a nova obra de Paulo Henrique Araújo: “Foro de São Paulo e a Pátria Grande”, prefaciada pelo Ex-chanceler Ernesto Araújo. Compreenda como a criação, atuação e evolução do Foro de São Paulo tem impulsionado a ideia revolucionária da Pátria Grande, o projeto de um bloco geopolítico que visa a unificação da América Latina.
A arrogância de Petro durou menos de 24 horas, e ele acabou aceitando os termos de seu colega americano, disse a Casa Branca em um comunicado. “O governo da Colômbia aceitou todos os termos do presidente Trump, incluindo a recepção irrestrita de todos os colombianos ilegais devolvidos pelos Estados Unidos, inclusive em aeronaves militares dos EUA, sem limitação ou atraso”, disse a Casa Branca em um comunicado.
O governo dos EUA acrescenta que as sanções e tarifas anunciadas para os produtos colombianos “são mantidas em reserva e não serão assinadas a menos que a Colômbia viole o acordo”. E com relação aos vistos revogados, controles de imigração mais rígidos e procedimentos restritos pelo Departamento de Estado, a Casa Branca especifica que eles permanecerão em vigor até que o primeiro voo com colombianos deportados seja recebido. “Os eventos de hoje deixaram claro para o mundo que os Estados Unidos mais uma vez se fizeram respeitar”.
The Government of Colombia has agreed to all of President Trump’s terms pic.twitter.com/mQocusSGOC
— Karoline Leavitt (@PressSec) January 27, 2025
Da retórica política à realidade
Apesar do claro triunfo obtido pela administração Trump, o governo colombiano tentou – como era de se esperar – vender um discurso político para sua base para ocultar a enorme falta de jeito diplomático que é reduzida a um show ridículo para fins eleitorais que está afetando os colombianos que tinham uma entrevista agendada esta semana na embaixada dos EUA para processar um visto e gerou um medo natural nos mercados que é evidente no preço do dólar, que nesta segunda-feira é cotado a 60 pesos acima da média do dia anterior.
“Continuaremos a receber os colombianos que retornam como deportados, garantindo-lhes condições dignas, como cidadãos com direitos”, publicou o Ministério das Relações Exteriores do governo de Petro em um comunicado no qual acrescentou que o ministro das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo, e o embaixador Daniel García-Peña viajarão a Washington para ‘realizar reuniões de alto nível para dar seguimento aos acordos’. Dessa forma, o governo colombiano anunciou que “superou o impasse” com o governo dos EUA.
Comunicado oficial pic.twitter.com/VlTD49lsQs
— Cancillería Colombia (@CancilleriaCol) January 27, 2025
Poucas horas antes, Gustavo Petro havia enviado uma mensagem desafiadora em suas redes sociais, carregada de retórica racial e ressentimentos históricos, dando a entender que não cederia em sua posição devido à sua autoconfessada teimosia. “Faça-me presidente e as Américas e a humanidade responderão”, disse Petro ao seu homólogo norte-americano, Donald Trump, a quem ameaçou impor tarifas sobre produtos dos EUA, uma medida tão ridícula quanto ineficaz como tentativa de exercer pressão sobre Washington, dadas as enormes diferenças no tamanho das economias dos dois países.
Os EUA mudam de embaixador
Em meio a toda essa controvérsia desnecessária criada pela decisão caprichosa e contraditória de Gustavo Petro de impedir que os voos dos EUA que transportavam colombianos deportados aterrissassem no domingo, alegando “dignidade”, o embaixador dos EUA na Colômbia, Francisco Palmieri, foi removido de seu cargo. Embora tenha sido relatado que essa foi uma decisão tomada anteriormente pelo novo governo Trump para nomear um funcionário mais alinhado com a linha dura do novo governo, não parece coincidência que a remoção tenha coincidido com a turbulência diplomática que aumentou as tensões entre os dois países. Por sua vez, Petro aproveitou para elogiar o embaixador que deixava o cargo e – sem abandonar sua retórica ideológica servil às ditaduras de Cuba e Venezuela – baixou o tom de seu confronto com a maior potência mundial.
Finalmente, o líder colombiano entendeu (ou foi levado a entender) que precisava escolher melhor suas batalhas. Se a intenção de Petro era assumir a liderança do ultrapassado discurso anti-imperialista na região, a única coisa que conseguiu foi colocar a Colômbia em uma bandeja de prata para Trump mostrar do que os Estados Unidos são capazes e, assim, acabar servindo de lição para o restante dos líderes que, por razões ideológicas, tentam atrapalhar os planos e interesses do líder republicano.