Quem estuda e busca entender a realidade se esforça por encontrar uma unidade na existência, um sentido naquilo que vê.
No entanto, a realidade apresenta, constantemente, elementos complexos, às vezes contraditórios e, por vezes até obscuros.
Na ânsia de unidade, é comum a pessoa tentar enxergar sentido naquilo que, em uma primeira vista, não revela sentido algum. O complexo ela trata como simples, o contraditório como perfeitamente coerente e o obscuro como se fosse claro.
Ao forçar simplicidade, coerência e clareza ao que não tem essas características, a pessoa acaba tentando encaixar a realidade às suas teorias, distorcendo sua percepção dela.
Boa parte das ideologias surgiram exatamente dessa necessidade de apresentar uma teoria que fosse absolutamente lógica e coerente, interpretando a realidade não de acordo como a realidade se apresenta, mas de maneira a fazê-la harmoniosa com a teoria. Não é por acaso que as ideologias causaram (e continuam causando) tantas mazelas no mundo. Já que o mundo não aceita suas teorias, tentam fazer o mundo aceitá-las à força.
Não podemos esquecer que muitas ideologias surgiram exatamente como filosofias, ou seja, como propostas de investigação da realidade. Diziam estar comunicando aquilo que elas captaram da realidade, quando, na verdade, estavam mesmo substituindo-a por outra artificial e fictícia.
Uma mente filosófica não pode cair no erro ideológico, não pode forçar versões da existência que não sejam fiéis aquilo que a existência revela.
Uma mente filosófica, antes de apresentar qualquer teoria sobre a realidade, deve se preocupar em captá-la, procurar entendê-la e, somente a partir disso, esforçar-se por captar o seu sentido.
O certo é que uma mente filosófica é escrava da realidade, serva da verdade. E o papel do servo não é dar ordens ao seu senhor, nem dizer quem ele é, mas simplesmente ouvi-lo e servi-lo.